Capítulo XIV

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- Como é que isto veio aqui parar? - perguntou o David.

- Queremos mesmo saber? - perguntei. Olhei para o avião despenhado à nossa frente. Era um espetáculo verdadeiramente horrendo.

- Cheira a morte... - disse o Ken, voltando a vomitar de seguida. Desviei o olhar e, com súplica no olhar, implorei ao Gonçalo para irmos em bora.

- Agora? Não vês que estamos perante uma pista importante?

- Mas pista do quê? Estás doido? - gritei-lhe.

Fez-se silêncio.

- Ok, queres saber! Está alguém nesta ilha.

- Claro que está! Estamos nós. - berrou o Ken.

- Não! Quero dizer, sim. Mas para além de nós.

- Ok, estás a falar do quê? - pergunta a Stevie.

- Quando aqui chegamos, senti isso. Não estavamos sozinhos. Enquanto nadava desesperadamente para chegar a terra, senti que alguém me observava. Quando encontramos a Luísa, Bela, senti-o.

- Encontraram quem!? - exclamou a Laura.

- E quando, esta noite, ouvi o barulho, também o senti. Há alguém que nos quer aqui. Lembram-se da rapariga?

- A que estava possuída? - perguntei.

- Essa. Nenhum de vocês reparou? Ela desapareceu!

Fiquei de boca aberta. Como é que não tinha reparado!?

- Quando? - pergunta o David, atetrorizado. Puxa-me para perto dele e agarra a minha mão.

- Não sei... Só sei que acordei um dia e olhei para todos e ela não estava lá, simplesmente. Todos os dias a procurava... Mas nada!

- Isso é de loucos! - exclama a Stevei - Não consigo acreditar...

- Eu acredito... - diz a Laura.

- Como assim?

- Se calhar já vos devia ter contado, mas noutro dia, enquanto apanhava madeira, vi alguém a correr na floresta, mas não o reconheci.

- Oh, por amor de Deus, Isabela, consegues acreditar nisto? - exclama o David. Cabixbaixa, respondo:

- Sim - ele abre a boca de espanto - Também vi alguém, noutra noite, no topo da... montanha? O que é aquilo afinal... - e então parei de repente.

- Que foi? - pergunta o Gonçalo.

A gruta, o longo caminho que precorremos, a altitude do teto...

- Estamos debaixo da montanha! - grito.

- O quê?! - exclamam todos.

- Mas como é que o avião veio parar debaixo da montanha? - pergunta a Laura.

Encolho os ombros.

- Mas... E agora como saimos daqui. - pergunta o Ken após uns minutos de silêncio.

Olho em volta mais uma vez. A sala é bastante grande e, ao nível do solo, não há saídas. Mas a sala é iluminada, naturalmente iluminada, e ela tem de vir de algum lado... Observo o teto e encontro um buraco! Do tamanho de uma ameijoa...

- Isto é inútil! Estamos presos aqui para sempre com um monte de cadavéres em decomposição! - grita o Ken, voltando a vomitar.

- Controla-te, rapaz. - diz a Stevei. E, com a manga - dele - limpou o vómito da cara dele e - isto foi completamente nojeto :-P - beijou-o. Nos olhos de Laura apareceram pequenas lágrimas.

- Ok... Se já acabaram. - diz o Gonçalo.

- Certo... segundo a tua propósta, alguém troxe um avião para aqui... Não pode ter vindo por onde nós viemos, tem de haver uma entrada... De preferencia grande.

E então vejo, muito acanhado a um canto, uma saliência na parede. Corro até lá e pressiono o que se revela um botão. O chão treme enquanto a parede atrás de nós se abre, revelando a maravilhosa luz do amanhecer.

Ken corre até lá fora e atira-se para trás, caindo de costas na relva.

- Finalmente! Sinto como se tivesse voltado da outra vida. - olha para a gruta e sorri fragilmente.


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