Dia 6.031

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Minha mãe ainda está triste, calada, inquieta e eu não sei o que fazer, nem o que dizer.

Diferente dela, eu apenas perdi meu irmão. Ela perdeu o amor da vida dela e o filho. Meu pai tinha se separado dela quando Aif-um completou dois anos, mas eles nunca deixaram de se amar.
O motivo da separação? Eu. Meu pai achava que eu não era filho dele.

Minha mãe nunca deixou de me amar, mesmo eu sendo o motivo de quase tudo. É por isso que eu acho que deveria fazer mais por ela.

Eu não fui pro colégio pois estava com muita dor de cabeça e quando minha mãe saiu pro trabalho, tirei a mesa do café cuidadosamente. Tirei os pães e frios, olhando pra pequena janela da cozinha via toda a rua abaixo do condomínio.

Lá em baixo, na garoa e no frio de São Paulo, uma garota corria entre um poste e outro da rua, reconheci-a; a garota que corria nos cones do estacionamento da sorveteria.

Fui até a varanda para chamá-la e quando cheguei ela havia sumido novamente, por que havia uma garota que corria entre um ponto e outro em locais em que eu também estava?

Sentei no sofá, olhando a hora passar e esperando que minha cabeça parasse de latejar. Eu pensava em tanta coisa ao mesmo tempo que acabava por não pensar em nada.

Não comi, não dormi e não liguei a Tv. O que fiz foi apenas escrever antes e escrever agora.

Minha mãe chegou animada dizendo que faria frango assado com molho e batata pois receberíamos visitas de uma amiga dela que voltou da cidade, mas eu não conseguia pensar, estava tudo nublado.

A última coisa que me lembro era um rosto bem perto de mim e uma mão na minha testa.

Acordei as três da manhã e escrevi isso.

Estou transpirando, melhor ir dormir de novo,
                   Aif.


AifOnde histórias criam vida. Descubra agora