Quase parto a porta de vidro transparente apenas para passar. Assim que o vejo mais de perto, a minha respiração acelera-se e mais lágrimas caem dos meus olhos. O meu choro é bastante audível.
Chego-me mais perto dele e afago os seus cabelos castanhos. Ele está sem expressão, pálido e de olhos fechados, como se estivesse apenas a dormir a sesta.
-Vou deixá-la a sós com ele.- anuncia num tom de voz baixo um rapaz novo que devia estar a identificar a morte do meu namorado.
Assim que ele sai da sala, eu entro em desespero. Não sabia o quão difícil era ver o meu namorado mesmo à minha frente, sabendo que não podia fazer nada para o acordar. Pergunto-me se os pais dele já sabem o que lhe aconteceu e a minha consciência responde-me que não.
Passo a minha mão esquerda pelo cabelo ainda molhado do mar, enquanto a minha mão direita continua a afagar os cabelos dele. Pouco depois, a dor de garganta volta e o meu choro torna-se mais forte outra vez.
-Oh, Beno...que te aconteceu...- murmuro, puxando uma cadeira que se encontrava perto dali e sento-me. Deito a minha cabeça no peito dele delicadamente, como se ele estivesse frágil e não pudesse suportar grande peso. Agora percebo a função do pano branco que cobre o meu namorado da cabeça ao pescoço. É preciso examinar o corpo todo da vítima, perceber o que aconteceu. O pano cobre vários ferimentos sejam eles graves ou ligeiros, deduzo. Também pode ser simplesmente pelo facto das vítimas serem postas ali sem alguma peça de roupa.
Continuo com a minha cabeça encostada nele e a minha mão direita continua a afagar aqueles cabelos castanhos tão macios, o meu choro torna-se em soluços, o que eu detesto. Fecho os olhos e tento não pensar em nada, o que não é bem sucedido.
-Ah...- tosse o homem loiro, com o objetivo de se fazer ouvir- Precisamos de te fazer algumas perguntas.
-Oh...- digo, desencostando-me do Beno enquanto seco as lágrimas com as costas das minhas duas mãos- Ok.
Sigo o agente um pouco destroçada por não poder estar mais com o meu namorado, nunca mais. Entramos novamente no cubículo com uma mesa prateada, onde está o Steve sentado provavelmente à minha espera. Ele manda-me sentar apenas com um aceno e eu obedeço. Steve observa-me, possivelmente por ter os olhos vermelhos de tanto chorar. Posso afirmar que vi um misto de condolências nos olhos dele, o que me fez gostar mais dele.
-Danny, podes sair. Quero falar com ela a sós.- ordena Steve ao homem loiro, que agora sei que se chama Danny. Depois de este se retirar, o agente restante naquela sala deixa um silêncio pairar nesta mesma.
Penso em como de manhã eu estava tão bem, e como o Beno estava tão bem ontem à tarde, a última vez onde estivemos juntos.
"-És tão doido!- exclamo dando uma pancada de leve no braço direito do meu namorado. Estamos no bar da praia que eu frequento, ele é super fixolas. Tem um ambiente tão calmo e é decorado por sofás brancos e por candeeiros modernos, o que o faz ficar ainda mais acolhedor.
-Mas tu amas-me.- ele responde, fazendo aquele olhar idiota dele que eu amo. Rio-me em voz alta, fazendo com que ele se ria também.
-É verdade. Eu amo-te tanto, tanto, tanto.- admito e ele chega-se para mim, pondo o seu braço esquerdo à volta dos meus ombros.
-Vou-te dedicar a música que vou cantar hoje no programa. Como é a última gala tenho de sair em grande.- o Beno anuncia e eu sorrio. Olho-o nos olhos e ele faz o mesmo. Não sei como, mas eu vi tudo o que eu desejava nele. Ele é humilde, divertido e sabe como cuidar de mim. É simplesmente perfeito.
-És um feio lindo, Beno.- digo, chegando-me agora eu para perto dele, para um beijo curto e apaixonado, para um beijo calmo e que diz muito. Após ele responder ao beijo eu abraço-o e ficamos assim por muito tempo. Um abraço forte pode resolver todos os meus problemas, e aquele resolveu.
-Vou fingir que isso fez sentido.- ele responde num tom sarcástico e baixo para a voz dele enquanto ainda estamos abraçados. Sinto que ele afunda o seu rosto no meu ombro e eu faço o mesmo no seu. Sem exagerar, nós passamos dez minutos abraçados, no café, não querendo saber do que achariam de nós, dois malucos colados sem conseguirem se largar."
-Então.- começou o Steve, pondo ambas as suas mãos em cima da mesa cor de metal-Encontramos impressões digitais tuas na roupa da nossa vítima, o Mr.Anderson. Que tens a dizer?
-Eu e o Beno...
-E o Benjamin, sim.- diz o Steve interrompendo-me, o que eu detesto porque eu amo, amo mesmo chamar o meu namorado de Beno.
-Eu e o Benjamin...- corrijo, já com uma nova dor na garganta, que quase me impede de falar. As lágrimas teimam em sair dos meus olhos, e portanto mordo o lábio na tentativa de elas ficarem onde estão, o que não acontece.-...éramos namorados. Estivemos abraçados ontem.
-Tens alguma ideia do que pode ter acontecido?- Steve indaga, ansiando por uma resposta, ele batuca com os nós dos dedos na mesa, o que faz um barulhinho.- Ele foi encontrado nos bastidores do programa, pronto a sair.
-Não.- nego, fechando os olhos e suspirando, continuando a evitar as lágrimas.
-Ele estava em primeiro, presumo?- ele pergunta com alguma delicadeza.
-Não.- digo, arqueando as sobrancelhas e dizendo num tom leve.- Ele estava em penúltimo, não vejo a razão por alguém o querer ver morto.
-Hm...- Steve sussurra, parecendo pensar no caso.- É tudo. Aconselho-te a não pensares muito no assunto, vai distrair-te.
Quero descarregar a minha dor no Steve dizendo-lhe "Acha que é fácil não pensar no assunto seu estúpido?". Mas contenho-me e fico apenas por um ok.
-Mantenham-me informada.- anuncio com as lágrimas já no meu rosto.
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Memories |Ross Lynch
Hayran KurguLindsay Holt tinha tudo aquilo que uma típica adolescente desejava. Amigos. Um namorado. Uma bela vida pela frente. Mas quando menos esperava, Li recebe uma notícia trágica que lhe retira toda a sua felicidade. Chorar todas as noites faz parte da ro...