Capítulo XXII

22 5 2
                                    

 Com a ajuda de todos os nosso "apoiantes", armadilhamos a ilha com alçapões, cordas, jaulas... Mas nada disso impediu que nessa noite desaparecesse alguém. Um homem que encontramos afogado, atirado com uma pedra para o fundo do mar.

 - Mas... que... DIABO ACONTECEU AQUI? - exclama o Gonçalo. Alguém do "outro grupo" se aproxima de nós e, de nariz empinado, afirma:

 - Enquanto tiverem entre vós uma traidora, nada do que tentarem vai funcionar.

 - Como te atreves! - exclama uma das "nossas apoiantes". Não, isto outra vez não!

 - Por favor! Acabou de MORRER alguém e vocês não querem saber?! - exclamo.

 - E porque continuam a achar que a culpa é da Laura? - diz o Gonçalo - Ela esteve connosco a noite toda.

 - Como sabes? Não estiveste a dormir? Isso é ainda MAIS suspeito. - acusa o David. A sério, agora tenho a certeza absoluta que se passa algo com ele... Se calhar é aquele "feitiço" que o Gonçalo descreve. Ele nunca antes foi tão violento.

 - Certo... Ok, sabem que mais? Isto tornou-se ridículo. Vamos mudar-nos. - afirma uma professora do nosso lado.

 - A sério? - perguntam.

 - A sério? - perguntamos.

 - Sim. Agarrem nas nossas coisas e vamos. Conseguimos perfeitamente safar-nos sem eles.

*

 Conseguimos, mas por pouco. O "outro lado" também não se safa sem nós, principalmente sem a Laura, a única pessoa que consegue tratar de feridas menores ou maiores. Mas são demasiado orgulhosos para pedir ajuda. Ou admitir que estavam errados.

 Ah, e o rádio - o rádio mesmo - desapareceu. E, como prometido, de 12 em 12 horas, alguém aparecia morto. Por muito juntos que ficássemos, por muitas armadilhas; Nada parecia funcionar. Começamos a fazer turnos, em ambos os lados, mas nada parecia funcionar. Nos dois dias seguinte, perdemos 3 pessoas e a noite que ai vinha deixava-nos ansiosos.

 Até agora, só tinham desaparecido malta do nosso lado, o que era meio estranho. Mas continuavam a acreditar que a culpa era da Laura. Mas que sentido é que isso faz?

 A noite chegou e todos nos abrigámos na cabana, barricando as entradas. Cheios de medo, aconchegados uns aos outros, fomos adormecendo lentamente. Não consegui pregar olho mas um pouco mais ao meu lado, a Laura e o Ken dormiam abraçados, com um mínimo de sorriso nos lábios.

 - Não vais dormir. - perguntou-me o Gonçalo passado algum tempo.

 - Não.

 - Nem eu.

 Aproximou-se de mim e fez um gesto para por o braço à minha volta. Pensei em recusar, mas o cansaço não me deixou. Além disso, o que precisava naquele momento era de calor humano.

 Nesse momento, algo lá fora se moveu. Levantei-me de repente, assustada.

 - O que foi?

 - Nã... Não viste? - balbuciei.

 - Negativo.

 Juntos, deixamos o lugar onde todos dormiam e saímos para a rua, fechando a porta atrás de nós. De costas voltadas um para o outro, vasculhámos a escuridão.

 - Oh! - exclama o Gonçalo. Uma negra figura avança na nossa direção, de olhos vermelhos e alto, esguio...

 - Quem é! - grito. Não responde. Uma tocha que mantemos na porta ilumina o nosso espaço enquanto a figura se aproxima da luz. É escura, mesmo iluminada e não tem uma face definida. Usa uma máscara indígena com grandes olhos e dentes gigantes.

 Rosna quando nos vê e salta muito alto, desaparecendo no céu escuro.

 - O que foi aquilo? - pergunto. O Gonçalo encolhe os ombros e parece que vai responder quando a figura cai sobre nós, rodando um machado vermelho contra nós.

 - Foge!

 - Para onde?!

 - Uhm... Para a água! Vai, vai, vai!

 Corremos o mais rápido que conseguimos, sendo que correr na areia é muito difícil. Tropeço numa pedra semi-enterrada e caio, ouvindo a figura a aproximar-se. Entro em pânico, tentando levantar-me, mas magoei o joelho e não me consigo apoiar. Gonçalo aperceber-se e correr para mim, segura-me às cavalitas e mergulha na água. A figura para.

 - O que se passou? - sussurro.

 Ao longe, atrás do mar, o sol começa a aparecer, num magnifico amanhecer. A figura baixa a arma e afastasse para a floresta.

 - O que se passou? - pergunto.

 - As doze horas passaram... Não matou ninguém, voltará ao meio-dia. E talvez mate dois.

 - Isso... é bom?

 - Não sei.

 







IlhaOnde histórias criam vida. Descubra agora