- Aleluia! - disse a Leonor, olhando para a rapariga que descia as escadas. Isabela revirou os olhos e saltou do 5º degrau, aterrando de quatro mesmo ao lado da mãe, que soltou um guincho.
- Isabel! Já te disse mil vezes! Um dia ainda te magoas a sério. Porque demoraste tanto? - perguntou Leonor, severamente.
- Bolas, mãe. Estava a falar com o David, ok! - respondeu a rapariga. A mãe olhou-a. Era uma rapariga única e especial, com uma beleza diferente do habitual. Os seus cabelos negros, lisos e de comprimento médio emolduravam perfeitamente a sua face, de olhos azuis e lábios naturalmente vermelhos e carnudos, que faziam as delícias dos rapazes. Mas Isabela nunca lhes ligara muito, rejeitando amavelmente os convites dos que tinham coragem de a convidar. Até que um dia, à cerca de um ano, conhecera um rapaz. Eram verdadeiramente perfeitos um para o outro.
Leonor sorriu para a filha, que lhe devolveu o sorriso.
- Tens tudo o que precisas? - perguntou a mãe.
- Sim... - e dito isto olhou para a mala, enumerando mentalmente os items recolhidos.
- Tens a certeza?! Olha que é muito tempo.
- Sim, tenho a certeza. Muito tempo... São menos de duas semanas. - respondeu, dirigindo-se à entrada da casa. Abriu a porta, a tempo de ouvir o pai buzinar e vir à janela do carro gritar:
- Já estão prontas?!
- Sim, sim! - respondeu a filha, correndo para o carro e abrindo a bagageira para arrumar a mala.
Leonor saiu de casa, fechando a porta e entrou para o carro. Arrancaram finalmente.
- Onde temos de te deixar mesmo? - perguntou o pai, guiando pela estrada vazia da zona urbana. Muitas famílias já tinham partindo de férias, deixando o bairro quase desabitado.
- Jorge, já repeti mais do que necessário. Nunca tomas atenção. - disse a mulher.
- Ok, eu esqueço-me, e então. - respondeu o pai. Isabel riu-se. Os seus pais ficavam mesmo bem juntos: o esquecimento do pai e o over stress da mãe. - Mas vá, é na escola, certo. - a mulher assentiu e guiaram o caminho de 10 minutos até à escola.
Chegados lá, encontraram o portão aberto e entraram. Não havia vivalma.
- Viemos tarde? - perguntou a mãe, entrando em pânico.
- Calma! Viemos foi muito cedo. - respondeu a filha, sentando-se na mala. - Agora temos de esperar.
*
David desligou o computador e vasculhou o quarto, procurando a mala de viagem que a mãe lhe preparara de véspera. Finalmente encontrou-a debaixo da cama, abriu-a e atirou lá para dentro um par de livros, um mapa da cidade de Nova York e uma máquina fotográfica. Passou a mão pelo cabelo ruivo espetado antes de fechar a mala. Para essa tarefa, teve de se sentar em cima da mala, fazendo pressão para a fechar. Bonito seria quando a tivesse de abrir, mas isso era um problema para depois.
Olhou para o relógio de parede e praguejou. Três minutos para o autocarro. Pegou na mala e correu escadas a baixo, em direção à sala, onde encontrou o pai a sornar. Deu-lhe um ternurento beijo na testa, que o fez resmungar, mas sem o acordar. Deixou um bilhete aos pais e saiu de mansinho. O autocarro não tardou.
- David! - alguém gritou atrás de mim. Olhei para trás e vi um figura correr para a paragem, carregado com uma mala que parecia pesar mais que 10 malas juntas. Um euro-asiático de pele clara e cabelo negro mas uns raros olhos verdes sorriu para ele, recebendo um caloroso sorriso de volta.
- Ken! Queres ajuda com isso? - perguntou, apontando para a mala. O Ken acenou negativamente e levantou-a acima do ombro para poder entrar atrás do David. Sentaram-se nos lugares ainda vagos no autocarro, que partiu aos solavancos.
