Capítulo 19

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Reli aquele texto diversas vezes. Cada vez que eu lia, mais eu era tomada por uma certeza de que aquilo se tratava de um caso. No entanto, algo dentro de mim gritava que era mentira. Carlos não era aquele tipo de homem, ele amava Beatrice. Ou não?

O que eu faria agora?

Em um impulso que veio não sei exatamente de onde, peguei meu celular, e procurei por um número que eu não procurava há um tempo. O de Beatrice. Pedi que ela me encontrasse no hotel, e que viesse o mais rápido possível. Eu tinha que anunciar aquilo a ela, não tinha?

Ela bateu na porta do meu quarto quarenta minutos depois, minutos que eu passei comendo minhas unhas. Com seu ar de impaciência, entrou no quarto e me perguntou o que eu queria. Pedi que ela sentasse, relutante, ela cedeu.

- Você sabe que o detetive Scott está investigando a morte de Carlos – comecei sutilmente

- Sim – ela disse, brevemente

- E para que haja uma investigação eu... Peguei o notebook dele.

- Você o que?

- Encontrei uma pasta bloqueada, descobri a senha...

- Você o quê?

- E baseado no que tenho lido tenho tentado andar com a investigação.

- Você o quê?

- Só escute – pedi, impaciente. – A pasta é extremamente confusa e desorganizada, mas aparentemente ele está contando algo.

- O quê, exatamente?

- Se eu soubesse provavelmente o caso estaria encerrado, mas... Esse trecho mostra que... Carlos estava tendo um caso.

E ela ficou ali, parada me encarando, respirando lentamente, como se nada do que eu tivesse dito fosse novidade para ela.

- Você me ouviu?

- Ouvi.

Semisserrei os olhos e ergui as sobrancelhas. Porque ela estava tão calma? Como ela estava tão calma?

- Você já sabia! – eu quase gritei – Como?

- Eu era esposa dele, eu sabia – ela respirou fundo.

- E não achou que isso tivesse algo a ver com... ?

- Ele parou de vê-la.

- Quem? Quanto tempo eles... ?

- Eu não sei.

Havia algo em seu olhar, um brilho diferente, como quando andamos na areia e vemos algo brilhando, corremos e descobrimos um pequeno tesouro. Ela estava escondendo algo.

- O que você não está me contando?

Beatrice me olhou por inteiros vinte segundos, me analisou por inteiro e depois soltou um longo e pesado suspiro.

- Eu descobri que ele estava me traindo e passei a chantageá-lo anonimamente. Depois de um mês de chantagens, ele parou de vê-la. E outro mês se passou, então ele morreu.

Minha cabeça estava cheia de perguntas mas nenhuma delas se transformava em frases. Eu não consegui dizer nada.

- Eu não estou entendendo – sussurrei.

- Conheço bem esse sentimento – ela disse, sarcástica e riu.

- Você o chantageou?

- Sim.

- Porque não foi diretamente até ele?

- Eu não tinha certeza quando comecei... E depois, pela raiva... Não queria parar.

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