Capítulo XV

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Voltamos ao acampamento, cansados e com fome, a cheirar água parada e morte. A roupa colara-se ao corpo mas, depois de seca, ficou rígida, devido à água salgada.

Nimguém notou que tinhamos desaparecido. Se calhar o Gonçalo tinha razão: estavam todos demasiado assustados para notar a falta de alguém. Talvez a rapariguinha se tenha afogado ou... Uau, as coisas que passam pela minha cabeça em situações de crise!

Tentamos recuperar uma mínima normalidade, mas os corpos debaixo da montanha não nos deixavam dormir descançados. Laura muitas vezes acordou aos gritos, Ken perdera a sua alegria, David apanhara a mania da perseguição, Gonçalo tinha momentos de insanidade e eu... Bem, correndo o risco de citar: "I see dead people". Todos à minha volta mudam, por breves momentos, para um aspeto pálido e detriorado. Nesses momentos corro para perto do mar e deito-me na areia. Porque sei que passa, mas também sei que volta.

Falo com as pessoas, tento perceber o que foi acontecendo enquanto estivemos fora. E descubro que, no exato dia em que voltamos, a terra estremeceu como num terramoto e uma fenda abriu-se na floresta.

Assim que soube, fui contar aos outros.

- A culpa foi nossa!? - perguntou a Stevei.

- Acho que sim...

- F***! - exclama o Ken. Ele nunca diz asneiras e por isso, olhamos todos para ele - Oh, não me julguem.

- Morreu alguém? - pergunta a Laura. Aceno afirmativamente e vêem-lhe lágrimas aos olhos - Matamos uma pessoa...

Estou quase a dizer que matámos 3, mas o Gonçalo olha para mim, com o dedo nos lábios. Shiu.

- Mostra-nos a fenda.

Levo-os até meio da floresta, onde uma fenda escura se destingue da vegetação.

- Como é que causamos isto?! - pergunta o David.

*

A noite chega e com ela a clarseza de espirito. Sentada na areia, sismo o mar, as ondas vêem e vão. Pacífico.

Alguém se senta ao meu lado, talvez o Gonçalo. Mas segura a minha mão com pouca confiança, levanta o meu queixo hesitante e o beijo que me dá pede desculpa por algo que não fez.

- Como te estás a aguentar? - pergunta o David.

- Mal... E tu?

- Melhor agora, que estou contigo.

- Oh. Que... Fofo. - digo.

- Que foi?

Tudo!

- Nada.

- A sério?

Não!

- Sim.

- Ok.

Que lhe dizer? Que me estou a passar? Que tudo aquilo em que acreditava é mentira? Oh, e já agora, porque não lhe dizer que me apaixonei pelo Gonçalo?

E que o beijei numa situação parecida com esta. E não, não foi em sonho...


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