Capítulo 16

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Gabriel e Eriel estavam sentados em um posto de gasolina em Ankara, na Turquia. A moto havia sido abastecida, mas decidiram sentar em uma das mesas da cafeteria da conveniência. Apesar de não terem sede ou fome no céu, na terra isso era alterado discretamente. Pediram uma garrafa de água, e esperaram a garçonete se afastar. Eriel estendeu um copo de água ao irmão, e começou a conversa em voz baixa.

_O que estamos procurando?

Gabriel apoiou os cotovelos na mesa e olhou em volta. Virou-se com um sorriso no rosto.

_Estamos próximos de um dos meus alvos. – Continuou sorrindo.

_Achei que estávamos atrás de Azriel. – Eriel parecia confuso. – Do que está falando?

_E estamos. Mas não sou louco de enfrentar Azriel sem um bom exército ao meu lado.

_Eu nunca vi esse anjo. – Eriel parecia desapontado. – Dizem que ele ainda possui a maior patente do céu designada para um anjo, mesmo sua cadeira ainda estando vazia.

_É mesmo? – Gabriel riu. – Ele começou como um de nós, um auxiliar de guerra na Cúpula. Em seu primeiro dia, atirou os erros na cara de todos os arcanjos, e rasgou o plano de batalha de Miguel.

_Como é? – Eriel dedicava uma atenção quase infantil à história. – E ninguém fez nada?

_Um dos generais da época, Thaiar, o ameaçou quando Azriel desenhou um plano de guerra tão perfeito, a ponto de organizar matematicamente até mesmo o apocalipse. – Gabriel baixou ainda mais o tom de voz, para apreensão de Eriel. – Quando o general quis impedir a intervenção de Azriel nos planos, ele cortou a garganta de Thaiar perante todo o conselho. Abaixou-se e pegou um pergaminho, comprovando que o general era um traidor. Mais que isso, Thaiar era o primeiro ocupante do lugar de mais alta patente da Cúpula, e segundo as regras, apenas depois de um anjo morto, pode-se ocupar seu lugar no conselho. Após o plano de Azriel ter sido mais que bem sucedido, o posto foi oferecido à ele, que aceitou, mas nunca chegou a sentar-se na cadeira.

_Eu nunca soube dessa história. – Eriel parecia encantado e entristecido.

_Já era de se esperar. Miguel se sentiu humilhado por Azriel, e proibiu a história de ser registrada ou contada de qualquer maneira, sob pena de morte.

Eriel estava vidrado na história. Gabriel aproveitou para dar continuidade ao assunto.

_Então, se não quiser virar churrasco na mão de Azriel, é melhor que encontremos mais alguns anjos. E acontece que tenho um escondido bem aqui, em Ankara.

_E quem seria esse?

_Ezequiel. – Gabriel encostou o braço no largo encosto da cadeira da cafeteria.

_Está brincando! – Eriel parecia não ser capaz de se conter, tamanho fora o susto. – Ezequiel? Azriel? Eu poderia dançar macarena na torre Eiffel, que vocês nem iam notar!

Gabriel deu uma risada larga e espontânea.

_É, talvez não notassem, mas eu sim. – Gabriel ainda sorria. – Afinal, você foi o primeiro da minha lista.

_E você me deve explicações quanto a isso, irmão. Com tantas estrelas em sua lista...

_Ah não, você não estava na lista de desertores que recebi de Miguel. Não sei dizer onde estava, já que não o encontrei na lista de baixas também. Então o coloquei na minha lista de supostos desertores.

_Supostos? – Eriel se mostrava surpreso.

_A maioria desapareceu na mesma data, e todos sozinhos, não levando consigo nem um membro de seu batalhão. – Gabriel falava em tom mais sério. – E tomaram grandes precauções para não serem encontrados. Foi isso que me chamou a atenção. É como um padrão, seguido por vários anjos, mesmo um não tendo contato com o outro. Debrucei-me sobre pergaminhos por mais de quarenta e oito horas, até encontrar mais um ponto nesse padrão. Em um período máximo de vinte e quatro horas antes de sumirem, todos haviam recebido ordens expressas e diretas de Miguel, assim como você. Miguel queria que você contrabandeasse almas de soldados para o céu, mas essa não é uma de suas ordens mais estranhas.

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