Capítulo 29

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Rafael estava do lado de fora do salão da Alta Cúpula. Sentia que não devia dizer toda a verdade para Miguel, mas precisava dizer-lhe que o trabalho havia sido feito. Não queria passar mais tempo próximo do irmão, que mudava constantemente de temperamento. Assim que entrou, viu Miguel sentado na cadeira oposta a sua, a de propriedade de Azriel.

_Entre, meu irmão. – A voz de Miguel estava carregada de ódio e rancor. – Veja-me em que situação me encontro.

Rafael caminhou a passos largos até ao lado do irmão. Sentia um pequeno calafrio cada vez que o via, e ainda mais agora, vendo-o sentado na cadeira de Azriel.

_Vejo que está finalmente em seu lugar de direito, irmão. – Rafael parou ao lado dele, e só então percebeu as marcas nas mãos e na nuca de Miguel.

_Azriel ainda me confronta, todo o tempo. – Miguel se levantou, e a cadeira havia derretido boa parte de suas vestes e marcado sua pele. – Me confronta sem nem estar presente para olhar em meus olhos. – Miguel virou-se de repente, batendo as costas da mão no encosto da cadeira, fazendo-a tombar e arrastar até o lado oposto, passando violentamente ao lado de Rafael, que precisou se esquivar para evitar ser atingido. – Como ele pode fazer isso? Como pode tomar meu lugar, me humilhar, e ainda debochar de mim, mesmo sem ter a coragem de me encarar? – Miguel gritava, e sua face estava em um tom avermelhado devido à raiva. – Se esconde como um verme, e ainda assim, consegue me machucar!

Rafael tinha o susto e a surpresa pela mudança repentina no humor do irmão estampados em seu semblante. Observava enquanto Miguel esbravejava, andando ao redor da sala. Da mesma maneira que havia enfurecido anteriormente, voltou a sua calma anterior, falando pacientemente com Rafael.

_Como foi a missão? – Miguel virou para o irmão, sorrindo.

_A luxúria voltou ao inferno, como ordenara. Mandei-a para o sétimo inferno, mas o corpo de Kaira não resistiu aos ferimentos causados pela possessão. – Rafael pronunciou a última frase com imenso receio da reação de Miguel, que continuava sorrindo.

_Não há problemas quanto a isso, meu amado irmão. A luxúria poderá ludibriá-lo de outras maneiras. Mas é mesmo uma pena. Era um corpo realmente perfeito para nosso plano. – Miguel deu a mão a Rafael. – Fez um ótimo serviço, meu general.

_General? – Rafael temia até mesmo o toque do irmão.

_Estou elevando seu cargo. Irá começar imediatamente. – Miguel voltou a caminhar pela sala enquanto falava. – Junte nosso exército. Reúna todos os anjos leais a nós e ao novo reino. Nossa guerra está para começar.

Rafael não entendia aonde o irmão queria chegar. Anriel ainda não havia sido localizado, e não havia uma data prevista para a demônia retornar com o colar, se é que retornaria.

_Irei chamar os nossos mais leais, irmão. Onde devo reuni-los?

_Na casa onde você escondeu a possuída. – Miguel falava calmamente, como se estivesse perdido em pensamentos.

_Receio que a casa tenha sido danificada, irmão. Acha que é um bom lugar para reunir nosso exército?

Miguel parou de andar, continuando na mesma posição. Limitou-se a virar lentamente a cabeça.

_Isso não importa. Reúna-os o mais rápido possível. O encontrarei lá.

Rafael voltou a terra com o medo ainda mais instalado em seu interior. Miguel havia enlouquecido. Precisava agir, antes que fosse tarde demais e seu plano de se esconder ficasse comprometido devido ao seu novo cargo. Se fosse visto como general de Miguel, não poderia se esconder por muito tempo, ainda mais se o plano do irmão realmente desse certo.

Assim que se viu sozinho novamente, Miguel parou no lugar onde ficava a cadeira de Azriel, que ainda estava no chão. Apoiou as duas mãos na mesa, e iniciou um discurso para a sala vazia.

_Que se inicie uma nova era! – Miguel falava alto. – Hoje, queridos irmãos, irei iniciar um novo reinado no céu, e eu, sendo o defensor contra a criança nascida na terra, irei ditar as novas ordens a partir deste momento. É com muito pesar que anuncio o falecimento dos nossos membros do conselho, e nomeio os seus sucessores. Mas, se quiserem permanecer sentados nessa mesa, vivos, - Miguel correu os olhos pela sala vazia, fitando todas as cadeiras. – Precisarão cumprir uma missão. Aquele que me trouxer Gabriel e seus anjos leais mortos, será meu sucessor, assumindo o segundo posto de maior comando nesta Cúpula, tornando-se um dos mais respeitados do meu novo reino.

Miguel sorria como se pudesse ver a reação do público imaginário que ocupava o extenso salão oval. Sua insanidade havia dado a seu rosto uma sombra negra, que o envolvia e podia ser vista por todos que o olhassem. Sua obceção em ocupar o lugar de Azriel o havia sucumbido, levando-o a cometer qualquer ato em busca de sua recompensa.

Na terra, Rafael emitiu um sinal previamente combinado, enquanto sobrevoava o alto do Brasil, sobre a cidade do interior onde havia escondido a luxúria anteriormente. Precisava convocar os anjos de Miguel de volta de suas missões, para reunirem-se para a grande batalha. Não podia infringir nenhuma ordem de Miguel, mas precisava dar uma chance de Anriel não cumpri a profecia. Se um dos lados saísse vencedor, Rafael seria condecorado pela sua ajuda. Se Miguel saísse vitorioso, seria o seu novo general e conselheiro. Caso perdesse, cobraria a recompensa pelas informações dadas a Anriel e os anjos de Gabriel, escapando assim de qualquer acusação. Mas o tempo estava acabando, e precisava agir rápido.

Viu os anjos começarem a responder a sua mensagem. Agora que eles se mobilizavam, tinha de esperar a hora certa de agir, sabotando o plano sem que ninguém notasse. Um pequeno conselho, uma dica qualquer, algo que fizesse importância para poder cobrar sua recompensa depois.


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