Eu já estou cansado de acordar com ronco do meu tio. Ele tinha dito que iria embora no domingo, mas ele bebeu muito e não podia dirigir. Hoje ele pode e espero que vá.
Fui pro colégio e na hora do intervalo acabei sendo barrado por duas meninas loiras:
-A Nat quer falar com você.
Eu tive que ir e tive que escutar ela ficar reclamando o tempo todo de como eu estava ignorando-a. Fingi estar com dor de garganta e saí, andei até um canto isolado da escola.
Tinha apenas um banco e uma árvore de frente pra um muro cinza. Me sentei lá e respirei fundo, tentando me libertar das milhões de coisas que rondavam minha cabeça.
Me senti livre, como se estivesse leve e voasse, mas ainda na realidade pra não cair, imaginava como se tudo a minha volta não passasse de um longo e puro vazio.-Oi.
Abri os olhos. O puro e vazio sumiu em segundos e se transformou em nervosismo. Uma garota de shorts-jeans, meia calça e moletom azul estava em cima do muro, sentada.
-Plutão?
Era ela. A inconfundível Plutão. Moletom e os longos cabelos soltos. Seu rosto? Eu comecei a prestar mais atenção, bochechas rosadas, olhos escuros. Poderia ser uma garota comum entre uma multidão, mas eu sentia que iria reconhecê-la.
-Sou eu, Aif. Posso sentar aí?
Eu disse que sim e ela pulou do muro e se sentou ao meu lado.
-Aif, quantos anos você tem?
-Dezesseis e você?
-Também.
Olhamos o muro por um tempo. Apenas um cinza e alto muro.
-Como você pulou o muro?
-Subi a árvore do outro lado.
-Como sabia que eu estaria aqui?
Ela ficou em silêncio, mas o olhar dela me disse. Ela não sabia que eu estava aqui.
-Já vim aqui antes. É um lugar muito bom.
Ela sorriu e eu apenas sugeri;
-Seria melhor se o muro fosse colorido, com alguma paisagem.
- Eu prefiro ele cinza, nessa cor única que imaginamos o resto. Quando se tem uma paisagem completa,você fica preso nela e não imagina nada além disso.
Eu não respondi. De certa forma entendia ela, mas por outro lado, Plutão era apenas uma garota estranha, fria e distante. Exatamente como o planeta era.
-Você não sabe mesmo seu nome?
-Sempre foi Plutão. Pra minha mãe é outro nome, mas eu peço pra que ela não diga. Nomes são nomes e muitas pessoas tem um exatamente igual. Porque não me considerar um planeta?
Diferente. Fantástico. Se pensar por esse lado eu também ia querer ser um planeta. Mas fui comparado com Plutão. O mesmo quer era usado por ela.
-Quando eu era pequena, meu pai dizia que eu parecia Plutão. Ele vivia dizendo; tão perto, mas tão distante. Eu nunca entendi, até hoje. Ainda sim, gosto que me chamem dessa forma.E você, por que Aif?
-Antônio Ícaro Fernandes, mas todos da minha família diziam que por ser grande deveria transformar em algo menor. Meu pai pegou as iniciais e juntou, formando Aif, mas parece tão simples e inútil agora.
-Ainda sim, é algo que você leva pra vida. Algo que usa todos os dias, quantos Aif's você já viu no mundo?
Eu ri junto com ela, estava certo. Você não vira a esquina e encontra um Aif, muito menos uma Plutão.
- Eu procuro uma coisa muito importante Aif. Meu lugar. Todos procuram algo; amor, filhos, profissão. Eu procuro meu lugar, Plutão ainda tem um lugar, não é?Diferente dos outros, eu apenas procuro isso.
O sinal tocou e ela disse que voltaria amanhã. Eu não conseguia pensar em outra coisa além disso; o que as pessoas procuram no mundo?
Voltei pra casa, ainda pensando, não liguei pro meu Tio que não tinha ido embora e nem pra janta requentada.
Mas o que eu procuro no mundo?
Cheio de dúvidas,
Aif.
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Aif
Roman pour AdolescentsEM HIATUS Eu sou Antônio Ícaro Fernandes, mas me chamam de Aif. Na verdade só me chamam assim porque meu irmão também era Aif. Bem isso que leu, ele era. Você sabia que Plutão voltou a ser um planeta recentemente?