Dia 6.059

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O dia começou, logo de manhã tropecei nas fitas que tinha deixado no chão e chutei a maioria delas pro lado. Na verdade, o dia de ontem ainda não tinha acabado.

Tudo que eu via, via-me de volta. Eu sentia como se algo estivesse acontecendo, como se nenhuma forma de ajuda pudesse vir de nenhum dos lados, imaginei que fosse, provavelmente, porque o tempo passa rápido demais, mesmo tendo sido diagnosticado com lentidão. Meu tempo não parava, não queria parar. Era um tempo em que eu achava que aconteciam coisas muito rápidas, mas é apenas o tempo acontecendo em meu próprio tempo.

Hoje foi o último dia de aula, não fizemos nada. Voltamos mais cedo. Passei de ano, obviamente.

No começo, tudo era muito claro. Eu acordava, tomava café, ia pra escola, ficava com os amigos, voltava pra casa, jogava ou fazia algo útil ou inútil, jantava, tomava banho e ia dormir. Repetidamente, os finais de semana eram com minha mãe, ou com minha mãe e meus amigos, ou em alguma festa dos meus amigos com alguma mãe deles e a supervisão da minha mãe em uma aliança criada com a mãe dos meus amigos. Repetidamente, todos os dias iguais, monótono, alguns diriam; dias normais.

Eu diria, anormais.

Cotidiano me incomoda. Pelo menos agora, mesmo que as vezes eu me sinta muito mal, que coisas ruins aconteçam, eu prefiro assim. Essa não-rotina.

Meu dia estava livre e diria que leve. Queria fazer coisas que nunca fiz, mas é mais fácil querer e falar do que realmente fazer.

-Vamos no parque?

-Hoje não Lucas, vamos fazer algo diferente.

-Shopping?

-Que isso Nic, quer fazer compras?

-Vai ficar zoando mesmo, Matheus?

-Para, para.

Falei para, mas continuei rindo, quando finalmente parei de rir estávamos parados na calçada e eu falei:

-Sugiram outra coisa.

-Parque de diversão!

Olhei pro lado, surpreso. Plutão correu em minha direção e me abraçou. Quase caí e meu joelho palpitou.

-Ai...

-Desculpa Aif, se machucou?

Ela abaixou pra examinar meu joelho, mesmo sabendo que não ia ver nada já que estava com calça jeans .

-Estou bem, juro. Que história é essa de parque de diversões?

-Poderíamos ir, tem um bem baratinho por aqui, dá pra descontrair. Mas precisaríamos pegar ônibus.

-Pra quê? Ligo pro Pedro e ele leva a gente.

Nicolas pegou o telefone e foi ligando pro namorado.

- O namorado dele tem carro?

-Sim, esqueceu? O carro que perseguimos no dia do acidente do Aif.

-Tinha esquecido, irmão.

-Você esquece tudo Lucas, aposto que nem veio de cueca.

-Claro que vim, pra esconder a propina dentro.

Eles riram e uns dez minutos depois, Pedro chegou com o carro:

-Assim, o carro é meio pequeno, entra o Nic aqui na frente, vão vocês três atrás e a garota no colo de alguém.

-Ei!

-Ou algum garoto em cima dela.

-Ela é pequena, pode machucar.

Nos olhamos.

AifOnde histórias criam vida. Descubra agora