Capítulo XXX

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 Deito-o na areia e, com dois estalos bem dados, tento acorda-lo. Nada.

 - Não! Ken, não! Não te vás a baixo. Já.Chega.De.Morrer! - digo. E com isto, coloco as palmas esticadas sobre o seu peito e pressiono-o. A minha ideia era fazer respiração boca a boca (achei mesmo que ia resultar? Não é que ele se tivesse afogado) mas é então que uma luz muito forte me cega. Afasto a cara, mas as minhas mãos parecem coladas ao seu peito.

 - Bela, estás a fazer magia! Magia pura de coração! - exclama a Secilia, agachando-se ao meu lado para ver melhor.

 Vejo que ela tem razão quando olho para a cara do Ken. Lentamente, a luz parece ter entrado na circulação dele e ilumina o corpo em tons dourados. Os papos de cansaço desaparecem instantaneamente, o negro do olho fica amarelo, verde, vermelho e depois não fica: vai. E finalmente, o nariz move-se, o sangue que por ele escorre para de repente, até todo o seu corpo recuperar do cansaço e ele abrir os olhos. Ao ver-se num dourado claro, abre muito os olhos e exclama:

 - Yai! Que raio é isto?! - olha para as minhas mãos e afasta-se - Fizeste-me isto?

 - Eu... acho que... Sim, diz que fiz. - digo, quase a rir.

 - Ela usou uma magia de cura pura, sem recurso a feitiço. Só ocorre quando se sente amor verdadeiro por algo ou alguém. - explica a Secilia. E ao ver as nossas caras, acrescenta muito rápido - O amor também se manifesta em forma de amizade, gentinha!

 - Tu... és uma bruxa?!

 - Sim, mas prefiro feiticeira. - digo, com um sorriso. E é então que algo me atinge - A Laura!

*

 - Quod sonus non profanat sacrum adhibeo!

 O feitiço está lançado...

*

 A praia está uma loucura. As pessoas arrancaram literalmente as suas roupas e atiraram-nas para o fogo acesso em volta de um poste, e pintaram máscaras guerreiras com lama. No poste, vestida com um vestido branco e comprido que toca o fogo, Laura grita por ajuda, sufocando com o fumo.

 - EI! - eu grito. Os selvagens viram-se para nós. E as suas caras parecem confusas: duas raparigas que parecem saídas de um spa e que eles julgavam mortas e um rapaz que feriram gravemente mas que, no entanto, não ostenta feridas visíveis - MAS VOCÊS SÃO ALGUNS ANIMAIS?! Parem com esta locura imediatamente.

 Por alguma razão, eles obedecem. Entre eles encontram-se adultos, o que me deixa a pensar porque me terão obedecido. É então que me vejo pelos seus olhos: uma mulher saída dos mortos, com as mãos ainda brilhantes do feitiço e uma postura altiva. Devo mesmo parecer uma deusa, ou assim... Mas não sou só eu. Quando a Secilia fala, todos ouvem com o mesmo respeito.

 - Apaguem imediatamente esse fogo! É importante que mais ninguém perca a vida nesta ilha. Temos algo para vos contar.

 Resignados, os selvagens apagam o incêndio e Laura corre diretamente para os braços de Ken, que a recebe com um beijo apaixonado.

20 minutos depois

 - E é por isso que precisamos da vossa colaboração.

 Até estão a aceitar isto bem. Apenas interromperam uma vez quando lhes contei que somos feiticeiras e a Secilia teve de lhes provar com um feitiço.

 - E o que devemos fazer? - pergunta a Teresa. Estão mesmo a colaborar, isso é bom...

 - Precisamos que matem o máximo de animais que conseguirem encontrar. O resto é connosco. Mas devem permanecer nesta bolha! É de estrema importância que ele não descubra o que estamos a fazer.

 - Matar animaizinhos indefesos?!

 - Isso ou humanos. Escolhe. - diz a Secilia.

 - Quantos?

 Conto os sobreviventes. É incrível que de todos os que embarcaram, apenas 9 tenham chegado onde estamos agora: Eu, o Gonçalo ( mas esse está fora da conta... ), o Ken e a Laura, a Secilia, a Teresa, o professor de E.D. e um casalinho gay, que sobreviveu quando se tornaram, logo no início, Messias de uma nova religião, yeatuismo... WTF?!

 - 6. Vai ser rápido.

 1 hora e meia depois

 Pelos vistos, a ilha não tem muitos animais, e andamos à pesca. Foi dificílimo encontrar 6 peixes, que fugiam constantemente das redes improvisadas.

 Mas conseguimos, e isso é que importa. O feitiço tinha retido as almas dos animais dentro da bolha, mas estava na hora de os libertar. Mas primeiro:

 - É importante que fiquem escondidos e em silêncio até nos voltarmos. Vai determinar se o plano funciona e escapamos ou se temos todos uma morte horrível e passamos a fazer parte do corpo de uma espécie de demónio. - digo. Todos acenam, aterrorizados com a ideia.

 A Secilia e eu rebentamos a bolha e vê-se claramente as almas, vapores de várias cores, consoante as auras dos animais, voando em direção à ilha. Uma pergunta assalta-me a mente:

 - Como fizeram para que as almas se concentrassem na montanha?

 - Espanta espíritos invertido. Também é um pouco por isso que a tecnologia falha imenso aqui...

 Olho para ela e vejo uma pequena lágrima no canto do seu olho. Percebe-se claramente que está cheia de medo e por isso, estendo a mão para ela:

 - Aconteça o que acontecer a seguir... estamos todas juntas nisto. Mana. 






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