"Ross, ela ama-te."

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Duas semanas depois...

Pov Ross

-Ross!-a minha irmã grita da cozinha.- Nós vamos até à praia, queres vir?

Não lhe respondo. Continuo no meu silêncio profundo, enquanto o meu corpo está inerte sobre a cama. Não mexo nem sequer um músculo, é como se estivesse paralisado, como se até os meus pensamentos desvanecessem por uma questão de segundos.

Quer dizer, não é bem assim. Há algo que, por mais que queira, não me sai da cabeça. Já tentei, mas isto é mais forte que eu.

Aquilo que sinto por ela é mais forte que qualquer coisa, eu já devia saber disso. A verdade é que já se passaram duas semanas desde a nossa separação, e eu não consigo simplesmente ultrapassar.

De súbito, as recordações vêm à superfície, e, por momentos, fecho os olhos, revivendo o momento onde tudo o que nos construíramos desaparecera...para sempre.

"Vi a Lindsay a sair da cabana onde se fazia o pagamento das canoas. Ela parecia trastornada, o que me assustou.

-Amor?...-chamei, mas ela apenas passou por mim e sentou-se na relva, a fitar a água do lago onde andáramos há pouco. Ela parecia...distante. Algo não estava bem, e eu sentia isso. Só não conhecia o motivo, uma vez que ainda há cinco minutos ela estava mesmo muito feliz.

Deixei que o meu corpo caísse à beira do dela, enquanto que a olhava. Porra, ela era tão bonita. Os olhos dela eram como as estrelas. Aquelas estrelas que admiramos por serem as mais brilhantes de entre todas as outras. Oh céus, sim. A Lindsay realmente era a mais brilhante delas todas.

E a pele dela. Fazia-me lembrar uma boneca de porcelana, daquelas que a minha mãe colecionava. A sua palidez fazia com que as suas pequeninas sardas e os seus lábios rosados se destacassem de uma forma extraordinária, como eu nunca antes tinha visto.

-O que aconteceu?- acabei por perguntar, despertando dos meus pensamentos.

Ela suspirou alto o suficiente para eu ouvir, e assim que a Li o fez, eu entendi que algo não estava bem. Para a incentivar a contar-me o que sucedera, entrelacei a minha mão com a da morena.

-Os funcionários daqui conheceram-me. Acham que se um patrocinador me vir, consegue voltar a pôr-me nas competições de surf.

-Mas isso é fantástico! Estou tão orgulhoso de ti!- exclamei, entusiasmado. Ela tinha um dom, era só uma questão de tempo até que reconhecessem o talento dela...mais uma vez. Tentei abraçá-la, contudo, ela afastou-se.

-Para que isso aconteça...eu tenho que ficar a trabalhar aqui.- ela murmurou, com um tom de voz agudo. Se não a conhecesse, diria que ela estava com aquela dorzinha na garganta, aquela que aparece quando estamos à beira das lágrimas.

-Aqui...em Portugal?- disse, percebendo finalmente a situação.

Quando ela assentiu, compreendi finalmente a razão de ela estar tão estranha. Se ela escolhesse ficar, isso afetaria o nosso relacionamento, um vez que estaríamos a milhares de quilómetros um do outro durante...meses? Talvez anos?

Uma relação à distância durante tanto tempo? Aos olhos da Lindsay, isso não resulta, nunca resultou. Ou perdemos o interesse pela outra pessoa, ou acabamos por nos envolver com outras...ou os dois.

A Lindsay tinha de escolher: ou ela e o surf, ou ela e eu.

E eu sabia que ela não podia perder aquela oportunidade. Era uma grande hipótese de voltar ao surf, de voltar àquilo de que ela realmente gostava. Eu não a podia impedir de simplesmente desistir dos seus sonhos. Eu não a deixava desistir de algo tão grandioso e magnífico por minha causa.

-Fica.- disse, sem pensar duas vezes. Fixei os meus olhos nos dela, enquanto estes me observavam perplexos.

-Ross, eu não vou abdicar daquilo que nós...

-Fica.- repeti, interrompendo-a. Pensar sobre o assunto só iria magoar-me mais ainda. Apenas quero que a Li seja feliz a fazer aquilo que ela ama. Só quero o bem-estar dela, e se isso significa que a nossa relação tem que terminar...então sim, eu abdico disso, apenas para garantir a felicidade dela.

-Mas eu não sei que decisão tomar.- ela confessou, num tom mais preocupado desta vez.

-Já te disse o que devias fazer.

-Porra Ross, e nós?- ela gritou, franzindo o sobrolho. Levantei-me calmamente. Carago, claro que eu adorava que ela ficasse comigo, claro que queria que ela voltasse comigo para o Havai. Mas dessa forma, eu estaria a ser egoísta. Ela tem de seguir o seu sonho.

-Vamos estar a milhares de quilómetros um do outro. Talvez o melhor seja afastarmos-nos.- sussurrei, começando a caminhar. Era preferível assim.

-Estás a acabar comigo?!- a morena perguntou, mas eu nem cheguei a responder. Continuei a andar em direção ao carro do Rocky. Só desejava sair daquele maldito lugar.-Ross! Fogo, tu nunca gostaste de mim porra! És um parvo!

E foram as últimas palavras que ouvi antes de fechar a porta do automóvel.

Além das últimas, foram as palavras mais difíceis que alguma vez já ouvi. E aquelas que mais me magoaram."

Decido levantar-me, achando que todos tinham ido para a praia.

Assim que estou quase a deitar-me no sofá, Riker aparece, fazendo com que eu me assustasse. Ele está com uma cara bastante séria, o que me leva a entender do que vai o meu irmão mais velho falar.

-Só estás assim porque queres.- ele anuncia, com uma voz sossegada. Se não fosse proveniente dele, tinha-me transmitido uma certa tranquilidade.

-Não fales disso.

-Estás em negação há duas semanas, Ross. Mas não te esqueças de que eu conheço-te bem. Conheço-te mesmo muito bem. Armas-te em duro, dizes que está tudo bem e tens atitudes que o demonstram. Na maior parte das vezes divertes-te, conheces pessoas e convives com novas raparigas. Yha, és um grande ator, mano. Mas eu sei bem o que estás a fazer. Queres abstrair-te dela.

-Poupa-me.- apenas digo, revirando os olhos.

-Não, tu sabes que eu estou a dizer a verdade. De dia ages como se nada fosse, o problema é realmente a noite. Pensas que não sei que vês antes de adormeceres as vossas fotos? Puto, tu de mim não és capaz de esconder nada.

-Querias que eu fizesse o quê? Que a trouxesse para cá à força? Ambos sabemos que com a minha ajuda ela não ia chegar a lado nenhum!- exclamei, passando a ponta dos dedos no meu cabelo que havia crescido consideravelmente.

-Queria que lhe tivesses dado opção de escolha! Não percebes? Mesmo de livre vontade, ela iria escolher-te a ti. Irias ser sempre a prioridade dela. Caramba, Ross, ela ama-te.

-Sabes bem que eu também tenho fortes sentimentos por ela. Mas a vida é mesmo assim, mano. As escolhas mais difíceis são sempre as escolhas mais certas. E eu sei que, mais tarde ou mais cedo, ela vai ter um futuro comprometedor pela frente.- digo, suspirando. Eu preciso mesmo de fazer esta pergunta.- Tens falado com ela? Como é que ela está?

-Queres que te seja sincero?- ele interroga e eu assinto.- Ela chora todas as noites. Ela sente muito a tua falta.



Espero que tenham gostado deste meu regresso! Deixem as vossas opiniões nos comentários! Adoro-vos a todos! Beijinho, e até ao próximo!

Memories |Ross LynchOnde histórias criam vida. Descubra agora