Capítulo 11

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A casa era pequena, porém seu aspecto era aconchegante. Em um bairro afastado da pequena cidade, a ruazinha parecia ter sido tirada de um conto de fadas, onde havia árvores frondosas nas calçadas, e casas com pequenos jardins, assim como aquela. Suzane estava fechando a porta, enquanto segurava um pano de prato decorado com rendas. Ficou espantada ao ver Eliana em sua casa, enquanto esta rezava para que a mãe não se demorasse com suas recepções recheadas de chá, bolo, e críticas.

_Eliana! Como é bom ver você! Mas o que houve? Machucou-se?

Eliana suspirou fundo, enquanto via suas expectativas irem pelo ralo. Sabia que aquilo ia demorar muito. Quando saiu do hospital, aquela idéia lhe ocorrera, mas ao parar em frente a porta da casa da mãe, tinha sérias dúvidas de que estaria tentando a única solução.

_Estou bem mãe. Foi um pequeno acidente em casa. Escorreguei no chão molhado do banheiro e...

_Desastrada como sempre. – Suzane interrompeu a filha, sem demonstrar muito interesse nos fatos. – Está péssima. Vou lhe trazer um chá.

Suzane entrou na cozinha, e Eliana perdeu bons segundos tentando se controlar para não sair correndo dali. Estava sentada no sofá, ensaiando uma maneira de pedir à mãe o favor de que necessitava. Com uma vasta experiência nos costumes exagerados da mãe, Eliana pensou obter melhor êxito se fosse direto ao ponto, sem mentir, apenas omitindo a parte de suas crises e pesadelos. Por isso, quando a mãe chegou carregando uma jarra de chá gelado e duas xícaras em uma bandeja bem polida, não chegou nem mesmo a esperar que a bebida fosse servida.

_Mãe, vim pedir a chave da casa de praia do Rio.

Suzane parou por um momento. Estendeu o copo à filha, e sentou-se no sofá em frente, ao lado de um enorme vaso de copo-de-leite, olhando-a com uma expressão quase cínica.

_Pretende viajar? Nessa época do ano? Achei que seus negócios naquele escritoriozinho do centro fossem lhe render algum dinheiro. Suficiente para criar juízo, pelo menos.

_Mãe, não tenho tempo para isso. – Colocou o copo de volta na bandeja, sem nem ao menos provar o líquido. – Vou tirar umas férias no Rio, já que realmente estou ganhando um bom dinheiro com os casos que tenho. Mas não quero ter que alugar uma casa, e você sabe a opinião que tenho sobre hotéis em grandes cidades.

Eliana sabia que aquilo poderia não ser suficiente para convencer a mãe, mas não conseguia pensar em uma maneira de tornar aquilo menos demorado. Suzane era uma senhora de meia-idade, que sempre se apresentava elegante, apesar de não ter dinheiro o suficiente para bancar seus luxos.

_Eli, mas que boa notícia! Fico imensamente feliz de saber que seus negócios vão bem! – Ela olhou discretamente para o copo que Eliana depositara intacto na bandeja. – Mas pretende ir à praia apesar desse tempo horrível? Pode não fazer bem à sua saúde.

Eliana nem sequer prestava atenção. Estava acostumada com as constantes críticas de sua mãe à respeito de cada idéia que tinha, além de também criticar sua carreira, suas roupas, sua vida. Tudo nela incomodava a mãe, ou estava, de certo modo, errado. Eliana estava com sérios problemas, pesadelos malucos, desmaios e crises, e tinha cerca de quinze dias para resolvê-los. Não queria perder nem mais um segundo ouvindo as reclamações da mãe.

_Mamãe, a senhora se importa de pegar a chave? Preciso voltar para arrumar as malas, separar alguns documentos...

_Claro, vou buscar para você.

Suzane subiu as escadas para o segundo andar parcialmente reformado da casa. Eliana, ainda sentada, retomou o copo com o delicioso chá gelado que ela mesma colocara na mesinha. Assim que se virou para frente, viu na estante enorme da sala, vários porta-retratos com fotos de família, de quando a mãe era jovem, dela e das irmãs reunidas. Até que uma foto lhe chamou especial atenção. Devolveu o copo à mesa, sem nem sequer olhar para ver onde o colocava. Pegou o porta-retratos que tinha uma das últimas fotos de Eliana e sua mãe, tiradas antes de ela se mudar. Parecia ter notado algo de diferente na imagem, bem ao fundo. Na prateleira de baixo, Eliana viu uma foto antiga, com a imagem meio deteriorada do tempo, de quando ela entrou para a escola. Era um colégio em regime de internato, e Eliana tinha poucas lembranças do lugar, apesar de ser liberada para voltar para casa apenas para as festas de natal e ano-novo. No fundo da foto, porém, Eliana pode perceber que também havia alguém no fundo, mas dessa vez muito mais próximo dela. Na verdade, a primeira impressão que teve era que aquele homem em pé era o homem de olhos azuis de seus sonhos. Claro que aquilo era absurdo, já que ela mesma não teria mais de dez anos naquela foto, e o homem parecia exatamente com a mesma idade que ela via agora. Foi examinando as duas imagens mais de perto, quando o barulho de Suzane descendo as escadas desviou sua atenção. Pegou os dois porta-retratos e colocou-os na bolsa.

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