Dia 6.065

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Meu dia começou quando estava caminhando. Não considero acordar e tomar café o começo de um dia faz um tempo.

Eu comecei caminhando. Logo eu corria. Estava irritado, irado, nervoso ao extremo e certamente descontei minha raiva em uma corrida.
Eu corri muito,mas eu tive que parar uma hora. Cansado, com sede e com dor. Com uma dor que eu não sentia antes de muita coisa.
Minha perna esquerda.

Na minha mente, imaginei meu tio falando que eu era um moleque que não tinha começado o dia com o pé direito e eu, nesse momento, concordaria.

Sentei em um banco, respirei fundo. A perna que antes estava quieta e normal, agora latejava constantemente, ela era minha dor externa.
Eu não estava mais ligando, a raiva ainda subia em mim com tantas coisas pesando. O suor e lágrimas escorriam no meu rosto.

Me levantei e forcei-me a correr. Na minha mente, aquela corrida servia pra alcançar alguém mais distante que tudo, Plutão.
Mas as vezes, pouca dessas vezes, eu não precisaria correr tanto.

Uma menina caminhava ouvindo música em um iPod velho.
Essa menina, cabisbaixa, provavelmente chorava.
Essa menina, coberta e escondida por seus moletons era uma menina comum quando se via.
Você perderia uma garota como ela na multidão ou se lembraria do rosto choroso dela?
Essa menina, com os olhos embaçados, me enxergou.
Me enxergou meio a chuva de seus próprios olhos.

Essa menina correu até mim e me abraçou. Abraçou um cara suado, dolorido e raivoso.
Minha raiva sumiu a partir daquele momento, eu tinha um mundo nos meus braços, eu tinha Plutão.
Eu não precisava de mais nada.
Abracei-a.

-Aif.

Ela dizia em meio ao choro e ao abraço. Apertei-a um pouco mais.

-Plutão.

-Por favor, fica comigo. Não me deixa.

Encostei minha mão no cabelo dela, coberto por uma toca. Acariciei levemente, olhei pro lado.
Encará-la naquele momento era pedir pra chorar junto dela.

Uma menina passou correndo, uma garota de capuz. Ela parou, observou e depois voltou a correr.

Começou a chover, uma chuva tão fina, leve e rápida quanto o tempo. Como se o universo soubesse o momento que estávamos passando.

Ela secou o rosto.

-Se acalma. O Nic me disse, aconteceu alguma coisa?

-Eu não posso te mostrar aqui.

Entramos no parque e fomos até o restaurante.

-Eu vou entrar no banheiro e depois você entra, eu...

Ela começou a chorar de novo.

-Calma, tudo bem. Não chora, por favor.

Coloquei a mão no rosto dela, secando as lágrimas que não paravam de vir.

Ela foi pro banheiro, esperei dois minutos e entrei. Fomos a uma cabina e fechamos, o lugar era pequeno e estávamos bem colados.

-Isso é engraçado. É como se quiséssemos fazer algo bem estranho aqui.

Ela riu, com o rosto vermelho e a voz rouca.
Ri junto dela.

-Não é como se não fossemos fazer algo.

Ela bateu no meu peito, ainda segurando a risada.

-Vem aqui.

Abracei ela de novo, naquela cabine de banheiro velha. Ela beijou meu queixo.

-Aif, se você ficar chocado, eu entendo. Apenas, ignore.

-Como posso ignorar o fato de que algo está acontecendo com você?

AifOnde histórias criam vida. Descubra agora