Dia 6.037

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Não ia ter aula porque haveria uma reunião pedagógica, eu pretendia dormir muito se não fosse pelo pagode barulhento do meu tio logo de manhã.

-Porra...

Levantei emburrado, tomei um banho gelado pra me acalmar e não sair gritando umas verdades pro meu Tio. Minha mãe ligou dizendobque deixou dinheiro no quarto pra que eu almoçasse fora.

Fui pro parque e enquanto comia um hot-dog, vi Plutão andando de bicicleta.

Distraída, com os cabelos balançando junto do vento, acenei pra ela.

-Comendo um hot-dog, Aif?

Ela colocou a bicicleta em um canto e se sentou ao meu lado na grama.

-Ele já ficou um ice-dog faz tempo.

Ela riu, colocando a manga do moletom da boca. Enquanto eu fazia piadas sobre o cachorro-quente frio, víamos o movimento do parque.

-Veio passear?

Ela perguntou tirando o cabelo do rosto de uma forma muito fofa.

-Vim almoçar.

-Que tipo de pessoa vem almoçar no parque? Só almoçar!

-O tipo de pessoa que tem um tio insuportável que vive escutando blues e pagode.

Ela riu novamente;

-Bom, aí eu começo a te entender. Ninguém merece pagode.

Nessa tarde, o tempo parecia querer parar. Nos sentíamos bem na presença um do outro mesmo sem dizer uma palavra. As árvores, a terra sob nossos pés e os pássarinhos pareciam estar em sintonia conosco.

Nessa tarde, o parque foi o Universo de Plutão e Aif.
Cheguei em casa por volta das seis horas, o Sol ainda batia na janela. Iluminava bem o quarto.
E iluminava de forma bonita como se finalmente trouxesse presença pra ele. A escrivaninha, os livros, e a parte de cima da beliche ficaram alaranjados.

A pessoa que adorava tardes frescas, parques e um pôr- do-Sol bonito era Aif-um. Olhando novamente, o quarto se tornava melancólico e vazio.
Meu exemplo de vida iria gostar de ver algo assim. Sua beliche tomada pelos últimos pontos de luz do Sol.

Mais tarde, toquei o cobertor dobrado da parte de cima da beliche, que permanecia quente porque tomou Sol,mas eu prefiro imaginar que é porque o verdadeiro Aif se deitou aí essa tarde.

Pelo menos essa tarde,
Aif.


AifOnde histórias criam vida. Descubra agora