Dia 6.028

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Meu nome é Antônio Ícaro Fernandes, mas me chamam de Aif.
Gosto de escrever e desabafar por isso decidi fazer isso todo dia, é melhor confiar em papéis do que em pessoas.

Meu dia de hoje foi quase como um dia comum de um garoto de dezesseis anos, a única coisa que mudou é que Natália, a menina linda e adorada por todos do colégio, me convidou pra ir tomar sorvete com os amigos dela.
Meus amigos me pressionaram e acabei aceitando, mais por eles. Não estava muito contente com o fato de ter que ficar ouvindo a voz estridente de Natália e muitas pessoas no mesmo local.
Essas são coisas que me incomodam; meninas insuportáveis e locais cheios.

Na sorveteria eu só peguei meu milk-shake de menta e me sentei ao lado de todos que tomavam sorvete alegremente num dia nublado de chuva. Meu maior erro foi ter perguntado como ia a vida de Natália, um segundo depois de perguntar eu estava arrependindo, pois recebia olhares apreensivos de todos na mesa.
Ela não parava de falar e gritava quando a interrompiam pra falar qualquer coisa, eu desviei meus olhares, ouvidos e pensamentos dela e olhei pra janela.
Todas as gotas caíam e iam escorrendo; umas rápidas, outras devagar. Naquele exato momento eu me lembrei quando eu era criança e eu apostava com meu irmão qual gota ia chegar primeiro no final da janela, quem perdia pagava uma bala. Na minha mente, apostei em uma que descia rapidamente e torcia pra que onde meu irmão estivesse, apostasse em uma também. Se é que está lá.

Augusto Ícaro Fernandes, foi a melhor pessoa que eu conheci. O melhor irmão, a pessoa que eu queria ser. Meu pai matou Augusto quando ele tinha dez anos e eu oito, depois se suicidou. Por quê? Eu não sei e ninguém sabe, mas passei muito tempo achando que ele estava apenas viajando.

Meu irmão era chamado de Aif, apelido para os três nomes, agora eu sou Aif.
Minha mãe odeia isso, por isso me chama apenas de Fernandes.

Mãe; Letícia Silva Fernandes, corretora de imóveis, solteira há oito anos.

Na sorveteria eu estava envolvido por pensamentos há muito esquecidos, no qual apenas lembrei por um breve momento e esqueci como a chuva passa. Sempre fica uma sensação estranha depois que a chuva acaba, parou de cair água, mas por que ainda a sinto em minha pele? Era isso que eu sentia.

A coisa que me tirou da tempestade de lembranças onde eu estava provavelmente foi uma garota de moletom e capuz correndo entre um cone e outro do estacionamento. Quando me viu, ela parou de correr e me olhou como se visse minha alma, após isso, apenas saiu correndo na chuva novamente.

Cada um foi pra sua própria casa e eu estava quase agradecendo a Deus, quando descubro que tenho que levar Natália até a casa dela. Chegando na porta ela tenta rapidamente roubar um beijo, mas eu desvio.
Não gosto de coisas assim, não gosto de momentos assim e não gosto de pessoas como ela, eu não disse nada, mas acho que por um breve momento ela se tocou, se afastando.Depois voltou ao seu estado natural de puta e disse:

-Até amanhã na escola, Aif.

Voltando pra casa, a única coisa que podia pensar era de colocar a cabeça no travesseiro e dormir, mas não consigo. Por que acha que estou escrevendo?

                   Aif.




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