Dia 6.064

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Quando o dia começou, tomamos café da manhã rapidamente, algo que minha vó disse que era entre línguas e dentes, mal engolimos e já estavámos dentro do carro.

Quando paramos na estrada, recebi uma ligação do celular do Nicolas.

-Quem é?

-Quem mais liga pra você?

Plutão.
Peguei o celular.

-Aif?

A voz dela estava doce coml sempre, mas num tom preocupado e rouco.

-Oi, Plutão, está tudo bem?

-Ah, sim. Sabe, eu queria saber como foi seu aniversário.

Eu ri.
-Foi uma bagunça, eu deveria sair com você pra algum lugar legal pa contar melhor? Quando eu voltar, vou passar bastante tempo com você pra compensar esse tempo perdido.

Ela soltou um riso baixo.

-Não foi tempo perdido, você passou com seus amigos e família.

-Sabe que minha família é meio desmontada, vamos dizer que foram apenas entre amigos muito próximos.

-Sim.

Ela ficou em silêncio e eu sentia que algo estava errado.

-Plutão?

-Hm?

-Eu sinto sua falta.

-Eu também Aif. Eu sinto muito sua falta.

-Quando eu chegar, vamos nos ver e tomar sorvete, está bem?

-Ah, podemos comer hot-dog também.

-Sim, nós podemos.

-Eu, preciso ir.Viaje com cuidado.

-Eu te amo.

Ela não pode nem responder. Apenas desligou e eu, devolvi o celular pra Nicolas.

Fui até a fonte, haviam quatro moedas. Duas estavam lá quando eu ia pra casa da minha vó e eu joguei outra. Havia uma quarta, que parecia ter sido cuidadosamente colocada em vez de jogada.

Nesse momento, algo escuro adentrou na minha mente e eu fui forçado, completamente forçado, a pedir isso:

-Mãe, vamos voltar.

-Já já estamos em casa.

-Não, precisamos voltar pra casa da Vó.

-Pra quê? Esqueceu algo lá?

-Não, mas...Precisamos voltar eu...

-Para filho, não vou voltar. Vai gastar mais dinheiro, tempo e gasolina? Voltamos outro dia, vai ter tempo ainda. Na virada do ano, mês de janeiro do ano que vem parece ser uma boa ideia. Vocês vão querer vir, meninos?

Desfoquei da conversa, a voz da minha mãe se perdia. Na minha mente, minha própria voz gritava que ano que vem seria tarde demais.

Minhas pernas vibravam, precisava sair correndo. Era muito, muito longe. Eu poderia pegar um táxi? Eu deveria?

Mãe...Eu queria te dizer o que eu sinto, que sinto que algo está errado.Mas eu não posso.

-Filho, vamos. Foi ao banheiro?

-Ah, fui, fui.

-Os meninos já estão no carro, vai querer algo antes de irmos?

Ela perguntou me encarando.

-Quero, pode me comprar um refrigerante?

-Pega ali no frezzer.

Abri o frezzer. O ar gelado batia e em mim e se tornava quente, o ar estava abafado e eu, suando.

AifOnde histórias criam vida. Descubra agora