"Ele mata-a,Lucy..."

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-Não te importas mesmo que eu vá?-pergunto ao Ross seriamente. Sinto-me desconfortável por ter tido concordado em ir com a Lucy, a irmã do Beno, dar uma volta, com o objetivo de ela me explicar tudo o que está a ocorrer.

-Lindsay, eu sei que ele era e continua a ser muito especial para ti. E sei como é perder alguém que amamos.-ele responde, o que me faz lembrar num ápice que o pai do meu namorado já não está entre nós.

O loiro fixa o seu olhar num ponto distante do horizonte, enquanto eu apenas o fito, sem nada a vaguear na minha mente complexa. Estou totalmente apagada, é como se só existíssemos eu e ele, e este momento tão pouco perfeito.

Ele percebe a minha dor. Ele tem uma ideia do que custa ficar sem alguém e nem saber o porquê de isso ter acontecido. E isso torna o nosso relacionamento muito mais forte, porque desta maneira não há tantos desentendimentos.

-Eu só necessito de descobrir o que se passou, porque motivo o mataram. Mas o que eu sinto por ele é passado. Tudo é passado, agora. O meu medo do mar, do surf, as lâminas, o Beno...

-A tua anorexia?-ele sugere interrompendo-me e eu reviro os olhos.

-Porra, eu não sou anoréxica, Ross.

-Agora estás melhor, admito. Mas não estás a 100 % e não podes negar isso.-o meu melhor amigo riposta, arqueando uma sobrancelha. Por mais que queira discordar dele, não consigo.

Há uns dias percebi finalmente o quanto estava magra. Os ossos do meu corpo faziam-se notar, o que me surpreendeu. Como é que nunca tinha visto aquilo? Estava tão obcecada com a ideia de ter um corpo elegante que nada estava suficientemente bom para mim.

-Linds, vens?-Lucy chama-me, sorrindo fracamente. Aceno-lhe afirmativamente e dirijo a minha atenção de novo para o Ross.

-Mais uma semana e vamos embora.-ele anuncia, humedecendo os lábios.-Quero aproveitar este fim de férias contigo. Por isso resolve tudo o que tens a resolver, amor, e assim que estiveres finalmente bem com tudo isto vamos tirar um tempo só para nós.

-Fica combinado.-declaro, piscando-lhe o olho, o que o faz soltar uma risada.

-Se tiveres novidades avisa!-ele exclama enquanto dou-lhe um beijinho na bochecha.

-Claro.Até logo, loirinho.-digo, afastando-me, por fim, com a irmã do meu ex-namorado.

(...)

-Porque é que só vieram agora para cá?-pergunto ansiosamente quando entro na nova casa da Lucy. Acho muito estranho a família Anderson ter vindo para Portugal no mesmo mês que eu.

-Não viemos agora, Lindsay. Estamos aqui desde setembro do ano passado.-a menina responde. Tenho pena dela. Com isto tudo ela teve que madurecer muito rápido. Ela aprendeu cedo demais que as pessoas podem desaparecer assim, num piscar de olhos.

Quando estou a preparar-me para fazer outra pergunta, ela parece ler os meus pensamentos e começa de novo a falar.

-A carta estava escondida. Sabes a parede decorada com fotos do quarto do meu irmão? Havia uma imagem que estava emoldurada. Um dia, não sei o que me deu, mas entrei no quarto dele, tinha saudades. Sem querer parti a moldura, e quando ela se desfez no chão reparei que por detrás havia uma carta escrita por ele.

E numa fração de segundos, ela agarra na carta que estava pousada sobre uma poltrona branca e entrega-ma, com os olhos verdes fixados nos meus. Até estes transmitem a dor que ela está a sentir, o que entristece-me repentinamente. Ela não merece isto, este aperto no coração quando se perde alguém.

Memories |Ross LynchOnde histórias criam vida. Descubra agora