Dia 6.042

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Fui pra escola e não encontrei Plutão no caminho. Nem no muro, nem no caminho de volta.

Mas encontrei alguém.

-Aif.

-Natália?

-Tudo bem? Faz tempo que não te encontro normalmente.

Ela estava sorrindo, com um vestido longo, seus armados e lindos cabelos soltos e em suas mãos, sacolas de frutas, carnes, temperos e sucos.

-Estou bem sim. E você? Precisa de ajuda?

-Se não for pedir muito, pode pegar essa?

Peguei uma sacola e ela sorriu, agradecendo.

-Bom, moramos por aqui, vamos indo.

Caminhos em silêncio até a metade do caminho, decidi puxar assunto, eu não era tão chato assim a ponto de ficar ignorando-a pra sempre;

-É pra sua mãe?

-Ah, sim.Ela voltou com meu pai e decidiram fazer um super almoço.

Ela riu. Natália estava sendo doce ou era apenas mais uma de suas "pequenas" mentirinhas?

-Eu nem sabia que eles tinham brigado, parecem tão felizes juntos.

-Isso se deve porque não conversamos. De qualquer forma, espero que continue assim, os dois felizes.

Ela realmente estava sendo gentil, não ficou falando toda hora e sempre me importunando, nem gritando quando a interrompiam ou se oferecendo. Ela apenas conversava normalmente e estava certa quando dizia que eu não sabia das coisas por que não conversava com ela.

-Você está bem calma hoje.

-Apenas estou feliz, Aif. A felicidade me traz calma, de verdade, me sinto outra pessoa. Assim como as estações mudam, eu devo ter mudado.

Paramos na esquina, devolvi a sacola, ela continuou dali e eu fui pra casa.

Assim como as estações mudam, eu devo ter mudado.

Me sentia egoísta. Nunca olhei pra Natália como uma garota que pudesse mudar, mas talvez todos podemos. Eu só queria saber o motivo da mudança.
E temia que fosse eu.

Fui pra casa, minha mãe me ligou dizendo que ia passar a noite com meu tio de novo. Fiquei sozinho novamente, estava começando a me acostumar com isso.

Me lembrei de ontem, quando Plutão e eu, embaixo da chuva, sentimos saudades. Me lembrei da garota da chuva que corria entre um cone e outro. Me lembrei da doce Natália que vi hoje.

Entrei no quarto, uma luz tímida se aconchegava no local, nascendo na janela e morrendo onde minha parte da beliche começava, parecia certo. A luz sempre ia em quem deveria ir, o Sol. Aif-um.

Me sentei na minha cama, olhei pra escrivaninha. Meu caderno, a fita e um caderno preto;

De: Aif

Para: Meu irmão.

Me levantei.
Pensei antes de fazer algo.

Tomei um banho frio, me troquei e quando finalmente terminei.
Abri o caderno.

Eu preciso lê-lo,não é?
Aif.


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