- Noventa e oito, noventa e nove, cem! Prontos ou não, aqui vou eu.
Todos os verões, levava o Gonçalo, o Ken, o David, as gémeas e um amigo nosso da altura, o Hedgar, para a herdade dos meus avós, isolada no norte da Holanda, com uma imensa floresta negra a rodea-la. E proibida a nós, crianças.
Mas, como menina irresponsavel de 11 aninhos, não media as consequências dos meus atos e, assim que o Hedgar começou a contar, segui o Gonçalo para dentro da floresta escura. É claro que nos perdemos.
Escureceu e ninguém tinha vindo à nossa procura.
- Gonçalo! - chamei, a partir do meu esconderijo dentro da casca de uma árvore velha. Ele saltou do primeiro ramo da mesma árvore.
- Que foi, Bela?
- E se não nos vierem buscar. - disse entre lágrimas. Ele levantou-me e deu-me a mão.
- Eles vêem. - disse, sorrindo. E conduziu-me através do arboredo até uma lagoa onde costumavamos nadar. À noite, tornava-se quase mágica.
Sentei-me e molhei a ponta do pé. Um peixinho, curioso, aproximou-se da beira e fez-me cocegas no dedo.
- Olha, ele gosta de ti - comentou o Gonçalo, limpando as minhas lágrimas. Sentou-se ao pé de mim - Ainda estás com medo.
- Agora já não - disse com um sorriso.
Ele aproximou-se mais de mim e puxou-me pela cintura. Sem que pudesse fazer mais nada, beijou-me, como o David nunca fizera. Adorei, mas já nessa altura namorava com o David e afastei o Gonçalo muito depressa. Pareceu-me magoado.
- Gonçalo... Eu gosto de ti, mas não desta maneira! E sabes que eu e o David namoramos.
- Eu sei... Mas, uhm, Bela, ouve: acho que mereces melhor.
- Como ass*
- Olha, estão ali! - exclamou alguém.
Eram os meus pais e os meus avós que, alertados pelo Hedgar, tinham vindo à nossa procura.
Nunca nenhum de nós contou o que aconteceu naquela lagoa, mas eu não esqueci. E o Gonçalo também não.