Capítulo III

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Já o avião partira à 5 horas. 5 horas num avião pode tornar-se chato, os passageiros começavam a amolecer. Já não se ouvia muitas conversas, gritos, risos. A maioria dormia. O almoço estava prestes a ser servido.

 Na cabine do piloto

 - Torre de controlo. Torre de controlo. Voo 413 tenta comunicar.

 - Já alguém responde? - perguntou o co-piloto. Já à algum tempo que tentavam contactar a torre. Algo de errado se passava com o avião, não estava a responder bem. Já não sabiam o que fazer. O piloto ligou o comunicador e, dirigindo-se aos passageiros, avisou:

  - Temos o dever de avisar os passageiros que o avião se encontra com alguns problemas técnicos. Nada de muito grave, mas devem de imediato colocar os cintos. Em bre*

 Foi interrompido por um forte solavanco que abalou todo o avião, fazendo algumas malas de mão caírem dos seus compartimentos. Alguns passageiros gritaram. Luísa e outros começaram a hiperventilar, em verdadeiro pânico. Pânico não é aquela parvoíce que se vê nos filmes, uma mulher gritando com todos os seus pulmões ao ser perseguida por um lunático de moto-serra. Pânico é um que vem do fundo das nossas almas e se apodera de todo o nosso corpo, preenchendo-o com um medo absolutamente paralisante. Não gritas, não choras, nada. Ficasse apenas ali, fixando um ponto inexistente para o comum dos mortais. É o sentimento mais primário que possuímos. Está associado ao comum medo da morte.

 David agarrou o braço de Isabela com força, dando-lhe coragem para se acalmar. Voltou a ouvir-se a voz do piloto.

  - Pedimos a todos que por favor mantenham a calma. Foi uma mudança de cor*

 Mas um solavanco. O céu parecia ter-se virado contra o pobre avião, abanando-o de todos os lados. As máscaras de oxigénio soltaram-se do teto e ouviu-se a voz do piloto a ordenar que todos as colocassem. Tinham agora perdido o total controlo e o avião perdia altitude a uma velocidade vertiginosa, com o bico virado para o céu, caindo de costas.

 Os passageiros começaram a tonturas, alguns desmaiaram por completo, sangrando um pouco do nariz devido à perda de altitude. Espalhou-se pelo avião um pensamento:

 Morri

 O que se seguiu foi muito indistinto, demasiado rápido. O avião embateu no mar com uma força tremenda, apagando todas as luzes e destruindo a traseira do avião. Juntamente com os que ai se encontravam. As janelas rebentaram e a água começou a jorrar para dentro do avião. Passageiros desesperados tentavam sair, vendo a água chegar-lhes aos joelhos. Milagrosamente conseguiram que o teto rebentasse e outra enchorrada de água os cobriu.

 Nada.



 Nada.

 Nada! Dizia uma voz na cabeça de Isabela. As forças estavam a abandona-la lentamente e sentia tanto frio. As roupas molhadas puxavam-na para o fundo do mar, para o seu destino. Para deixar de sentir frio, calor, medo... Parecia tão pacífica a morte. Mas com as forças que lhe restavam nadou. Abanando as pernas subiu até à tona da água, com muita dificuldade. Sentia a água invadir-lhe os pulmões e só desejava parar, desistir. Mas o corpo não a deixava e em breve emergiu.

 Tossiu e grandes quantidades de água saíram da sua boca, enquanto Isabela tentava voltar a respirar. Olhou em volta, procurando um descanso, mas nada encontrou a não ser o vasto oceano. Não. Havia algo mais. Ao longe, na ponta da sua capacidade de visão avistou um pedaço de areia.

 Nadou até ela, puxando pelas suas energias à muito desaparecidas e finalmente chegou. Uma ilha. Uma estenção de areia branca, tão agradavelmente quente. Deitou-se de costas, respirando o ar puro e descansando os músculos tão doridos. O cansaço foi tanto que em poucos segundo adormeceu.

 Isabela sonhou com o fundo do mar, negro, escuro, frio. E que tentava a todo o custo leva-la para junto dos outros, sem conseguir. Isabela viu com pena os seus amigos no fundo, despedindo-se dela. Adeus, diziam.

 No meio do seu sonho confuso ouviu uma voz que a chamava.

 Ainda mal começou.


 



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