A tempestade continuava a cair do lado de fora do esconderijo. Kaira estava deitada no sofá, exibindo seu corpo por baixo de um vestido negro, de cetim, com a maior parte de véu vermelho, por onde se via sua pele nua, desprovida de roupas íntimas. Dois anjos menores abriram a pesada porta de madeira, trazendo alguns homens inconscientes, amarrados por grossas cordas. Tinham os rostos cobertos por um saco de pano bege e sujo, muito surrado. Os dois anjos colocaram as vítimas de joelhos em frente à Kaira, sobre o tapete vermelho ornamentado. A possuída se levantou, abaixando-se próxima da primeira vítima, e retirou o capuz com um puxão violento, fazendo o corpo do rapaz cair para trás, enquanto ele gemia. Kaira se levantou, andando em frente à fila de vítimas trazidas até ela pelos anjos servos de Miguel. Retirou o capuz de todos, uma a um, e todos desmaiaram, com os corpos cheios de hematomas. Quando retirou o capuz do último, ele não caiu, apesar de não reagir. Olhava fixo para o chão, e estava totalmente consciente, apesar dos traumas na cabeça e os vários cortes pelos braços. Ele fitava os pés de Kaira, e apesar da curiosidade em conhecer seus captores, continuava inerte.
_Está sem coragem de olhar para mim? – Kaira sorriu ao conversar com sua vítima. – Parece ser o mais franzino entre eles, e ainda assim, é o que está acordado agora, enquanto esses fracos caíram pelo meio do caminho. – Ela abaixou-se em frente a ele, erguendo seu rosto com uma das mãos. – Você é mais forte do que aparenta, vejo isso em seus olhos. Não tenha medo, te darei uma recompensa hoje pela sua coragem.
O rapaz levantou firmemente os olhos para Kaira. Tinha o medo estampado nos olhos, mas apesar disso, não desviava o olhar, nem mesmo lamentava. O olhar de Kaira se tornou de um castanho avermelhado, enquanto uma luminescência vermelho sangue emanava dela para ele. Kaira se levantou, olhando demoradamente para o rapaz a sua frente. Era magro, de estatura mediana, assustado por dentro, com cabelos castanhos escuros, de olhos azuis. Tinha mais hematomas e cortes do que as outras vítimas, deixando claro que havia resistido à captura. Ela podia ver a faísca de desejo em seu olhar. Acariciou os cabelos dele, olhando-o fixamente nos olhos. O rapaz foi adormecendo, até cair em sono profundo. Kaira só então desviou os olhos dele e ordenou que os dois anjos o levassem até seu quarto. Entrou assim que os anjos saíram e fechou a porta. Ele estava adormecido em sua cama, e ela sabia que logo seus poderes fariam efeito. Assim que ele começou a abrir os olhos, o rapaz balbuciou um nome de uma mulher, e Kaira sorriu. Seus poderes estavam agindo. Ele já não se lembrava mais da dor, da briga, e nem sequer procurava perguntar onde estava, ou tentar fugir. Kaira sabia que agora ele não mais a via, mas via a mulher que estava presente em sua mente e coração. A possuída se despiu vagarosamente, e caminhou até a cama. O rapaz olhava-a como se não mais se importasse com o resto. Kaira deixou que ele a beijasse, e assim que o fez, os olhos dela voltaram a adquirir o brilho avermelhado. Ele foi tomado pela vontade completa de possuir aquilo que mais desejava, sem medir as conseqüências. Era esse o plano de Kaira para Anriel, mas sabendo das dificuldades, possuíra um corpo especial para ele. Deixou que o rapaz satisfizesse seus desejos, enquanto continuava a chamá-la pelo nome de outra mulher. Seu plano estava funcionando. Assim que terminaram, Kaira se levantou, e abriu a porta, ainda estando nua. O rapaz nem sequer tentou escapar. Os anjos trouxeram a segunda vítima, um homem de meia idade, forte, de cabelos compridos e olhos castanhos. Jogou-o com violência na cama, enquanto executava a segunda parte de seus planos. Fechando novamente a porta, deixou que o primeiro rapaz assistisse. Ele estava cansado, e tremia vez ou outra pela dor. Mas ainda assim, continuava ali, sentado nu em um canto do quarto. Kaira começou a dar prazer para sua segunda vítima. No meio do ato, ela ficou sentada sobre ele, enquanto pegava a faca que Miguel havia lhe dado. Proferiu um corte extenso em seu abdômen. O homem arqueou de dor, e Kaira, se deliciando com o medo em seus olhos, começou a apertar a ferida, extorquindo o máximo de dor que podia. Precisava saber até onde seus poderes estavam fortes. Provocou um segundo corte paralelo ao primeiro, e mais profundo. Pegou uma das velas e derramou lentamente o líquido quente sobre o corte do rapaz, que gritava de dor, enquanto sangue escorria pelos seus lábios. O primeiro rapaz continuava imóvel, vendo não a possuída, mas sim sua amada, torturar sem piedade aquele homem, enquanto mostrava claramente que sentia prazer no que fazia. Ele nem sequer se movia. Kaira continuou a cortar e pressionar as feridas do homem, cada vez mais profundas, enquanto seus braços e suas pernas ficavam manchados pelo sangue. O homem havia perdido a força, e ainda amarrado, estava impedido de lutar contra a mulher, que continuava a torturá-lo. Quando Kaira desferiu outro corte, o homem arqueou e vomitou sangue. A possuída riu alto, vendo que seu trabalho estava quase completo. Olhou para o rapaz, agora em pé encostado na parede do quarto.
_Venha, meu amor, ajude-me e obtenha aquela que você tanto deseja.
Kaira estendeu a faca manchada de sangue quente para o rapaz, que a pegou sem desviar os olhos da mulher. Sua beleza, apesar de vê-la com as feições de outra mulher, estava acentuada pelo brilho vermelho do sangue sob a luz das velas. O rapaz, sem olhar, enfiou a estaca no coração do homem sobre a cama, e jogou seu corpo para o chão. Beijou novamente Kaira, chamando-a pelo nome de sua amada. Novamente obteve prazer com ela, sobre os lençóis encharcados de sangue ainda quente.
Terminado o serviço, o corpo nu do rapaz estava quase totalmente tingido de vermelho, assim como o de Kaira. Ela sorriu maliciosamente, e abriu novamente a porta. Assim que os dois anjos a viram, se espantaram com o sangue cobrindo seu corpo nu. Ordenou que trouxessem a segunda vítima. Quando este, já consciente foi colocado sobre a cama, de joelhos e ainda amarrado, Kaira começou novamente a torturar. Desferia golpes no rosto de sua vítima com o cabo da faca. O rapaz, vendo o sangue brotar das feridas, entendeu que a cada vítima, ele poderia se satisfazer com a mulher que amava. Caminhou até a cama, e retirou a faca da mão de Kaira. O rapaz começou a torturar impiedosamente a vítima, enquanto Kaira assistia a cena obtendo prazer no que via. Seus poderes estavam plenos, mas ela sentia necessidade de mais. Passara séculos trancada no inferno, sozinha em um cômodo de pedras quentes, sem luz, e sem sangue. Agora que o tinha, não queria parar. Aquele rapaz influenciado por ela, parecia ter se entregado sem resistência aos seus poderes, pensando apenas na recompensa de ter ao seu lado a mulher que amava, e que não tinha. Ela via em seus olhos que toda a misericórdia havia o deixado, em troca do prazer egoísta de ter o que desejava. Sabia que nos homens, o desejo sempre falava mais alto que a consciência, e esperava que aquilo funcionasse em Anriel, agora que ele estava com seus poderes celestiais quase extintos. Sorria ao ver que o rapaz torturou o homem até tê-lo semi inconsciente, coberto de sangue. Aproximou-se da cama, e impediu-o de matar o homem. Abraçou-o, molhando novamente seu corpo com o sangue que cobria o rapaz. Empurraram o homem para o lado, ainda vivo, por cima da outra vítima, enquanto obtinham novamente prazer. Seu serviço estava feito. Seus poderes estavam plenos, mas ela necessitava de mais. Abriu novamente a porta, e ordenou a entrada do próximo. Os anjos de guarda estavam assustados perante a dominação que ela exercia sobre o homem, e o medo estava gravado no semblante dos dois. Ela sorria, e o rapaz também, agora ao seu lado.

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A Profecia
General FictionE se uma antiga profecia revelada aos Arcanjos pudesse colocar um fim a hierarquia celestial, e trazer uma guerra entre anjos e demônios? O verdadeiro problema é quando os próprios anjos começam uma guerra entre si, e os demônios se aliam as forças...