Capítulo 6

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Sempre tem aquele dia que acordamos nostalgicos. Eu estava naquele dia. Desde o momento que acordei, não parava de suspirar e lamentar. Quando cheguei naquela cidade, eu tinha decidido deixar minha antiga vida para trás, mas todos nós sabemos que isso não é fácil. Antes de conseguir levantar da cama, peguei meu celular e por baixo das cobertas fiquei vendo minhas fotos com alguns amigos. Fotos familiares, fotos de viagens, vídeos. Os suspiros aumentavam.

Consegui levantar da cama e deci as escadas praticamente me arrastando, de cabeça baixa. Nem ao menos passei os dedos no cabelo, só lavei o rosto e escovei os dentes. Esfreguei os olhos ao entrar na cozinha e me joguei na cadeira. Minha mãe me serviu de bolo de laranja e iogurte e sentou do meu lado.

- Onde está Kara? - dei um enorme bocejo no final da frase.

- Já foi pra escola - ela sorriu, divertida com minha situação - TPM?

- Eu sei lá - dei de ombros e tomei um gole do iogurte.

- Você não devia estar no trabalho em dez minutos?

- Segundo dia, e eu quero demissão - bocejei de novo.

- Não comece. Isaac teve um trabalho danado pra te arranjar isso.

- Isaac supera.

- Você precisa do dinheiro - ela me lembrou.

"Ah é" eu pensei "O dinheiro do detetive. Eu tinha esquecido completamente."<

Na semana que passara, eu e Isaac ligamos para o detetive, um tal de William Scott que amava ser chamado de senhor Scott.

Ele disse que resolveria meu caso em um mês, e como recompensa queria cinco vezes o salário que eu recebo por mês, isso dava mais ou menos seis mil reais. Eu tinha esse dinheiro? Não. Mas Isaac, é Isaac.

- Eu te empresto o dinheiro - ele disse, gentilmente - E conforme você for ganhando seu salário, você vai me pagando.

- Não gosto disso - reclamei.

- Porque você é orgulhosa.

- Você tem que parar de cuidar de mim.

Ele sorriu charmosamente e negou com a cabeça.

- Fechado? - estendeu a mão.

Dei de ombros e apertei a mão dele.

Em uma semana o senhor Scott não tinha feito progresso nenhum, disse que era difícil investigar um crime ocorrido há dois meses. As pistas tinham esfriado, eu literalmente disse para ele se virar, sua resposta foi uma risada sarcástica e um "nos falamos em breve".

Essa situação estava me corroendo e eu ainda estava preocupada com Isaac. Ele não tinha mais tocado no seu motivo de choro, não tinha me dito nenhuma palavra sobre aquilo e andava abatido. Perguntei a Meg qual era o problema, mas ela não queria me contar, Tyler me ignorava quando eu perguntava e Daniel não sabia de nada. Eu me sentia deixada para trás.

Minha amizade com aquelas pessoas estava cada vez melhor, nós saíamos todos os dias para fazer qualquer coisa ou simplesmente nada, e minha confiança neles estava começando a ser formada. Kara andava grudada com suas duas amigas, que estudavam na mesma sala que ela. Minha mãe trabalhava o dia todo em uma escola particular e estava alegre. Eu parecia ser a única que não conseguia ficar feliz.

- Não se atrase - minha mãe interrompeu meus devaneios e saiu da cozinha.

Terminei de comer, me arrumei milagrosamente em cinco minutos e caminhei a passos largos até a livraria. Cheguei em cima da hora. 

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