Capítulo 36

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Não reparei o tempo que passei na estrada, meus pensamentos estavam soltos, de repente eu estava estacionando à frente da sorveteria onde Meg trabalhava. Não era a sorveteria que eu queria, o que eu precisava ficava do outro lado da rua, por meio às árvores. Cansada e sonolenta, saí do carro e caminhei até lá. O cheiro de mar me invadiu e me fez sorrir, como sempre. Toda vez que eu voltava para aquela cidade, esse era o primeiro lugar pra onde eu ia. Depois daquele tempo morando ali, o penhasco ainda era o meu lugar de paz e porto seguro.

Isaac estava ali, deitado no chão, olhando as nuvens. Aproximei-me dele e ele sorriu, depositei um breve beijo em seus lábios e sorri.

- Oi – falei – Não devia estar no churrasco?

- Estava te esperando. Sabia que viria pra cá – ele disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha e acariciando meu rosto. – Como foi lá?

Soltei um suspiro, aconcheguei-me em seus braços, deitando a cabeça em seu peito, fechei os olhos e respondi:

- Foi bom, melhor ainda estar de volta.

- E a prova?

- Foi boa – dei um leve sorriso.

- Ótimo – ele beijou minha cabeça – deveríamos ir então.

Levantamos, contra minha vontade e eu dirigi até minha casa. Tomei um banho, troquei de roupa, escovei os dentes e me olhei no espelho. Meu corpo estava cansado, mas eu não parecia cansada, uma alegria muito estranha crescia dentro de mim e parecia me dar forças. Sorri para mim mesma e saí de casa com Isaac.

A casa do prefeito estava bem decorada, havia crianças correndo por todo o gramado e o resto das pessoas estava sentado em mesas, conversando e rindo. Avistamos nosso grupo em uma das mesas e nos dirigimos até eles.

- Olha quem voltou! – Tyler gritou e levantou-se para me abraçar.

- Oi mutante – sorri e o abracei.

- Como foi lá? Tudo certo? – ele sussurrou em meu ouvido.

- Tudo certo.

Ele piscou para mim e voltou a sentar.

- Vamos pegar algo pra você beber – Meg e Sarah se levantaram e me acompanharam até a parte de dentro da casa.

Garçons corriam de um lado para o outro, e eu estava espantada, nunca havia visto um churrasco daqueles.

- Kaya – ouvi a voz de Daniel me chamar, e me virei para vê-lo – achei que você não vinha! Que bom que veio.

- Eu disse que vinha, então... – dei de ombros sorrindo.

- Fique à vontade – ele sorriu, e eu esperava que ele saísse, mas continuou ali, me olhando.

- Dan?

- Você continua linda – ele riu – achei que depois de um tempo sem te ver você não estaria mais tão bonita.

Eu não sabia o que dizer, então fiquei apenas olhando pra ele.

- Não me olhe assim – ele sorriu e segurou minha mão – está tudo bem.

- Está? – perguntei.

- Sim. Algumas feridas demoram um bom tempo para cicatrizarem, mas as coisas acontecem mais rápido quando temos ajuda – ele sorriu e olhou rapidamente na direção de Meg, que estava num canto com Sarah, conversando – Não se preocupe comigo.

- Você vai conseguir me perdoar?

Ele sorriu docemente e se aproximou de mim, me deu um abraço apertado e depois beijou minha cabeça.

- Eu já te perdoei – sussurrou, sorriu novamente e saiu.

Caminhei lentamente até Meg e Sarah, pensando em algumas coisas, lembrando de outras.

- Sabe – eu disse para as duas – lembrei aqui agora que quando briguei com Meg ela estava tentando me dizer algo sobre um garoto que estava namorando e sobre como ela gostava dele.

- O quê? – Meg sorriu.

- E agora, Daniel olhou pra ela de um jeito que eu pude jurar...

Ela não me deixou terminar a frase, e rindo, tapou minha boca.

- Sua vaca! – gritei por baixo da mão dela e depois tirei a mão – Porque não me contou?

- Porque eu não queria que tudo ficasse estranho – ela disse, sem graça.

Eu caí na gargalhada junto com Sarah, e ela ficou vermelha.

- Meg, tudo está estranho independente disso. Vocês estão juntos?

- Não – ela suspirou – ele ainda está... Você sabe. Mas ele gosta de mim – ela deu um largo sorriso – e temos conversado.

- O que você acha? – perguntei a Sarah

- Aposto que sai casório – ela me olhou e piscou.

- Calma aí – Meg reclamou.

- Não sei... – sorri pra Sarah – Acho que Meg é meio solta pra isso.

- Ei! – ela deu um tapa em cada uma e riu – Não tirem sarro da minha situação.

- Estou feliz por você, Meg – dei um abraço nela – gosta mesmo dele, não é?

- Demorei pra entender isso, mas sim, gosto muito dele.

- Ótimo. É só não ser eu e vai dar tudo certo – falei e nós rimos.

De volta à nossa mesa, sentamos, conversamos e comemos muito, afinal de contas, era um churrasco. Dançamos um pouco também e logo depois eu e Isaac nos afastamos de todos e fomos caminhar pelo jardim.

- Como está sua mãe? – perguntei.

- Hoje ela está bem. – ele sorriu

- Está tomando os remédios?

- Está – ele apertou minha mão.

- Isaac – eu disse, e ele me olhou – eu sei que você não quer falar sobre isso agora mas...

- Eu quero viajar pelo mundo – ele me interrompeu – eu já te falei isso, esse é o meu sonho. Conhecer o máximo de países e culturas que eu puder. Ver o mundo, ver pessoas. Experimentar, viver. Sair daqui. Você quer ser médica no exército. Acha que seu sonho é maior que o meu?

- Isaac, aquilo que eu disse naquele dia... Foi idiotice.

Paramos de andar e ficamos frente a frente. Estávamos de mãos dadas, Isaac me olhava com seu olhar penetrante e sério.

- Eu não pediria pra você desistir do seu sonho – ele disse.

- Eu não pediria pra você desistir do seu. O que faremos?

- Esperamos o resultado do seu teste.

- Não seria melhor já pensarmos nisso?

- Se formos falar nisso, vamos brigar, e eu to afim de curtir você, não brigar.

- Ah é? – dei um sorriso de canto e apertei os olhos – curtir como?

Ele sorriu pra mim, seus olhos voltando a serem os brincalhões de sempre. Puxou meu rosto pela nuca, e colando nossos rostos disse:

- Mais ou menos assim – e então me beijou.


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