Me levantei atrasado e decidi não ir, minha vontade era de que a terra me engolisse.
Dei o remédio pro meu tio e sentei na cozinha. A janelinha que via a movimentação lá embaixo, balançava com tanto vento.
Pensei em tudo que rondava na minha cabeça e como os pensamentos estavam se tornando um universo dentro de mim.
Augusto, o quê faço agora? Eu quero protegê-la, quero cuidar dela pro resto da vida, Plutão é realmente mais amada do que ela sabe.
-Nunca machuque uma garota.
Augusto e suas sábias palavras.
-Mas elas são chatas e tem piolho!
-Nem todas Antônio.Um dia você vai conhecer uma que não vai ser assim, não machuque ela.
Plutão. Natália.
O quê vocês querem comigo?Ouvi meu tio me chamando e fui até ele, virei o da cama e dei outro remédio, acompanhado com um copo de leite.
Eu só queria paz, bagucei o cabelo e bufei, recebendo um olhar preocupado de meu tio:
-Aif, está usando óculos? Está bravo?
-Estou.
Respondi os dois, sem nem pensar.
-É seu irmão? O que ele fez?
-Ah, ele. Ele é idiota e duas meninas gostam dele.
Disse como se fosse Augusto, mas não sou.
-Diga pra ele não machucar essas garotas, faça o que é bom pra todos.
Meu tio virou o copo de leite, engasgando e vomitando. O limpei e troquei a roupa dele. Logo, ele dormiu novamente.
Coloquei a fita pra rodar, a música passava lentamente. Logo que acabou, eu ia retirar, se não tivesse ouvido risadas, da fita.
" Antônio, como está?"
Era uma voz conhecida. Mas não conseguia imaginar qual.
"Achei essa fita e gostei dela porque me lembra você. Você está bem? Não se meta em encrencas e deixe sua cabeça boa. É sua dádiva."
Continuava conhecida. O ambiente me lembrava algo com muito verde, eu ouvia um riacho, pássaros e grilos. Como o sítio que meu tio ficava nas férias.
" Não pense muito com a cabeça se não vai ficar doido. Imagino que continue como quando criança, pensava em algo e nunca tirava da cabeça. Pense um pouco com o coração, preciso ir."
Era a voz de meu tio, tinha certeza. O tom estava alterado pois o local era outro. A fita finalmente acabava, apenas o chiado. Coloquei-a de novo. Dessa vez apenas a gravação e a doce voz de meu tio falando comigo, como se eu realmente fosse importante naquela hora. Como se eu fosse mesmo seu sobrinho, até algo mais.
A voz dele estava diferente agora; rouca, baixa e parecia que machuca quando ele fala.
Abri o caderno do Augusto na página seguinte da qual li, nela, vários desenhos esquisitos e palavras sem sentido.
Na outra, outra carta.
Antônio,
Como você está? Não temos conversado muito porque estamos em séries diferentes na escola. Mas você me fala sobre seus amigos e atividades de casa.
Eu quero saber se mudou muito, o Nicolas, o Matheus e o Lucas ainda são seus amigos? Espero que sim.
Vocês cinco andam bem juntos. Espero que continuem a andar todos juntos, hoje. Preciso ir,
Augusto Ícaro Fernandes.Ele escrevia uma carta por dia, esperando que no futuro eu lêsse. Talvez porque soubesse o que ia acontecer com ele. Eu leria e na minha mente, responderia pro Sol todos os dias.
Andamos todos juntos. Eu, Nicolas, Lucas e Matheus.
Reli a carta e algo batucou forte em minha mente;
"Vocês cinco andam bem juntos."Aif.
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Aif
Teen FictionEM HIATUS Eu sou Antônio Ícaro Fernandes, mas me chamam de Aif. Na verdade só me chamam assim porque meu irmão também era Aif. Bem isso que leu, ele era. Você sabia que Plutão voltou a ser um planeta recentemente?