Capítulo 38

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Anriel colocou o corpo da sua jovem amada sobre as folhas. Havia voado para longe da batalha, para longe da guerra, para longe de tudo. Precisava apenas salvar sua amada. Precisava salvá-la, antes que fosse tarde demais.

O anjo colocou as mãos sobre o peito de Kaira, fechando os olhos. A moça gemeu, e tossiu mais sangue. Anriel abaixou-se até próximo de seu ouvido, murmurando.

_Você deu sua vida por mim. E olha o que aconteceu com você por isso. A culpa é minha. Vou retribuir o favor, e depois, não precisará saber mais nada sobre mim.

Anriel ergueu novamente o corpo, fechando os olhos. Uma leve luminescência surgiu embaixo de suas mãos, e os machucados de Kaira foram se curando, lentamente. Eram tantos os ferimentos, que Anriel começava a se sentir fraco. Um fio de sangue escorreu pela sua narina, e lágrimas preencheram o canto dos olhos. Assim que terminou seu trabalho, abaixou-se até deixar sua boca próxima a de Kaira. Sentindo sua respiração voltar ao normal, Anriel fechou os olhos, e se levantou, para partir. Assim que abriu suas asas, ouviu a doce voz da mulher que amava.

_Não precisa partir.

Anriel olhou para trás. Kaira estava sentada, olhando-o profundamente. Não parecia abalada por sua forma, nem pelo lugar onde estava.

_Não precisa partir, se não quiser.

Kaira se levantou, deixando o tecido vermelho que cobria seu corpo cair, revelando o vestido dourado que a deixava quase nua. Apesar dos rasgos e da sujeira que a cobriam, Anriel não pode resistir aos seus desejos, e a beijou.

Anriel foi tomado por um desejo incontrolável. O vento balançava mais forte os galhos das árvores, enquanto as nuvens encobriam a lua. Kaira parecia querer se entregar, mas algo o impedia. Anriel interrompeu o beijo, acariciando seu rosto ainda de olhos fechados.

_Não posso. Não posso fazer isso.

Kaira colocou as mãos no rosto de Anriel, olhando-o nos olhos.

_O que não pode, Anriel?

_Não posso fazer isso com você. Já lhe causei muita dor e sofrimento. – Anriel abriu os olhos, e fitou Kaira, sorrindo para ele.

_Já é hora de parar de se culpar pelo que me causou, e deixar que eu tome minhas decisões. – Kaira abraçou-o, envolvendo seu corpo com as mãos dele. – Me deixe tê-lo, apenas por um momento. Deixe que eu tenha o homem que amo, pelo menos esta noite.

Anriel não pode controlar seus sentimentos. Beijou desesperadamente Kaira, e os dois deitaram juntos sobre as folhas das árvores. Anriel se sentia curado de suas dores, de seus medos, de seus receios. Sentia-se um homem livre, com o poder dos anjos ainda fluindo forte em suas veias. Sentia cada músculo de seu corpo recuperado, e sua força vital restaurada. Aquela sensação era tão profunda, que Anriel não pode parar. Não conseguia decidir se o que fazia era certo ou errado, mas depois de tantos anos fugindo, depois de tanto tempo tentando se esconder, precisava daquilo. Precisava se entregar ao seu amor por Kaira, e sentir que ela também o amava.

A noite estava quase para terminar, quando ele e Kaira se abraçaram no chão, com as folhas passando por sobre seus corpos, levadas pelo vento forte que soprava sobre a floresta.

Kaira adormeceu enquanto Anriel acariciava seus cabelos, pensativo. Não sabia o que iria acontecer agora, mas estava longe de Miguel, e longe daquela guerra sem propósito. Estava com Kaira, e ela estava a salvo. Permaneceriam juntos, e ele a protegeria, até o fim dos tempos. Ele a defenderia contra Miguel, Rafael, ou contra qualquer um que tentasse a fazer mal. Olhá-la deitada sobre a relva verde, iluminada pelo brilho da lua era a única recompensa de que precisava. Era aquilo que dava sua força. Ela era sua vida. E apenas agora entendia isso.


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