Dia 6.068

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Moedas são pequenos objetos circulares que, quando jogados em uma fonte, se tornam pagamentos por um desejo.

Aqui se pede, aqui se paga. Por um desejo, uma moeda. Pra quem pagamos? Ninguém sabe exatamente. Uns dizem que é para Deus, outros apenas fazem isso na tentativa insensata e desesperada de conseguir o que quer a todo custo, ou a pouco custo, como uma moeda. Sem dor, sem esforço.

Uma moeda não é só uma moeda, é um sacrifício que se paga por um desejo, quem quer algo, tem que dar algo.Talvez eu tenha sacrificado muito e ainda não recebido nada de volta.

Levantei cedo e o cheiro de café pairava no ar. Minha mãe estava de pé, de pijama olhando a pequena janela com vista pra rua enquanto o café era lentamente feito.

Me sentei coçando os olhos, eu estava morrendo de sono. As músicas das fitas continuavam a soar na minha cabeça, a noite passada tinha sido horrível.

-Vai querer ir na festa de ano novo que tinha comentado? Ou quer ficar em casa?

-Podemos ir pra vó?

-Ah, filho, fomos lá no Natal, vamos na festa. Certo?

-Pode ser.

Coloquei suco no copo e o encarei. Aquilo me dava tontura.

-Ah, seu óculos vai voltar hoje.

Olhei em volta. Não enxergava avisos na geladeira e eu não notei a falta do meu próprio óculos. Que uso desde criança.

-Come pão, aqui tem queijo, presunto.

-Não tenho fome.

-Outro dia encontrei a Dona Piedade, mãe do seu colega Justo e ela disse que o filho dela dá dois de você.

-E daí?

-Fiquei incomodada com isso.Você não tem comido muito e está magro.

-Meus amigos são que nem eu, além disso, não fale com ela. Ela é louca, vivia aparecendo na escola dizendo que o filho dela era estudioso e não entendia as notas vermelhas.

-Ela disse que o filho dela é seu amigo, Fernandes.

Minha colocou o café na mesa e uma mão na cintura, esperando que eu explicasse.

-Não sou amigo dele, ele é muito babaca, mãe.

-Como assim?

-Ele vive indo em baile ficar com várias garotas ao mesmo tempo, tem gente que diz que ele vende droga.

-Tem gente que diz que você e seus amigos usam drogas.

Olhei pra ela. A pessoa que disse isso certamente foi a Dona Piedade, que certamente ouviu do Justo, que certamente viu o Lucas.

-A pessoa que disse isso não sabe nada da gente.

-Está certo, está certo.

Ela sentou, colocou o café e tomou silenciosamente. O silêncio pairava na mesa como a melhor opção para café da manhã.

Algo veio em minha mente. Algo que eu precisava responder.

-Mãe, quando eu era pequeno, tinha alguma amiga?

-Ah, claro. Eu não lembro o nome agora, mas ela vivia por aí. Teve uma vez, que vocês se perderam no parque, foi engraçado.

Plutão.

-Depois ela se mudou, parece que o pai morreu ou algo do tipo. A mãe sofreu um acidente e a filha perdeu a memória ou morreu, não me lembro bem.

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2016 ⏰

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