Capítulo 13

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O deserto não era tão encantador como se dizia, sobretudo estando na parte pertencente ao Afeganistão. Eriel havia sido mandado para lá, para recolher informações sobre o rastejante conflito da faixa de gaza, e também para recolher as almas dos soldados que haviam morrido em serviço. Claro, que aquilo não era habitual, e não cheirava nada bem, e Eriel não se sentia á vontade com o que lhe fedia ao instinto. Almas para serem levadas direto para a Alta Cúpula? Exclusivas de soldados? Não, aquilo realmente não era algo agradável, e Eriel não pensara duas vezes antes de questionar as ordens. Era um anjo sargento, responsável pelo fluxo das almas daqueles que morrem. Não tinha permissão de alterar o lugar para onde elas iam, mas mantinha um controle daqueles que conseguiam continuar, e dos que ainda ficavam pela terra, perdidos e confusos demais para acharem o caminho certo. Não podia influenciar em nada,pois o livre arbítrio também valia para a alma, mesmo ela sendo salva ou condenada de acordo com a vida que havia levado. Depois de questionar algumas ordens, e mandar alguns recados para a Alta Cúpula que não agradaram a ninguém, ele foi caçado por quatro anjos de mesma patente, por um quarto de todo aquele deserto. Mas havia passado tempo demais lá, e sabia como agir e se comportar naquele terreno. Havia matado os quatro perseguidores. Depois disso, havia se escondido pelo deserto, sendo declarado desertor. Por essas razões, era o primeiro na lista de Gabriel. Não na lista que Miguel havia lhe dado, mas na que ele próprio montara, após ter feito uma vasta pesquisa relacionando os locais e condições das deserções, e os postos que incluíam os mesmos. Na verdade, Gabriel estava intrigado com o fato das deserções serem sempre de um único anjo, tendo ele sumido de repente, ou ter se salvado de alguma chacina. Não importava. Eriel era um sargento extremamente forte e ágil, e sabia, como qualquer outro anjo treinado por Anriel, como se esconder de qualquer perigo, quando preciso. Até mesmo dos próprios irmãos.

Gabriel sabia que não encontraria um desertor pairando pelos locais onde haviam sumido. Não, o plano não era esse. Na verdade, Gabriel estava vestindo um uniforme militar de um soldado morto a três quilômetros dali, pertencente ao exército americano. Tinha uma prancheta na mão, providenciada com antecipação para a execução de seu plano. Queria investigar o motivo da deserção de Eriel, esperando que o próprio sargento viesse até ele para ajudar a limpar seu nome. Esse era o plano, e esperava que fosse funcionar.

O local onde as coordenadas indicavam era sempre exato, mas ali, Gabriel sentiu que ia encontrar algumas dificuldades. O deserto, assim como tudo o que é natural, exerce uma energia própria, cobrindo os rastros de outras energias que estiveram presentes. Marcas de conflitos também estavam descartadas, o deserto vivia em constante mudança, e qualquer marca havia desaparecido por completo na primeira rajada de vento mais forte. Sentou-se na areia, protegido do sol pela sombra de uma enorme pedra, que parecia ter caído do alto de uma montanha próxima dali. A colina chamou a atenção de Gabriel. Olhando para o alto, não se via nada além de pequenos acúmulos de areia, e o local vazio de onde a pedra provavelmente caíra. Era tão perfeito, que mentalmente Gabriel podia encaixar uma à outra, como em um quebra-cabeça. Gabriel levantou, com um forte brilho em seus olhos azuis. O mesmo brilho que sempre preocupara o irmão Miguel.

As pedras rolam quando caem naturalmente, mas ali, a pedra estava na mesma posição em que ficava na montanha. Até no mesmo ângulo. Claro que poderia ser uma coincidência, mas Gabriel, agora prestando atenção ao fato, notou não haver na pedra nenhuma marca de que ela tenha rolado montanha abaixo, nem mesmo vestígios de sua queda pela montanha. Gabriel contornou a pedra, examinando com olhos aguçados e a sensibilidade ao máximo. Quando havia quase dado a volta por completo, viu dois pequenos fios pretos arrebentados saindo discretamente por debaixo da pedra. Abaixou-se, e começou a afastar a terra com as mãos. Parecia ser uma espécie de rádio, um dos comunicadores usados pelos militares. Havia jogado o seu na areia durante o caminho, pois não parava de emitir sons, que poderiam atrapalhá-lo em sua missão. Quando Gabriel começou a retirar maior quantidade de terra de perto do aparelho, achou o que pareciam com dedos de uma mão. É claro que nunca sentiria que havia corpos ali, Eriel teria levado as almas deles e se certificado de que nada além do corpo fora deixado para trás. Ele mesmo deveria ter arremessado a pedra colina abaixo. Era uma pista importante, e que reforçava ainda mais as notícias sobre o temperamento de Eriel.

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