Aif

Dia 6.029

Pra começar o dia bem eu tomei um grande copo de café e fui pro colégio, apesar de não ter dormido nada a noite passada me sentia descansado, mas pertubado.

Não foi só uma menina estranha de capuz correndo na chuva que me deixou pertubado, mas também Natália. A menina que antes era linda, parecia uma deusa aos meus olhos, tinha se transformado apenas em algo ruim e insuportável.

Eu nunca fui apaixonado por ela e depois de ontem nunca seria, gostar de uma pessoa tão ruim me dava nojo. Meu irmão Aif tinha me ensinado que deveríamos tentar achar algo bom em cada pessoa, mas eu não consigo fazer isso com Natália.

No colégio, fui como se fosse a missa, calado. Tão quieto quanto pássaros na noite. Meus amigos vieram falar comigo;

-Aif, conta pra gente, como foi levar a delícia da Natália pra casa?- eles me enchiam de perguntas.

- Querem saber mesmo? Foi chato, ela é uma vaca e não quero mais me meter nessas coisas porque vocês me colocam nisso, eu prefiro ficar sozinho.

- Não iremos mais fazer isso, prometemos, Sr.Aif solitário.

Meus amigos são estranhos. Tanto quanto eu sou, claro, mas entre eles eu sou o único que uso óculos e tenho cabelo encaracolado, todos eles usam topete com gel, pomada pra acne e assistem hentai.
Fora isso, são todos muito legais e inteligentes, não somos os mais legais do colégio por falar muito de animes e games, mas também falamos de futebol e alguns de nós já tiveram namoradas.

Quando o sinal tocou, estava indo pra minha sala quando fui parada por uma mão morena com unhas grandes;

-Aif, vai me levar pra casa hoje?

Natália, com sua voz estridente e mexendo nas mechas de seu grande e armado cabelo, me olhava com seus olhos escuros a procura de uma resposta.

- Hoje não rola, tenho compromisso.

Eu não tinha, mas inventei um. Depois das aulas saí com meus amigos pra tomar sorvete de novo, o dia estava mais claro, porém ameaçava chover. Meus amigos começaram a falar sobre o espaço enquanto tomavam sorvete;

-Sim, mas o Sol é estrela maior não é?

- Eu não sei, mas sei que Plutão é órbita ou algo assim.

Interrompi: - Vocês sabiam que Plutão voltou a ser considerado planeta recentemente? Na verdade, planeta anão, mas ele pelo menos ainda é um planeta.

- Aif, você parece Plutão.

Eles disseram isso rindo, mas na hora, eu não entendi.

- Verdade, parece mesmo. É meio neutro; sempre entre o amarelo e o marrom claro. Está completamente composto por nitrogênio e é solitário e frio. Frio à uns -220°Celsius.

- Aif Plutão, o menino planeta.

- Ele não é tão grandioso pra ser uma planeta.

- Por isso é planeta anão.

Depois de longas conversas sobre o espaço e a vida, vim pra casa. Minha mãe me deu um sermão sobre como eu deveria arrumar melhor o quarto de quinze minutos e foi preparar o jantar.

Arrumei e enquanto arrumei pensava no que Nicolas, Matheus e Lucas queriam dizer, ou mostrar, se referindo a mim como Plutão.

Me perguntei ainda mais se eu realmente havia me tornado frio abaixo de zero ou se as circustâncias me deixaram assim.

Meu irmão, Aif-um, era Saturno e eu era o anel que o envolvia, quando ele se foi, talvez minha saída foi fugir e me tornar um planeta tão pequeno quanto meu próprio mundo? Se pensarmos assim, somos tão pequenos que pensar em Plutão como Planeta Anão não nos torna mais gigantes, mas nos torna superiores sobre esse planeta e na verdade sobre qualquer outro que descobrirmos e não virmos sinais de vida extraterrestre.

Isso era algo que me irritava. Por que as pessoas tinham medo de serem os únicos do espaço? Se existe algumas outras formas de vida pelo universo, nós, humanos, seríamos os últimos a saber. E os humanos também seriam os últimos a saber o motivo do não-contato.

Se dependesse de mim, não saberíamos mesmo. Estou indo dormir,
      Boa noite,

                    Aif.