Capítulo 35

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Miguel não podia acreditar no que via. A energia de inúmeros anjos transformados na terra, todos reunidos em uma batalha. Sua fúria foi tamanha, que incontrolavelmente arremessou e destruiu toda a mobília de seu aposento particular. Aquilo era inaceitável. Sentia a presença, forte e completa, de vários dos anjos que tinha escondido com tanto cuidado. E agora todos estavam reunidos, lutando contra os anjos leais a ele a ao novo comando do céu.

Caminhou até a sala da Cúpula, e ao ver a cadeira de Azriel, a fúria tomou-lhe por completo. Ergueu a cadeira, e bateu-a contra o vidro da mesa, que se partiu em milhares de pedaços, cobrindo com minúsculos pedaços transparentes o chão da sala de reuniões. Ainda estava tendo seu ataque de fúria, quando Rafael entrou, cambaleante, pela sala. Estava ferido no braço, mas apesar da dor, iria sobreviver. Vendo o irmão naquele estado, Miguel se dirigiu até ele, com a raiva e a insanidade estampada em seu olhar. Não ia permitir a derrota. Não ia aceitar perder, agora que estava tão perto de conseguir seu reinado soberano. Pegou Rafael pela garganta, suspendendo-o no alto.

_Me diga que o que estou sentindo não são anjos. Não são os meus odiados anjos. Diga-me que aquela demoniazinha voltou com o colar, e que Anriel está prestes a cumprir a profecia. Diga-me!

Vendo que Rafael não respondia, Miguel jogou o anjo no chão sobre os cacos da mesa, desacordado. Teria que tomar uma atitude se quisesse cumprir seu objetivo. Caminhou até ao lado de Rafael, que acordava.

_Encontre Anriel. Eu mesmo descerei a terra para acabar de vez com todos aqueles que são contra mim.

Miguel se levantou, e caminhou de volta até seus aposentos. Rafael começou a se levantar, sentindo profundamente os tiros no braço, e a garganta seca, que dificultava a passagem do ar. Miguel havia enlouquecido, e não tinha mais dúvidas quanto a isso. Era hora de colocar tudo de lado a partir, partir para longe das loucuras de Miguel.

Rafael saiu, voltando a terra. Mas se dirigiu a um ponto distante do qual Miguel ordenara, e com planos totalmente diferentes. Manter-se-ia a salvo, enquanto o irmão ensandecido se ocupava com a pequena batalha formada na cidade escolhida por ele. Depois que visse os resultados, poderia continuar mantendo-se escondido, até que a ordem voltasse a reinar, e ele cobrasse favores em troca de sua volta ao céu.

Miguel desceu a terra, caindo bem no meio da batalha. Os anjos, ao vê-lo, interromperam a briga.

_Quem está contra nós, e contra o novo reino do céu, está contra a verdade divina e soberana. Quem dentre vocês está contra mim?

Miguel olhava em volta. Vários anjos mortos, outros caídos, alguns feridos, mas ainda batalhando. Podia ver os seus leais e fieis irmãos, que se tornariam servos em seu novo reinado. Podia ver os anjos que eram contra sua revolução, e contra ele em pessoa. Não obtendo resposta, voltou a gritar para os anjos.

_Quem entre vocês se opõe a mim? Alguém? – Miguel se virava, olhando para cada anjo.

_Eu sou, irmão. – Uma voz grave e baixa ressoou em meio a multidão. Os anjos abriram caminho até que o locutor ficasse a vista de Miguel. Era um anjo baixo, ainda não transformado, e mantinha a cabeça abaixada.

_Então temos um líder. Líder da revolução contra a nova ordem celestial. – Miguel se virou para os seus anjos, rindo. – Ora, então venha até aqui, e desafie-me! Vamos ver se será você quem colocará fim aos planos celestiais!

_Não coloque suas idéias assinadas pelo céu, irmão. – O anjo caminhou lentamente até a frente dos outros, continuando com a cabeça virada para o asfalto encharcado. – Elas são suas, e você será o único a sofrer as conseqüências dela. Sempre soube que não seria você o eleito, que não seria o soberano do céu. E novamente, serei eu quem vai mostrar a verdade a você, e a todos os anjos.

Miguel sentiu a sombra do medo percorrer seu corpo. Aquela voz lhe era familiar. E aquela frase, a maneira como foi dita, apenas poderia ser expressa em primeira pessoa por um de seus irmãos. O anjo começou a levantar a cabeça, mostrando seus olhos brancos e reluzentes, encarando Miguel sem nenhum medo. Miguel deu pequenos passos para trás, se recusando a aceitar que seu mais odiado irmão ainda vivia, e estava ali, em sua frente, desafiando-o como havia feito há anos na sala da Cúpula. Sentiu o temor de enfrentar novamente Azriel, que continuava parado, com os olhos completamente brancos, encarando-o.

_O que foi, Miguel? Teme que a verdade prevaleça novamente? – Azriel sorriu para Miguel, que sentiu o ódio preenchê-lo novamente, de uma maneira incontrolável.

_Irei matá-lo, Azriel! Como já devia ter feito há muito tempo! – Miguel acendeu o brilho de seus olhos, e encarou o anjo.

_Vou gostar de vê-lo tentar, irmão.

Azriel sorriu para Miguel, que partiu para cima do anjo com extrema violência, abandonando suas últimas gotas de sanidade. Agora via apenas Azriel em sua frente, e o desejo de matá-lo tomou conta de sua mente e alma, de maneira que até mesmo seu plano havia desaparecido. O que importava agora era somente matar o anjo que lhe tirara tudo. O que importava agora era somente matar Azriel.


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