Dia 6.044

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Eu acordei, mas os meus olhos amanheceram mortos. Uma nuvem escura rodeava meu corpo, eu tinha dormido mal, chorado muito e descansado pouco.

Garotos não choram sempre, é a verdade, mas quando choram é pra valer a pena toda a dor ressentida.

Nicolas me deu um remédio e disse que logo eu me sentiria melhor, também me perguntou porque eu andava tão afastado assim com eles, calado, distante e que nem era mais perseguido por Natália, ou que os convidava pra jogar video-game.

-Nicolas, estamos apenas passando por uma fase difícil, eu e minha mãe. Quando tudo melhorar, eu explico melhor, prometo.

-Tudo bem cara, entendo, mas você sabe que pode contar com a gente.

-Ai mano, olha aí.

Lucas apontou pra mesa do refeitório em que todos estavam de um lado e Natália estava do outro com uma única amiga loirinha.

-Parece que o jogo virou, não é mesmo? Um dia da piranha, outro dia do pescador.

Lucas ria, dei um peteleco na cabeça dele e me dirigi até Natália;

-Aif.

-Oi Natália. Tudo bem?

-Sim,claro. Quer se sentar conosco?

Me sentei, no momento que me sentei reconheci a loirinha, era Camila, a garota que tinha síndrome de down, ela sorria gentilmente pra mim pegando no meu cabelo.

-Oi Aif.

-Olá Camila, como você tá?

Passei um tempo conversando com as duas sobre a cor das frutas e os instrumentos que Camila tocava, até que ela me disse:

-Você tem um destino bonito com uma mulher bonita. A mulher que muda a forma junto das estações e gira junto dos planetas.

Encarei-a. Ela falava do meu destino com Plutão? Camila era doce demais e ela agia como se visse o que eu passava, o presente, o futuro.

Caminhei um pouco no parque quando uma voz longe, uma voz doce e inconfundível me chamou, alto e claro:

-Aif!

Me virei, lá estava ela de shorts e manga de blusa comprida.

-Plutão.

Murmurei entre um sorriso.
A alguns metros de mim, ela fechou os punhos e disse alto:

-Atacar!

Ela correu até mim, pulando em meus braços me fazendo cair na grama.

Comecei a rir:

-Isso doeu? Desculpa Aif.

-Mas é claro que não, graças a grama. Você é maluca?

-Sou. Quer tentar de novo? Antes eram muitas vezes até dar certo.

Rimos mais. Ela se deitou na grama ao meu lado, ofegante, olhavámos para o mesmo céu. As nuvens cobriam a maior parte dele, o que restava, era azul com pequenos raios do Sol.
Estiquei minha mão pro alto, como se fosse alcançar o Sol que estava escondido e afastar as nuvens.
Ela colocou a mão perto da minha, alcançando o mesmo céu, demos as mãos.

-Tudo parece tão estranho.

Ela comentou fazendo carinho em minha mão.

-Por que diz isso?

-Eu não sei. Não seria estranho, apenas diferente.

Respondeu.

-Você se sente mal perto desse diferente?

-Não, eu gosto. Estou experimentando a diferença.

Ela sorriu. Ela sempre seria assim? Eu era louco por isso. Diferente. Fantástica.

-Eu também gosto do diferente.

Me aproximei dela, colamos nossas testas, nos abraçamos, um tempo depois ela beijou meu queixo e eu retribui, beijando a testa dela.

- Aif, em seus olhos, na maioria das vezes vejo uma tristeza desconhecida, algo que nunca vi antes. Como se faltasse algo que procurasse loucamente.

-Eu procuro algo, porque todos tem algo pra procurar, só não sei o quê ainda, por isso tudo se torna mais difícil. Mas toda essa tristeza, ela some quando estou com você.

Ela riu, se aconchegando um pouco mais em meus braços.

-Os dias parecem turbulentos pra nós, né?

-Sim. Eles são muito medonhos e escuros.

Cutuquei-a enquanto dizia e ela soltou uma gargalhada. Depois disso, beijou meu nariz:

-Não se preocupe, o Sol vai brilhar de novo amanhã.

Isso ficou na minha mente assim como a linda imagem daquela garota cochilando em meus braços docemente, levemente, sem preocupação.

-Brilhará Plutão, só pra que eu possa ver você de novo.

Ela não me escutou. Ela dormia, seus longos cabelos caíam no rosto e como uma criança pega no sono, o dia rapidamente acabou.

Mas o Sol brilhará novamente amanhã, não?

Aif.


AifOnde histórias criam vida. Descubra agora