Capítulo VI

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  - Bela! Isabela! Acorda... Vá lá.

  Isabela acordou com uma voz que a chamava e alguém que a abanava com muita força. Instintivamente esmurrou o corpo por cima dela, que de imediato se afastou, agarrado ao estômago. Ouviram-se risos e, ainda sonolenta, Bela levantou-se e olhou chocada para o namorado. Correu para ele e abraçou-o, desfazendo-se em desculpas. Até que o rapaz desatou a rir entre dentes e, fingindo-se magoada, Isabela deu-lhe um falso estalo na cara.

  - Parvo. - riu-se. Com este ambiente ninguém diria que à 3 dias que não comiam e que à 3 dias que não tomavam banho...

  As buscas por comida e por partes do avião ou sobreviventes começaram. Laura, Ken e Stevei ficaram destacados no grupo de procurar comida e Gonçalo, Bela e David no grupo de buscas.

 O grupo de buscas chegou à parte da praia onde a maioria dos sobreviventes tinham sido encontrados.

 - Ok, aqueles que se sentirem mais à vontade dentro de água mergulhem à procura de destroços. Não vão muito longe nem muito fundo, ok? - disse o professor António - O resto de vós de uma volta por esta zona...

 Isabela sabia nadar muito bem, mas sabia que o David nunca aprendera. Olhou para ele, esperando que ele a deixasse ir e foi com um sorriso e o rapaz acenou afirmativamente. Radiante, Bela tirou a camisola, ficando com uma t-shirt branca e com os calções pretos. Mergulhou pelas ondas furiosas do mar revolto atrás do Gonçalo. A água estava fria mas era agradável.

 Debaixo de água havia um mundo totalmente diferente, misterioso e belo. As cores dos corais coloriam o fundo marinho, carregado de peixes de várias cores, que se afastavam ao mínimo remexer do mar. A areia era branca e conseguia-se ver alguma conchas maravilhosamente únicas. Mas nenhum sinal dos destroços do avião. Fazia sentido: quando praticamente se afogara vira o avião afundar-se numa fossa abissal. Seria praticamente impossível lá chegar.

 Foi então que algo lhe chamou a atenção. Presa debaixo de uma pedra grande, uma mão branca aberta. Por pouco não perdendo o fôlego, Bela subiu à superfície e cuspiu a água com força. Avistou ao longe o professor e acenou-lhe, indicando que estava tudo bem mas que não tinha ainda encontrado nada. Voltou a mergulhar e, com todas as forças, empurrou a pedra mas esta parecia não querer sair do lugar. Avistou o Gonçalo e chamou-lhe a atenção para que ele se aproximasse. Juntos conseguiram que a pedra se afastasse e um corpo branco como o cal foi libertado e flutuou tristemente até à superfície, com os amigos atrás dele. Chegaram à superfície e, ao olhar para o corpo, Bela teve vontade de vomitar. Engoliu a bílis que ameaçava escapar.

 - Fuck! - praguejou Gonçalo, afastando o olhar e pondo a mão nos olhos de Isabela. O corpo esmagado, mutilado e pálido de Luísa flutuava à frente deles.

 - Isto é horrível, o que vamos fazer com isto?!?! - perguntou a Isabela.

 - Eu.. amh...

 Acabaram por a levar de volta ao fundo do mar, não sem antes a decorarem com um ramo de flores do mar...

 Voltaram à costa, cansados de nadar e deprimidos. Acabaram por encontrar uma mala de viagem branca, que acabaram por perceber que pertencia a uma menina pequena, que por acaso era a filha da senhora assustada que Isabela conhecera no aeroporto. Lá dentro descobriram uns livros de cifras, roupas de criança, um mp3 e bolachas de água e sal. Os outros tinham descoberto mais duas malas, com apenas alguns pães e sumos e uma janela partida. Que tristeza de dia. Mas, num lado mais sorridente:

 - Encontramos alguém! - gritou o Ken, correndo em direção ao grupo de buscas.

 - O que? Mas vocês não estão lá para a floresta?! - exclamou uma passageira.

 - Yha, mas... Chiça, venham lá!

 Todos seguiram o Ken até ao abrigo, onde um amontoado de pessoas criava um círculo em volta da Laura, que estava concentrada nalguma coisa. Uma pequena menina estava deitada no chão, com metade da cara envolta em ligaduras feitas a partir de folhas de palmeira. Com um coco de água salgada e um pau em fogo, Laura tratava as variadas feridas que a rapariga mostrava. Pelo que se conseguia perceber, ela tinha um braço partido, que Laura tinha atado a um pau, para manter o  braço direito.

 - Quem é? - perguntou o David à professora Patrícia.

 - Não é um alu*

 - Margarete!! - alguém gritou. A senhora assustada ( "tenho de parar de lhe chamar isto" pensou Isabela) abriu caminho por entre a multidão e atirou a Laura para longe, abraçando a filha adormecida com muita força. Ken correu para a Laura para a levantar.

 - Ei, minha senhora! Estou a tentar salvar a vida da sua filha! - gritou Laura.

 - Asogirep é ale, agirapar ecerapased! - gritou. Todos se assustaram, pois por aquela boca saiu mais do que uma voz, criando um ambiente perfeitamente demoníaco. Os olhos da mulher tinham virado brancos, lívidos. A multidão afastou-se no momento em que a mulher desmaiou.

*

 - Não tem pulsação, professor...  Está morta.

 - Mas como?!

 - Bem... morte súbita? Excesso de emoção...

 - Isto não faz... Uf!

 - Que devemos fazer?

 - Devíamos enterra-la?

 - Penso que é o mais correto...

 

 


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