Capítulo 21

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Saí da casa de Lucy apressada, com várias coisas na cabeça que falavam alto e não me deixavam organizar meus próprios pensamentos. 

Deixei o carro com Scott, sem mencionar palavra alguma do que havia conversado com Lucy e fui andando para o hotel. Um passo atrás do outro. Eu precisava do meu caderno de anotações e das anotações que eu havia feito no notebook de Carlos, eu sentia que estava esquecendo algo e minha mente gritava desesperada para que eu lembrasse. 

Cheguei no hotel, tomada por uma angústia enorme, peguei todas as minhas coisas, joguei no carro e dirigi em direção ao lago próximo à casa de Lucy. Eu não sabia exatamente porque estava indo para lá, mas eu precisava de paz. Isso me fez lembrar do penhasco da paz, em Isaac, consequentemente em todas as coisas que estive me forçando a esquecer, e mais uma vez, como sempre, afastei todos os pensamentos.

Ao chegar no local estacionei o carro embaixo de uma árvore imensa e com todas as coisas no braço, sentei perto do lago. Respirei fundo e disse a mim mesma que eu ia conseguir trabalhar bem ali.

Abri meu caderno e comecei a ler meus rabiscos, muitas coisas ainda estavam frescas na minha mente e eram importantes, mas havia ali uma página quase em branco, com palavras rabiscadas: Rua das Flores... Era o endereço que eu havia encontrado nos documentos de Carlos. Abri o notebook, eu sabia que vi esse endereço mencionado antes, precisava lembrar.

"Ela sorria tão gentilmente para mim, quase fazia parecer que não havia nada fora do lugar. Olhei seus olhos, e me lembrei que nunca havia olhado para ela daquele jeito.

- Rua das Flores, Carlos - ela me lembrou

- Sim, claro. Rua das Flores - eu ri e ela me acompanhou" 

Então fora ali que eu havia visto aquele endereço mais uma vez. Eu precisava ir lá. Mas não naquele momento, havia outra prioridade. Abri o notebook, digitei a senha da pasta Pluvia e olhei. Não só olhei, procurei pela chuva, como Lucy havia aconselhado. Passei o olho lentamente por todos os documentos e encontrei uma foto meio enigmática. Estava embaçada, não sei se propositalmente, mas era uma gota escorrendo pela janela, lá fora chovia, mas havia apenas uma gota no vidro, e ali fora estava uma pessoa, de costas.

Não dava para ver bem aquela pessoa, ela era apenas um borrão, um desfoque. O foco estava na gota, se arrastando pelo vidro tão melancolicamente.

O que aquilo significava? Eu não fazia a menor ideia. Então rolei os olhos, cansada e decidi finalmente ir até o endereço achado.


Era um prédio velho e praticamente invisível numa rua alegre e movimentada. O porteiro dormia enquanto passava uma apresentação musical na TV. Subi as escadas lentamente com o papel com o endereço anotado em minhas mãos. Apartamento 157. Só depois de estar ali, de frente para a porta notei que não havia como entrar. Bufei de raiva comigo mesma e grunhi.

- Que droga - deixei escapar

Ouvi o som de porta abrindo e olhei assustada para trás. Uma criança me olhou dos pés à cabeça. Era magrinha, morena, tinha os cabelos cacheados longos e os olhos negros como a noite.

- Quem está procurando? - ela perguntou

- Carlos - respondi sem pensar direito

Ela me analisou, com as sobrancelhas levantadas e depois sorriu

- Você deve ser Kaya - disse - Demorou pra caramba, achei que ele tinha errado - e fez um bico, como se estivesse desapontada.

- Ele disse que eu viria?

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