Dia 6.036

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Meu tio estava batendo panela de manhã a procura de uma frigideira pra fritar ovo. Nossa frigideira estava na pia e quando disse que ele podia lavar, ele resmungou dizendo que estava com preguiça.

Ele também me convidou pra ir ver o jogo do Flamengo com ele, mas eu respondi que tinha aula. Tio Francisco era Flamenguista? Desde quando?

Fui pra escola com a caixa azul e no caminho achei-a. A dona da caixa, misteriosa planeta. Envolvida pelas estrelas e seus longos fios de cabelos; Plutão.

-E aí?

Perguntei normalmente, como quem não quer nada.

-Obrigada e me desculpe. Eu queria muito isso, mas minha mãe nunca ia comprar. Foi pra casa e ficou tudo bem?

Ia dizer que fui pego, mas se dissesse teria que explicar que paguei uma coisa que nunca mais veria, pra uma garota que mal conhecia, não só pra ela, pra mãe dela, pra minha mãe. Sei lá, algo ruim ia acontecer se eu dissesse.

-Fui e fiquei de boa. Testei ele um pouco, se tudo bem.

Ela assentiu;
-Você gostou?

-Achei incrível.

Olhava pra frenre enquanto caminhavamos, mas ouvi uma risada dela e a encarei.

-Podemos dividir ele, se quiser.

Concordei, em silêncio. Mesmo sem assunto, Plutão me encantava e tinha um magnetismo que parecia me puxar cada vez mais pra ela. Ela não é a garota que você quer conhecer pra saber a cor favorita e os filmes que gosta, ela é a garota que não tem nome. Aliás, tem um de planeta.

-Aif, como é sua família?

Estava demorando. Ela quer saber de mim o tanto que eu quero saber dela.

-Bem, atualmente eu e minha mãe. Mas meu tio arranjou uma parte do sofá pra ele.

-Hm, e seu pai?

-Ele, bem...Ele morreu.

-Entendo, deve ser díficil perder as pessoas pra morte.

- E você?

-Minha família é bem pequena, mas atualmente sou eu e minha mãe. Meu pai foi embora.

-Como assim?

-Sei lá, ele só foi embora e não voltou. Sumiu do mapa.

-Mano, que tenso. Deve ser mais díficil ver o pai ir embora do que perdê-lo pra morte.

-Também acho, assim eu não ficaria com a dúvida cruel de que ele pode voltar.

Quando olhei, tínhamos parado pois chegamos a escola. Ela parecia não estudar na minha escola, mas conhecê-la bem.

-Bom, tenho que ir, te vejo no intervalo Aif.

Ela caminhava docemente com seu grande moletom, folhas caíam no caminho, formando algo muito doce e nostálgico.

-Plutão...

Ela se virou, abaixo da árvore onde as folhas amareladas caíam.

-Eu quero o seu telefone.

Ela riu e disse;

-Pode ser que eu roube um.

Eu tinha vontade de conversar com ela vinte quatro horas, tinha vontade de tê-la perto. A garota que procurava seu lugar junto do garoto que não sabe de nada. E que usa o apelido do irmão.

Me pergunto se Aif está feliz onde está e se fica feliz por mim. Arranjei uma amiga, uma boa amiga.

Augusto, hoje eu vi um pouco mais de Plutão.
Aif.


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