Dois dias depois do incidente, tive que ficar em repouso. Plutão me visitava na casa do Lucas e sim, minha mãe sequer soube disso. Lucas disse pro vô dele que eu apenas caí feio e vovô, nem um pouco desconfiado, me deixou ficar.
Minha mãe ficou tão ocupada com a venda de algum terreno pra uma família de catorze pessoas, que me deixou ficar desde que eu ajudasse nas tarefas de casa. Quando éramos menores viviamos querendo dormir na casa um do outro.
Quando melhorei, ajudei o vô do Lucas a fazer compras. Ainda andava com dificuldades e minha perna esquerda doía levemente no joelho quando eu sentava, então eu ficava apenas de pé ou deitado.
Lucas e Matheus continuaram as buscas nos dias em que eu não fui e nada. Isso não saía da minha mente, mesmo no supermercado. Plutão havia ido com a gente pra ver se estava tudo bem comigo e com vovô.
-Pegamos o quê, vô?
Ele sempre pediu pra que eu o chamasse de vô e assim foi, todos chamamos ele assim.
-Aqui, uma lista.
Colei a lista aqui embaixo:
Margarina
Peito de peru
6 pães
Papel toalha
Abacate
Pimentão
Azeite
Fomos procurar em ordem enquanto vovô ia jogar na bicho na loteria. Peguei um carrinho e Plutão pulou rapidamente pra dentro dele, ela virou o rosto enquanto eu empurrava, rindo. Peguei a margarina e coloquei no carinho, enquanto ela fingia ser uma nave espacial:
-Ativar bombas de margarina! Oh, não! Objeto indentificado à vista, nave Aif, nave Aif.
Empurrei o carrinho com uma mão e com a outra baguncei o cabelo dela e continuamos a pegar tudo.
-O quê falta?
-Sei lá, hm, pimentão e abacate.
Olhei em volta, procurando pelas frutas, legumes e vegetais e vi um garoto que provavelmente estava terminando compras que não pode terminar outro dia. Quais são as chances de encontrar uma pessoa duas vezes no mesmo lugar?
-Plutão, olha, olha... Ali, o Nicolas!
Comecei a caminhar mais rápido e minha perna começou a doer, tombei e Plutão levantou e saiu do carrinho.
-Aif, Aif...Tá tudo bem? Tá doendo muito? Eu vou chamar alguém.
Segurei a mão dela.
-Não, me deixa aqui. Eu vou levantar sozinho e... Vou ficar bem, vai lá, atrás do Nicolas.
Ela se virou e devagar, soltou minha mão, muito preocupada. De pé na minha frente, olhou em volta e logo saiu correndo. Me levantei e fiquei sentado no chão do mercado com as pernas esticadas, meu joelho latejava e eu pensava se não era melhor ter ido ao hospital no dia do acidente, sendo que foi eu quem pedi pra que não fossemos.
Me segurei em uma das prateleiras, levantando a parte direita do corpo direito e esticando a perna esquerda que doía mais que a outra. Um flashback do acidente fez minha cabeça doer.
A placa! O carro! Aif, corre!
Meu rosto e meu machucado no queixo latejaram. Minha cabeça rodava, quando finalmente levantei e me vi no supermercado, empurrei o carrinho novamente e fui com vovô no caixa. Não vi Nicolas, não vi Plutão.
Entrei no carro do vovô e fomos pro carro, fomos pra casa.
Quando quase anoitecia, Plutão chegou.
-Eu conversei com ele e ele me disse que não precisamos no preocupar porque ele está muito bem.
-Mas porque ele não vem mais pra escola? Por quê ele não tá na casa dele? Tem que ter uma resposta.
-Desculpa Aif, eu não sei. Quando disse pra ele que você foi atropelado ele pediu desculpa, em falar nisso você tá bem? Está com uma expressão assustada e pálida.
-Claro que tô né, impossível ficar normal se meu amigo é louco.
Lucas e Matheus entraram ofegantes.
-Lemos sua mensagem Aif, vocês falaram com ele?
-Eu falei, mas ele não disse nada demais, só que está bem e que não precisamos nos preocupar.
-Alguma coisa precisa explicar tudo isso. Que bosta!
-Calma Lucas.
O celular do Matheus apitou, alguém ligava.
-É a mãe dele.
Fiz um sinal e me ajeitei na cama, ele atendeu.
-Alô? Oi, Dona Bárbara tudo bem? Ah, sim, decidiu agora. Você sabe? Ah, ela sabe. Tudo bem então, mas me diz uma coisa, porque ele não tá mais morando aí? Expulso, entendi.
Ele desligou e olhou tudo como se nada fosse. Devolvemos o olhar, curiosos.
-Bom, ele foi expulso de casa pelo pai, ela está desamparada e não sabe de nada, mas tem alguém que sabe e pode nos falar.
-Quem?
- A irmã dele.
Não sei o que vamos fazer, não temos o número dela, ninguém tem.
Realmente não quero ir pra Minas Gerais,
Aif.
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Aif
Teen FictionEM HIATUS Eu sou Antônio Ícaro Fernandes, mas me chamam de Aif. Na verdade só me chamam assim porque meu irmão também era Aif. Bem isso que leu, ele era. Você sabia que Plutão voltou a ser um planeta recentemente?