Capítulo 30

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O vôo seguiu calmo, atravessando nuvens altas no entardecer. Chegaram ao seu destino quando já era noite. Pousaram em meio a uma floresta, onde uma fina garoa caía tranquilamente, embalando o sono dos moradores locais. Tudo parecia tranqüilo, mas a sensação do perigo acompanhava os anjos, e todos podiam sentir.

Gabriel começou a caminhar em volta para avaliar o perímetro. Sabia que os irmãos não os colocariam em algum lugar onde poderiam ser facilmente encontrados, mas estarem tão longe da civilização significava mais tempo procurando pelo próximo irmão, e quanto mais tempo passassem em um mesmo lugar, mais fácil seria de serem achados, e não podiam arriscar seu plano, ainda mais agora que estavam tão perto de conseguir o objetivo.

Ezequiel saiu em busca de lenha para uma fogueira. Precisavam de calor e abrigo, e como já era noite, precisariam também de um sinal para afugentar as possíveis feras presentes na mata. Não que elas representassem um perigo para a vida dos anjos, mas seriam um sério atraso caso atacassem. Era melhor evitar.

_Onde estamos? – Gabriel falava baixo, enquanto voltava de sua pequena caminhada.

_Estamos bem no meio de uma floresta. Achei que fosse mais inteligente que isso irmão. – Mikael limpava o chão com as mãos, retirando a folhagem e deixando um espaço onde apenas a terra aparecia.

_Eu sou. Notei isso faz algum tempo. Mas em que país estamos, e quem estamos procurando? – Gabriel não ligou para o modo de Mikael.

_Estamos no Peru. Próximos a um vilarejo onde um dos nossos irmãos se escondeu.

_E isto significa que viemos buscar Baltazar.

Mikael arqueou as sobrancelhas em sinal de surpresa.

_É realmente inteligente como eu imaginava. Como chegou a essa conclusão, Gabriel?

_Baltazar é o anjo responsável por guardar todos os objetos secretos recolhidos na terra. Itens valiosos, históricos, materiais de feitiçaria. Aparentemente, Miguel se interessou por um livro muito antigo, propriedade de uma bruxa que vivia nesse vilarejo, há uns dois séculos, aproximadamente.

_Exato. Mas o livro já havia desaparecido antes de Baltazar chegar aqui. Miguel não mencionou se retorno nos pergaminhos, imagino.

_Não. Também não relatou ter tomado posse do artefato. – Gabriel parecia estar em um beco sem saída.

_Não, mas a bruxa portadora do livro deixou uma mensagem. Mensagem essa que Baltazar aprendeu a compreender muito bem. Por isso, manteve-se aqui. Precisava investigar.

_Mas quem garante que ele ainda está aqui? Afinal, já faz muito tempo irmão. – Kaliel parecia chamar muito a atenção com seu enorme par de asas, andando em meio à completa escuridão da floresta enquanto seus olhos luminescentes brilhavam ainda mais intensos.

_A mensagem não foi documentada por nenhum anjo, porque não foi dita por Baltazar. Não foi dita, porque a mensagem dizia para não ser revelada até o momento certo. Mas vou deixar que Castiel explique mais a vocês, afinal, ele é o especialista aqui, e não eu. – Mikael voltou a desenhar na areia pequenas retas e quadrados, formando uma maquete infantil do vilarejo.

_O livro é um resumo de alguns estudos feitos por um antigo sacerdote maia. Ficou em sua família por gerações, apesar de quase nunca ser usado. Da última vez em que foi, teve o envolvimento de dois membros conhecidos de todos aqui, Órios e Miguel. Depois disso, o livro desapareceu, voltando a aparecer para um de nossos irmãos fugitivos, Amitiel.

_Gostaria de ressaltar a parte em que menciona o desaparecimento do livro, ela é muito importante. – Mikael não levantou os olhos de seu trabalho, e continuava sentado sobre a folhagem morta caída sob a chuva.

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