Dia 6.051

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O quê dizer sobre um dia em que nada teve ligação, ou teve. Preciso pensar melhor sobre isso.

Levantei e meu tio estava na cadeira de rodas com um cobertor cobrindo suas pernas peludas e imóveis, frente a mesa do café, tomando água.

-E aí moleque...

-Oi Tio. Por quê levantou?

-Porque eu quis. Senta aqui.

Me sentei sonolento.

-Tio, lembra aquela fita que me deu? Por quê me deu ela?

-Eu não sei, tinha ela com muitas outras fitas. Comprei a maioria delas quando voltava do sítio.

-Voltava? Mas você gravou a mensagem na fita quando estava no sítio, ou era o que parecia...

-Mensagem? Eu não gravei nada disso menino.

Fui pra escola, encasquetado com a ideia de que, meu tio era a pessoa que falava na fita e ele mesmo não se lembrava. Deve ser.
Devia ser.

Na escola, Nicolas me seguiu até o muro cinza se sentando ao meu lado pra conversar:

-Vamos conversar um pouco, sobre qualquer coisa. Tudo tem ficado tão estranho entre nós, Aif.

Junto dele, Matheus e Lucas, meio bravos, talvez?
Olhando agora, vejo o quanto sou um péssimo amigo.

-Tudo bem. Então, quando vou poder ir na casa de vocês jogar?

-Sei lá, qualquer dia, desde que vá.

-Ei, como tá a Dona Lê?

Perguntou Matheus, se sentando no banco.

-Bem, ela comentou de fazer uma festa de aniversário pra mim. Ela nunca faz, mas quer fazer e convidar vocês.

-Fazer aniversário no dia vinte e quatro deve ser complicado, mesmo assim, iremos.

Lucas riu logo dizendo:

-Tem que levar presente Matheus e você sempre esquece de levar.

-Dona Lê faz aquela receita maravilhosa de frango com patê como se fosse meu presente.

Ri:
-Nossa,o cara viaja...É com molho, não patê.

Ficamos discutindo sobre lutas, comida e como seria uma festa cheia de jogos e bebidas como... energéticos.

Olhei em volta, o clima parecia como quando tudo era rotineiro. O céu estava aberto, sem vento e olhando o muro cinza e as folhas da árvore balançando, me acalmei como se tudo que eu precisasse estivesse ali e estava.

Na árvore, pulando do muro, Plutão.

-Aif.

Me levantei, meus amigos que estavam completamente descontraídos, a encararam.

-Plutão.

Sorri.

Meus amigos olhavam sem entender. Ela se aproximou, tímida, mordendo a manga do moletom.

-Ela é...Plutão?

Perguntou Matheus, me olhando como se soubesse de muitas coisas.
Quando ele leu o diário, me lembrei.

-Seu rosto é familiar.

Disse Nicolas, observando a garota.

-Ela é a causa de tudo, mas é....bonitinha.

-Ei...

O empurrei de leve, rindo.

-Quê foi, Aif? Não posso achar ela bonita?

AifOnde histórias criam vida. Descubra agora