Corremos a avisar os outros. Todos ficaram muito entusiasmados com a ideia de irem ser salvos.
- OMG! Mal posso esperar por tomar um banho a sério!
- Só agora reparo a fome que tenho!
- Tenho tantas saudades da minha mãe...
- Mas calma... Temos de esperar que localizem o sinal, e para isso, temos de ter paciência. - disse o Gonçalo.
- Sim...
E a melancolia voltou. Esperávamos calmamente, fazendo turnos ao pé do rádio, esperando que a estática terminasse e desse lugar à voz, dizendo que nos viriam resgatar. Mas havia algo que não estava bem.
O David andava muito distante, sem razão aparente e parecia literalmente afastar-se do nosso grupinho e juntar-se à maioria. Até que um dia, em que estava pendurada de cabeça para baixo, procurando cocos ou assim, vi duas figuras numa árvore ao meu lado. Estava ao contrário à algum tempo e sentia o sangue a subir-me à cabeça, toldando-me a visão. Então endireitei-me e cheguei à ponta do ramo, para tentar ver melhor.
E então vi, num ramo da árvore, a Stevei a beijar um rapaz, que se encontrava de costas. Ela pareceu reparar em mim, mas ignorou e continuou o amasso. Porém, virou a cabeça do rapaz para mim. O rapaz em questão pareceu surpreendido por me ver e afastou a Stevei.
- Bel*
- Não! Não fales comigo, David.
Saltei da árvore, sem me preocupar com a altura, e aterrei com os dois pés, provocando um formigueiro tronco a cima. Sentia as lágrimas nos olhos, enquanto corria para a praia, tirava as calças e a camisa e, sem mais um pensamento, mergulhava nas ondas geladas, perfeitamente ciente que o meu namorado... ex-namorado se encontrava na praia, chamando o meu nome.
O frio percorria o meu corpo e inundava-o, como quando se dera o acidente. Mas desta vez não estava ferida... A não ser no coração.
Como é que ele pudera fazer isto! Depois de eu ter conseguido finalmente livrar-me da dúvida. Tinha decidido ficar com ele e esquecer as divagações da minha mente e ele agora fazia isto.
Só então reparei que estava a ficar com falta de ar e emergi, nadando até um rocha onde o mar embatia com força.
- Pareces perturbada.
Gonçalo apareceu atrás de mim, sentando-se na pedra molhada. Cheguei-me para o lado para lhe dar espaço mas escorreguei e ele agarrou o meu braço, puxando-me para o seu lado.
- Queres contar-me o que aconteceu? - perguntou. Olhei para ele e hesitei - Confia em mim.
E então contei-lhe. A pequena história do momento em que a minha vida acabou. Quando terminei, ele ficou em silêncio.
- Não vais dizer nada?! - exclamei, irritada. Não com ele, com a situação.
- Não sei o que te dizer... Não posso dizer: "Sei o que sentes", porque não sei. Não digo: "Foi melhor assim", porque sei que não foi. Acho que o que precisa agora é do silêncio e de um abraço.
E abraçou-me com força. Os nossos corpos molhados não permitiam um abraço muito caloroso, mas para mim foi o suficiente. Chorei sobre o seu ombro toda a frustração que me invadia e gritei para a espuma todas as asneiras que conhecia. Até cheguei a esmurrar a pobre pedra, mas sofri mais do que ela possa ter sofrido.
- Melhor?
- Talvez.
- Ok, agora posso dizer: FOI melhor assim. Ele não te merecia.
- O que queres dizer?
- Tu és uma pessoa espantosa que merece alguém que a proteja e não alguém que tenha de proteger.
- Isso... é tão machista. - digo. Mas depois corrijo - Mas não deixa de ser fofo.
Ele ri.
- Senti-me segura.
Ele olhou para mim com uma interrogação na face.
- Perguntaste-me o que senti durante o beijo: senti-me segura. Nos teus braços, nos teus lábios... Junto a ti.
- Ahm... Uau! Obr... Obrigado. - gaguejou. E agarrou-me o queixo para me beijar. Pus-lhe o dedo nos lábios.
- Mas... Acabei de acabar (God, isto soa tãooo mal) uma relação. Gosto de ti mas, por favor, preciso de tempo.
Ele sorri compreensivamente.
- Estarei aqui quando estiveres pronta. - e beija-me suavemente a testa.
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