"Vou atacar."

1.1K 77 13
                                    

Ouço os passos do meu irmão no andar de cima. Fico estática e muda, para ele não entender que eu só cheguei agora a casa.

Ele não pode saber que eu fui a uma festa. Se ele sabe, dá-me um sermão de duas horas, a falar no perigo que há lá fora, e que eu não posso andar sozinha e blá blá blá.

Acho que ele nunca entende ou entendeu que já tenho dezasseis anos. Já sei o que devo ou não fazer, não preciso que ninguém me diga.

Consigo compreender que ele entrou no seu quarto e que se deitou, o que é muito bom para mim. Desligo a televisão enfurecida. Ele deixa sempre, sempre, sempre a televisão ligada, não me devia ter esquecido disso.

Subo as escadas uma a uma, com o objetivo de o Dylan não ouvir absolutamente nada.

Entro no meu quarto com um sorriso vitorioso no rosto. As pálpebras dos meus olhos parecem estar mais pesadas do que estavam, o que significa que estou cheia de sono e é exatamente por isso que visto o meu pijama, lavo os dentes rapidamente e deito-me logo por baixo dos meus lençóis aconchegantes.

(...)

Acordo com a voz maravilhosa e afinada do meu irmão a cantar a Summer do Calvin Harris (conseguem notar o sarcasmo?).

Ponho-me a pé com os olhos entreabertos e logo me dirijo à casa de banho para tomar um duche.

Mal entro na banheira ligo a água quente e deixo-me ficar em baixo do chuveiro, a pensar na minha insignificante vida. Por momentos, penso no rapaz loiro que veio ter comigo ontem. Faço um esforço enorme para me recordar do nome dele, mas em vão. Deve ser adorado por todas as raparigas, com aquela aparência. Por todas as raparigas, menos eu.

Depois de vestir umas calças justas e pretas, uma camisola de manga comprida branca e as minhas All star também elas pretas, desço as escadas da minha casa rapidamente, com o meu cabelo longo e volumoso a flutuar atrás de mim.

Deparo-me com o Dylan a cozinhar panquecas na cozinha. Ele está virado de costas e agora canta a You and I dos One Direction.

Até que tenho uma certa pena dele. A ex-namorada acabou com ele por mensagem, dizendo que já não sentia o mesmo que em tempos. Deixou-o de rastos, acho que ele a amava mesmo.

Tusso falsamente para ele entender que estou ali mesmo. O meu irmão vira-se rapidamente e esbugalha os olhos quando me vê.

-Lindsay! Hum...- ele coça a sua nunca enquanto as suas bochechas tornam-se rosadas. Diria que ele está envergonhado.-Tu...bem...estás aí há muito tempo?

-Há tempo suficiente para te ouvir a cantar o refrão todo da música.- respondo apenas enquanto ele sorri de forma distraída.

-Fiz-te panquecas.- ele estende um prato à minha frente enquanto me sento.

-Obrigada.

-Então...ontem quando cheguei já devias estar a dormir.- ele começa enquanto eu mordisco a primeira panqueca.

-Sim, eu...estava muito cansada.

-Ouvi dizer que houve uma festa na praia. Tu por acaso...

-Não Dylan, não fui.- minto enquanto olho para ele fixamente e de uma maneira rígida, o que o faz levantar os seus abraços em defesa.

-Ok, ok, já não está cá quem falou.

Mantivemos-nos os dois calados por um longo espaço de tempo, até que ouvimos alguém tocar à campainha. Dylan lançou-me um olhar que transmitia "Estás à espera de alguém?" e eu abanei a cabeça negativamente. Ele dirigiu-se à porta e poucos segundos depois pude ouvir uma voz fina e delicada a falar com o meu irmão.

-Olá, Dylan.- Tris saudou-o com alguma alegria na sua voz.

-Hey.- ele respondeu, sorrindo de uma orelha à outra.

-Ham...a Li está?- ela perguntou, espreitando pelo ombro dele, na tentativa de me encontrar.

-Está...- respondeu enquanto agora me dirigia eu à rapariga.

-Passa-se alguma coisa?- interrogo, pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha direita.

-Eu precisava de desabafar...achas que podes vir dar uma volta?

-Claro.- afirmo, pegando no meu casaco de cabedal preto que se encontra no cabide ao pé da entrada de casa.

Nem era preciso perguntar o que se passava. Quando ela fica mais sossegada, mais corada e a morder o seu lábio centenas de vezes sei o que está a perturbar a mente dela.

Rapazes.

Somos melhores amigas desde a primária, sei como ela é. Porém, este ano deixamos de andar tanto tempo juntas. Basicamente falamos quando ela quer desabafar ou quando alguma de nós tem um problema qualquer.

-Quem é ele?- questiono, querendo saber de quem ela gosta agora, enquanto a faço sentar no parapeito com vista para a praia. Não é que gostasse muito daquele lugar, mas às nove da manhã até que é calminho.

-Bem...- ela diz enquanto ajeita a sua saia branca e preta- Tu conheces-o...

-É alguém da nossa turma?

-Não, Li...é o Dylan.

Os meus olhos fixam-se nos dela após a menção daquele nome. Apenas conheço um Dylan, e ele dá-se bem melhor comigo do que eu esperava. Como assim, ela gosta do meu irmão?

-Estás bem?- ela indaga quando entende que estou sem reação.

-Sim, só...um pouco admirada.- respondo enquanto vejo ao longe, a surfarem no mar, dois rapazes. Um traja um fato preto e azul e o outro tem um preto e amarelo.

-Bem...era isso. Tenho de ir, Li. Até logo.- ela despede-se enquanto começa a correr até ao café mais perto da praia.

Deixo-me ficar de costas voltadas para a areia, para o mar. Aqueles dois surfistas trouxeram ao de cima algumas das minhas boas recordações.

Nunca mais voltei a surfar. Nunca mais entrei no mar, nunca mais senti o seu cheiro ou o seu sabor a água salgada.

-Hey, pequena.- alguém me cumprimenta do meu lado esquerdo. Quando olho para este mesmo, vejo o rapaz de ontem à noite.

Levanto-me bruscamente e cruzo os braços. Ele faz exatamente o mesmo e fixa o seu olhar no meu.

-Que queres, loiro?- questiono amargamente enquanto ele me continua a encarar. Ele está todo molhado, por causa do mar, mas mesmo assim, o seu cabelo está impecável.

Idiota.

-Então?! Onde está a simpatia de ontem?

-Não existe. Digamos que ontem tive de fazer um favor a uma amiga.- digo de cabeça erguida, continuando a olhar para ele secamente.

-Ok...olha, será que me podias dar o número daquela miúda que estava contigo?- interroga apontando para o café que a Tris se tinha dirigido.

-Não.

-Obrigada, bem, podes escre...espera, o quê?-o loiro indaga perplexo, com uma expressão carregada.

-Não.- volto a dizer com claridade na voz.

-Pronto, ok! Nem sei o que me deu na cabeça para ontem ter falado contigo...- murmura enquanto se afasta. Depois disso, começo o meu caminho até a casa, esperando que o Dylan já não esteja lá.

Pov Ross

-Man, é impressão minha, ou ela deu-te com os pés na cara?- pergunta Riker sentado na areia, com a sua prancha de surf ao lado.

-Deu mesmo.- digo baixinho, sentando-me ao lado dele.

-Não disseste que ela era demasiado fácil?

-E era! Não sei o que se passa com a miúda!-exclamo enervado enquanto gesticulava com as mãos. Riker lançou-me um sorrisinho malvado, o que me enfureceu mais.- O que é?!

-Pensa pelo lado positivo. Pelos vistos, ela é gira, e difícil.

Calo-me no exato momento em que ele diz isso. É verdade, ela é gira, e difícil, como eu gosto. Vou atacar.

Memories |Ross LynchOnde histórias criam vida. Descubra agora