Capítulo 32

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Abri os olhos com dificuldade, a luz os machucou e fez minha cabeça doer, tentei me mexer, mas isso também doeu. Quando meus olhos finalmente se acostumaram me vi em um quarto branco com cheiro de hospital.

- Que merda... – falei, com a voz fraca.

- Como você está? – Kara estava do meu lado.

Seus olhos estava abusivamente inchados e vermelhos. Sua pele já tinha passado de pálida, ela estava praticamente transparente. Ao olhar pra ela, me senti confusa.

- O que estou... Porque...?

Então tudo voltou e minha cabeça latejou.

- Kara...

- Papai foi pegar café, ele volta logo.

Tirei o lençol de cima de mim e sentei na cama, Kara se levantou e veio até mim.

- Onde estão minhas roupas? – perguntei.

- Kaya, você tem que descansar.

- Dane-se.

Olhei o quarto todo e achei uma bolsa com minhas coisas, lentamente, mas com esforço, fui até o banheiro, troquei de roupa, escovei os dentes e arrumei o cabelo. Saí do banheiro e Kara não estava mais lá, devia ter ido chamar alguém.

Eu não entendi porque meu corpo doía como se eu tivesse sido atropelada, mas isso me deixou lenta e estressada. Antes mesmo que eu pudesse sair do quarto Kara estava de volta com meu pai.

- Você não vai a lugar algum – ele disse, com a voz firme.

- Por favor, não me impeça. – eu disse.

Vi nos olhos dele que ele estava sofrendo, vi nos olhos de Kara que ela estava exausta, e não era fisicamente.

- Droga, porque tudo dói tanto? – perguntei

- Seu estresse somatizou – o médico estava encostado na porta, me observando com olhos atentos.

- ótimo – revirei os olhos.

- Você devia deitar – ele disse, sério.

- Onde ela está? – perguntei ao meu pai.

Ao som da palavra "ela" ele pareceu se assustar, como se eu tivesse perfurado alguma parte do seu corpo e ainda esperasse que ele respondesse.

- Pai.

- Kaya, volta pra cama – Kara disse, e seus olhos lacrimejavam.

- Eu preciso falar com ela!

- E dizer o quê? – Meu pai estava com raiva.

Eu sentei, cansada. Respirei forte algumas vezes.

- Ela realmente... – não consegui completar, ou olhar para um deles – Foi ela?

- Ela confessou – meu pai disse, soando como se tivesse um nó em sua garganta.

- Porquê?

- Kaya, você devia descansar – Kara disse, soando mais como um pedido.

- Não posso – levantei de novo – Por favor, me levem lá. Por favor.


Eu estava exatamente no mesmo tipo de sala que tinha ido visitar meu pai à meses atrás quando ele estava preso. Minha mãe estava de frente para mim, com o olhar triste encarando o chão. E eu não conseguia olhá-la. Estava grudada à porta, sem força ou coragem para me mexer. E tinha de admitir para mim mesma, eu estava com medo da minha própria mãe.

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