Capítulo 42

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Chovia. Chovia tanto que eu mal conseguia ver um palmo à minha frente, imagine a estrada. Os faróis do meu carro pareciam atravessar nuvens, mas era apenas a chuva. Estacionei o carro e saí debaixo daqueles pingos grossos, corri o mais rápido que pude, eu tinha que ir naquele lugar, aquele que eu sempre ia quando voltava. Então corri e me encontrei por entre as árvores. Dentro de alguns longos e difíceis segundos eu estava no penhasco, não dava para ver o mar, mas eu ainda podia ouvir o seu som. As árvores balançavam com o vento, levantei meu rosto para o céu e sorri enquanto a água molhava todo ele.

Tirei meu celular do bolso e liguei a lanterna com medo de queimá-lo, mas querendo ver perfeitamente aquele lugar. A luz fraca iluminou boa parte, tudo estava como era. Onze anos haviam se passado, havia mais árvores, mais rochas, no entanto, tudo parecia estar no seu lugar.

Após certo tempo observando o lugar, vi algo se mover entre as árvores, meu coração acelerou. Por meio da mata, saiu um homem. Ele tinha os olhos mel esverdeados, a expressão confusa, os cabelos castanhos claros bagunçados, os músculos expostos pela falta de camisa. Seus olhos focaram em mim, ele não havia me visto até aquele momento.

De repente a chuva parou, ambos olhamos para o céu e depois um para o outro.

- Kaya? – ele disse, um pouco assustado.

Um sorriso se formou em meus lábios.

- Isaac – falei.

Eu corri até ele e o abracei, pulando em seu pescoço. Imediatamente senti seu calor, seu corpo no meu. Apertei-o em meus braços, toquei seus cabelos, senti seus beijos em meu ombro, sorri ao senti-lo novamente. Deixei as lágrimas rolarem em liberdade, e senti que ele também chorava. Onze anos haviam se passado e seu abraço ainda era meu maior abrigo.

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- Conta como foi no exército! – Tyer pediu.

Ele estava maior, mais alto, mas continuava com aquele brilho de criança nos olhos, seu sorriso ainda era marcante e lindo.

- Quero saber da faculdade primeiro – Meg como sempre, exigia uma ordem.

Ela estava alta naqueles saltos finos, se vestia como uma modelo, o que ela agora era, bastante refinada e inteligente. Mark apenas ria enquanto segurava a mão de Sarah, que timidamente fazia círculos nas costas de sua mão. Estávamos na casa de Meg, como nos velhos tempos. Pedimos comida chinesa e conversamos.

- A faculdade foi um saco – eu disse, e olhei para Isaac, toda chance que eu tinha de olhá-lo, eu aproveitava – foi um alívio quando terminou. Eu amava meu curso, mas era horrível.

Eles riram. Daniel bebeu um gole do seu vinho e serviu mais a Meg. Vi as alianças em seus dedos e sorri.

Eu tinha mantido contato com eles até os primeiros cinco anos. Falava com Meg todos os dias, soube quando ela e Daniel começaram a namorar, quando Tyler finalmente decidira o que queria da sua vida: ser arquiteto. Contaram-me quando Sarah e Mark finalmente firmaram algo sério. Ouvi cada crise de Rose, chorei junto com Isaac. Mas depois fui assaltada em minha cidade, levaram meu celular, então perdi todos os meus contatos. Após isso, de vez em quando eu lia um e-mail deles e respondia, mas as coisas foram esfriando até que eu não sabia mais para onde voltar. Papai e Kara passaram uns anos na nossa antiga cidade quando ele começou a namorar Kat. Eu também falava com Kara todos os dias, isso nunca mudou. Mesmo à distância ela conseguiu me revelar a mulher que mostrara para Carlos, extremamente inteligente, sensível e graciosa. Conversávamos muito sobre ele, sobre suas cartas, sobre seus textos da pasta Pluvia e como tudo o que ele escrevera parecia ser um ensinamento para nós. Então minha família voltou para àquela cidade, junto com Kat, que era agora sua noiva.

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