Capítulo XXIX

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Elas chamam o "David" e, com uma pequena vénia, a Secilia diz:

 - A Bela decidiu ajudar-nos. Ensinamo-lhe o feitiço...

 O David limita-se a concordar com um "Unf", mas depois diz:

 - De qualquer forma, se ela não concordasse, teríamos de a obrigar. - a voz dele é tão calma que me dá arrepios e a forma como ele agarra o Gonçalo, puxando-o pelo colarinho, dá-me uma ideia de como ele me podia ter "subornado".

 - Uhm... Volto para...? - pergunta a Secilia.

 - Leva-a contigo. - diz simplesmente, apontando com a cabeça para mim.

 - Certo. Anda, Bela.

 Sigo-a até à saída, a porta gigante que faz com que a terra trema. Ela carrega no botão e caminho com ela porta fora. Assim que se fecha, sorri-o.

 - Ele é um pouco ingénuo.

 - Ele tem ouvidos em toda a ilha, mana, tem cuidado. - diz secamente. Não tenho a certeza se ela está completamente convencida desta ideia - E então, por onde queres começar?

 - Uhm, não sei, a cena dos ouvidos pode ser um problema. Ele também tem olhos em toda a ilha?

 - Uf, acho que não...

 - Ah, certo, isso deixa as coisas um pouco mais fáceis.

 E agora, como avisar toda a ilha sem que ele não nos ouça. E será que vão acreditar?

 - Já sei! Bem, tens algum feitiço de... bolha de som?

 - Isolamento? Sim, conheço um, mas não o consigo fazer.

 - Porquê?

 - Sou descendente direta da irmã do meio, a eterna juventude. Sozinha não tenho muito poder. A juventude trabalha em grupo.

 - Bonita moral. Posso ajudar?

 - Claro.

 Caminhamos até ao acampamento, enquanto ela me explica a mecânica do feitiço. Pelos vistos, o feitiço invoca uma parte da aura do que conjura o feitiço e, quanto mais forem as pessoas que a invocam, maior será a bolha. Sendo duas, deve cobrir cerca de 5 metros cúbicos... Deve ser suficiente, talvez.

 - OMG! Tu estás bem! - exclama o Ken, correndo para me abraçar. Secilia afasta-se um pouco, escondendo-se atrás de mim - Por onde andaste?

 - Longa história. Bem, por acaso não é assim tão longa. Acontece que*

 - Uhm, Bela...

 - Ah, sim. Conto-te, mas precisamos de reunir toda a gente.

 - Oh, isso não deve ser difícil... - murmura a Laura. O ar dele deixa-me preocupada.

 - Porquê? - não me responde. Em vez disso, engole em seco e coça a parte de trás do pescoço - Ken, o que se passou?

 - Bem, hoje de manhã acordamos todos e, primeiro não vos vimos, o que nos deixou aterrorizados com a possibilidade de terem morrido. Mas não encontramos os vossos corpos. E foi então que alguém passou a linha.

 - A linha que divide os acampamentos? - pergunta a Secilia. Ken ignora-a e sinto-me constrangida. Sei o que ele vai dizer a seguir.

 - Todos os do outro acampamento estavam simplesmente deitados no chão. Não se mexiam, não respiravam, nada!... Mas vocês estão aqui!

 - Sim, isso também faz parte da explicação. E então, qual é o problema?

 - Bem, pondo as coisas simples... A malta está toda a fazer um altar de sacrifício. - vejo o ar cansado do Ken, que deve ter tentado controlar a população enlouquecida. Mas há algo mais. O nariz dele está estranho e uma mancha negra começa a denotar-se, perto do olho.

 - Quem vão sacrificar? - pergunta a Secilia. Desta vez, não é ignorada. Ken afasta-me bruscamente e agarra-a pelo pescoço, com uma força surpreendente.

 - A culpa é tua! - grita, entre lágrimas e desespero.

 - Ken! Para! - exclamo, puxando-o para trás e obrigando-o a larga-la. Secilia caí, agarrada ao pescoço e a tossir.

 - Eles vão matá-la, Bela. Eles vão matar a Laura! - murmura, desfalecendo sobre o meu ombro, encharcado em lágrimas. E sangue.





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