Capítulo VII

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O "funeral" foi realizado na praia, apenas enterrando o corpo e cobrindo-o com flores amarelas. Não era muito mas... Bem, muitas pessoas comentavam que não devíam fazer isso, pois acreditavam que ela estava possuída pelo demónio. Assim, apenas alguns tinham aparecido. Os outros tinham ficado ao pé da Laura, que cuidava da menina. Esta estava a piorar, uma estranha febre tinha-a invadido, enchendo-a de suor. A rapariga murmurava palavras que ninguém conseguia entender, mas que inquietavam a Laura. Se ela começasse a delirar...
O grupo que estava no funeral voltou e juntaram-se para um pequeno almoço de peixe e fruta. Olhando para o peixe vermelho dela, Isabela sentiu-se triste, pensando nos peixes com que tinha nadado nessa manhã. Mas a fome foi maior.

O dia passou calmamente, enquanto a esperança de salvamento diminuía e todos se adaptavam à ideia de ficar ali muito, mas muito tempo. A semana já praticamente acabara mas finalmente tinham comida e água suficientes. Todos os dias se realizavam buscas, que cada vez tinham menos resultados. Não encontraram mais sobreviventes mas todos os dias encontravam malas e pedaços do avião. Bem, para além de vários cadáveres brancos. Encontraram animais selvagens na ilha, que ajudavam na tentativa de saber onde se encontravam. Até agora tinham conseguido deduzir que se encontravam algures no oceano Pacífico. O mais estranho era que, durante uma tentativa de fazer uma bússula, a agulha usada para indicar o norte ficara doida, rodando sobre si própria a grande velocidade.

*

Alguns dias depois do incidente da senhora possuída a menina finalmente começou a mostrar sinais de recuperação. A febre diminuira, conseguia dormir calamamente e por vezes abria os olhos fugasmente.

Até que um dia mais frio, enquanto todos estavam entretidos a pescar ou a caçar - graças ao Ken e à Stevei, tinham criado algumas armas primitivas - se ouviu um grito vindo do abrigo. Laura, que não largava a rapariga, tapou os ouvidos co força enquanto todos se reuniam no local. A rapariga estava plenamente acordada, mas a febre provocava-lhe dores alucinantes, que a faziam gritar desta forma. Mas finalmente alguém chegou com um pano de água fresca que puseram na testa da menina, que acalmou.

- Olá. - disse a Laura, depois de recuperar - Como te sentes?

Numa voz rouca que parecia nunca ter sido usada, a menina respondeu:

- Bem, acho eu. - olhou em volta - Onde estou? Quem são vocês? Quero a minha mamã! - choramingou.

- Shu... calma. Vamos explicar tudo, mas agora tens de descans*

- NÃO! - berrou - Já descansei o suficiente! Respondam-me!

Todos ficaram de olhos abertos, sem saber o que responder aquela menina doente e assustada. Até que David abriu caminho até à menina e, pondo as mãos nos seus ombros, respondeu numa voz calma:

- Nem nós sabemos onde estamos. Somos os passageiros do 413, que se despenhou na costa desta ilha. E a tua mãe... - hesitou.

- A minha mãe...?

- Uf, como dizer isto?!

- Morreu.

Disse isto com tal frieza que todos no abrigo congelaram. Mas a menina pareceu não se aperceber disso ou, se se apercebeu, não ligou. Levantou-se calmamente e abriu caminho por entre a multidão até à entrada do abrigo. Olhou para a multidão boquiaberta.

- Que foi? Não têm nada melhor pra fazer? Xi, gente!

Todos se admiraram, voltando de imediato às suas tarefas.

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