Capítulo 36

1 1 0
                                    

Já haviam perdido a conta de quantas salas haviam passado desde que chegaram. E agora, viam-se novamente em uma sala de pedras redonda, com aparência mais antiga do que pelas quais haviam passado. Já fazia tempo que estavam presos naquele lugar, sem saber o que fazer. As vozes continuavam sussurrando palavras na mente dos anjos, e agora um desconfiava do outro. Sem ter noção do tempo que haviam passado no inferno, temiam que fosse tarde demais. Temiam que não sairiam dali, e que estavam condenados. Gabriel andava de um lado para o outro, pensando em alternativas, enquanto segurava com uma das mãos as várias costelas quebradas em uma das provas. Ezequiel estava em pé, observando as marcas nas paredes, e as manchas secas de sangue que marcavam as pedras de maneira incomum. Mikael permanecia sentado, pensando, sem mencionar nenhuma palavra.

Ezequiel passava a mão pelas marcas, quando uma delas lhe chamou especial atenção. Sem mencionar o que planejava, o anjo pegou uma pedra, e começou a fazer desenhos pelas marcas de sangue, formando algumas letras. Gabriel e Mikael os olhavam intrigados, enquanto viam várias palavras serem formadas na parede. Ezequiel continuou a ligar as marcas de sangue, e uma frase se formou, para surpresa de todos.

Ezequiel leu a frase em voz alta, enquanto se afastava da parede.

_Perdi a última lembrança que tinha dela. – Ezequiel havia formado a frase ligando as marcas de sangue ressecadas no meio da parede. Olhou para Mikael, que agora estava em pé. – E então? Isso diz alguma coisa a vocês?

_Parece ser o devaneio de alguma alma presa aqui antes de nós. – Gabriel lia a frase mentalmente, procurando um significado.

_Mas não há aqui nenhuma alma, e não acredito que devaneios sejam nossa saída. – Mikael pegou outra pedra do chão, e começou a ligar os outros pontos marcados com sangue. Ezequiel fez o mesmo, e Gabriel pode ler, assombrado, o pequeno texto formado na parede. O leu em voz alta, perante o espanto dos outros irmãos.

_Aqui cheguei em meu primeiro dia, e aqui perdi a última lembrança que tinha dela. O anel caiu de minha mão, e esqueci-me completamente de meu propósito, e da minha vingança.

_Só posso pensar em um autor para esta frase, e digo que temos uma pista muito importante em nossas mãos. – Mikael sorriu. – Órios o ferreiro perdeu a última lembrança que tinha de sua filha nesta sala. Acho que ele gostaria de tê-la de volta.

_Não entendo onde quer chegar Mikael. – Gabriel se virou para ele. – Para que vamos precisar desse anel?

_Órios está a tempo demais nesse lugar, esquecendo-se do motivo pelo qual está aprisionado aqui ainda. – Mikael passava os dedos levemente sobre a areia que servia de chão. – Se encontrarmos esse anel, podemos barganhar o colar.

_É uma boa idéia. – Ezequiel começou a vasculhar a areia próxima a parede onde haviam as escrituras com os pés.

_Não concordo, mas é a única que temos. – Gabriel olhou para a parede. – Se até mesmo Órios não se lembra mais desse anel, como é que nós vamos achá-lo?

Gabriel foi até o lado oposto a Ezequiel, revirando a areia com as mãos, em busca do anel. Barganhar com Órios não parecia uma idéia que acabaria bem, vendo o lugar que ele se tornara o rei. Esperava que após tantos anos de tortura, ainda quisesse se vingar de Miguel.

_Encontrei! – Ezequiel sorriu ao ver o pequeno anel dourado, com uma pedra vinho, adornada com pequenos corações. – Acho que ele vai gostar de ter essa lembrança de volta, depois de tanto sofrimento.

Ezequiel pegou o pequeno anel, mas assim que o fez, uma parede de pedras começou a mover-se, começando a formar uma divisão da sala de pedras. Gabriel correu até o irmão, que segurava o anel, que queimava sua mão. Parecia sem forças para mover-se. Quando a parede estava prestes a se fechar, Ezequiel viu por ela vários arranhões, e palavras de socorro. Vendo que ficaria preso ali até enlouquecer, Ezequiel atirou o anel para Gabriel, e a parede se fechou. Gabriel chegou poucos segundos antes da parede se fechar por completo, batendo o corpo com força contra as rochas.

A ProfeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora