"Quero viver a vida."

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Recupero os meus sentidos lentamente, enquanto me apercebo que estou deitada numa cama confortável e espaçosa. As pálpebras dos meus olhos parecem mais pesadas do que nunca. Então, num ato de extrema preguiça, deixo-me acordada, apesar de dar sinais de não o estar.

Respiro calmamente ao mesmo tempo que sinto um cheiro invulgar, mas que com o qual eu já me havia cruzado. Se não me engano, é o cheiro característico dos quartos dos hospitais.

Sinto o calor de alguém a ser transferido para a minha mão direita. Não me importo muito com isso. A vontade de estar de olhos fechados é maior que a vontade de descobrir quem é a pessoa que está aqui, bem do meu lado.

Não me lembro muito bem porque razão estou num sítio como este. Ou porque tenho tantas dores distribuídas por todo o corpo. Ou porque as pessoas que me rodeiam falam com tanta tristeza e monotonia na voz.

-Devias descansar. Estás aqui há tanto tempo...os médicos começam a achar que quem está doente és tu.- uma voz feminina anuncia. Não provém daquele indivíduo que se agarra fortemente a mim.- Há quanto tempo não comes?

Sinto os lábios macios de quem me agarrava a mão a colarem-se na minha bochecha. Depois, apercebo-me que se afasta, e suspira profundamente.

-Não fales comigo como se me conhecesses.- ouço um rapaz a dizer. Mas aquele tom de voz...baixo e grave, como se toda a felicidade tivesse sido sugada do seu corpo...eu conheço aquela voz. E eu amo aquela voz. Eu amo o rapaz a quem ela pertence.

Obrigo-me a, finalmente, abrir as pálpebras dos meus olhos castanhos. Eu preciso de o ver pela primeira vez em semanas.

O cabelo loiro dele cresceu alguns centímetros enquanto ele esteve na prisão. Está um pouco sem vida, mas não perdeu aquele encanto que sempre teve. Os seus olhos encontram-se inexpressivos, e por baixo destes, existem umas olheiras escuras. Ele não deve dormir faz dias. E o seu rosto apresenta-se num tom amarelado. Ele também não deve a andar a comer nada.

-Ross?...- murmuro, não acreditando que aquele rapaz está mesmo à minha frente.

-Lindsay...- o loiro sussurra também, com os seus olhos marejados de lágrimas.- Eu tinha tanto medo de te perder...

Instintivamente, sento-me a todo o custo, e abraço-o o mais forte que consigo. Consigo sentir o cheiro acolhedor dele, aquele pelo qual eu me apaixonei. As lágrimas começam a cair teimosamente na t-shirt do Ross.

-Desculpa.- peço por entre soluços. Eu nunca devia ter duvidado dele. Não se duvida de quem se ama.- Eu não te merecia, eu não soube confiar em ti. Mas eu amo-te, eu...

Ross interrompe-me, encostando os seus lábios nos meus. Tinha saudades daquele conforto e segurança que só ele me dava ao beijar-me, tinha saudades de sentir aquele seu sabor tão especial e incomum.

-Não digas mais nada.- ele murmura, colocando um dedo em frente aos meus lábios.- Não tinhas maneira de saber que eles estavam enganados. Porra, Li...eu amo-te tanto. Eu só quero voltar a estar contigo.

-Eu também te amo. Muito.- respondo apressadamente, enquanto tento parar de chorar.- Eu sei que não o demonstro vezes suficientes, mas eu realmente amo-te com todo o meu coração. Eu nunca senti isto por ninguém, Ross. Tu fazes-me sentir viva de novo. Eu só quero estar contigo. És a minha prioridade. És essencial na minha vida.

O Ross observa-me seriamente. Segundos depois, ele esboça um sorriso de orelha a orelha, enquanto os seus olhos se enchem de alegria. Meu Deus, tinha tantas saudades daquele sorriso humilde e maravilhoso.

Memories |Ross LynchOnde histórias criam vida. Descubra agora