p.o.v Isabela (e agora será sempre ela a narrar até "ordem" em contrário)
A procissão da gruta seguia lenta e silenciosa. Pé ante pé, seguíamos o caminho desconhecido com cuidado.
Quando levantei a mão, já sabia o que estava para vir. Eu sabia que David era ciumento e já estava à espera do tratamento do silêncio que ele agora me dava. Atrás de mim na fila, sentia a sua respiração triste e lenta.
À 5 anos que namorávamos e nunca tinha havido nenhum problema. Mas desde o incidente... Bem tenho de admitir que a parte sobrevivente do David não é muito desenvolvida e ele é um rapaz que gosta de ter o controlo sobre tudo.Infelizmente, até sobre mim. Nunca me importei muito, não entendo o que mudou.
E olho para a frente. O Gonçalo é meu amigo desde sempre, mas quando chegou à escola este ano, parecia diferente. Senti algo que nunca tinha sentido por ele, não sabia o que era até aquele sonho e agora, mesmo sem nenhum de nós ter feito nada, sinto que traio o David. Ai!!!
- Acho que vejo ali alguma coisa. - a voz do Gonçalo arrancou-me dos meus pensamentos. Tínhamos chegado a uma parte mais larga da gruta, onde podíamos andar 2 a 2. Queria ir ao lado do David e falar com ele, mas não consegui. O Gonçalo puxou-me para o lado dele para me dizer algo, escusado será dizer que nem tomei atenção.
Tentei abstrair-me e pensar noutra coisa, mas nada a fazer. A cara do Gonçalo do meu sonho enquanto me beijava não me largava e ter a pessoa real ao meu lado a falar comigo sobre qualquer coisa acerca de quedas não ajudava. Quedas...?
- Gonçalo, cala-te! - gritei, exasperada - Estás a assustar a Laura! - efetivamente, a rapariga estava branca como um fantasma e com lágrimas nos olhos. Caminhava ao lado do David, atrás do Ken e da Stevei. A Stevei ainda não largara o Ken, elogiando a sua coragem e o seu físico. O rapaz parecia gostar, mas notava-se uma ponta de cansaço nos olhos. Ouvir aquela chata não devia ser fácil E ainda por cima tê-la agarrada ao braço, praticamente deitada sobre ele.
- Ai, desculpa. - respondeu Gonçalo, insultado. Estranho para ele.
- Não... não és tu... - e contei-lhe ao ouvido sobre a Laura e os ciumes sobre o Ken. De vez em quando olhava de relance o David, cujo sobreolho se reforçava.
- Ai... Isso é duro... Mas parvo.
- O que?!
- Tipo, essas cenas de miúdas são escusadas, os rapazes detestam atenção e já reparaste nisso. - e apontou para a cara de enjoado do Ken. - Vocês deviam ser mais simples, tipo, se um rapaz gosta de uma rapariga ele di* - interrompeu-se de repente, deixando-me intrigada.
- What?
- Nada. Mas facilitem. - concluiu, deixando-me na mesma.
*
- UAU! Isto.É.Magnifico!
Chegamos a uma parte profundíssima da gruta, com um grande lago esverdeado e iluminação natural vinda das paredes. Uma magnifica cascata de água corria do teto e pequenas criaturas marinhas nadavam aqui e acolá nas poças criadas. Aproximei-me da água e provei.
- É água salgada. - exclamei. E bocejei.
- Cansada. - perguntou o David, secamente.
- Acho que sim... E fome.
- Quem concorda numa pausa? - todos levantaram o braço.
Atiramos as malas para um canto e sentamos-nos num circulo. Deitamos algumas das nossas provisões na pedra e deitamos mãos à obra.
- Nunca pensei que uma banana soubesse tão bem quando temos fome. - riu-se a Stevei. Pelo menos três pessoas olharam para ela com ar censurador - Que foi?
Depois do pequeno jantar, deitamos-nos de costas na pedra, olhando o topo da gruta e ouvindo o som da cascata.
- Sabem que mais? - perguntou o Ken, quando a Stevei tentou deitar a cabeça no seu tronco - Apetece-me um mergulho. - e sem mais discussões, tirou a t-shirt e os calções e mergulhou na água gelada. - Bree... Mas está boa.
A Laura olhou para a Stevei, que parecia indecisa e tirou a saia e o top, mergulhando suavemente na lagoa. Eu seguia, divertida e o Gonçalo e o David fizeram bomba atrás de mim.
- Vocês só podem ser descritos numa palavra. DOIDOS! - riu-se e mergulhou atrás de nós.
