Acordei com a visão completamente embaçada e os cabelos emaranhados. Isso provavelmente foi causado por um garoto com insônia que ficou se revirando em um sofá quente até as quatro.
Me levantei meio lento e cansado, dei o remédio para meu tio que logo depois pedia café, que o médico proibiu.
Tomei um banho gelado, lavei o cabelo três vezes, passei pente fino, me esfreguei como se cortasse a pele e lavasse a alma, estava me sentindo sujo.
Saí de casa e no caminho parei pra amarrar o sapato e fui abordado.
-Aif?
A voz.
-Plutão.
Me virei sorrindo e recebi um sorriso maior ainda dela.-Como você está?
-Sei lá.
Típico dela.
-Me desculpa por ter sumido, minha mãe acha que estou usando drogas, foi díficil sair.
-Mas você não está envolvida com drogas, né?
-Só se você mudou o nome de Aif pra cigarro.
Ela riu, admitindo que estavámos envolvidos. Conversando como se não houvesse mundo em volta, chegamos na escola;
-Vou ir te ver no muro hoje.
-Mesmo? Você não foi das outras vezes.
-Mas eu vou dessa vez!Juro, assim, juradinho!
Olhei sorrindo pra ela
Que cruzou os dedos e os beijava seguidamente como se fosse sua alma jurando. Naquele momento, nessa pessoa; eu posso confiar.Eu parecia estar cada vez mais me aproximando como um imã, de um buraco negro. Era como a música da minha banda preferida dizia;
"Eu sou apenas um grão curioso que se viu dentro da órbita. Como um imã que chama os meus metais preciosos pra perto."
Como quando somos crianças e somos avisados pra não mexer em algo, mas aquilo parece precisar de nós.
Na aula, olhei meu desenho do sistema solar e circulei Plutão, de forma que ele fosse visto como mais importante.
Quando o intervalo cheguei, andei pela escola e encontrei Camila, a garota fofa com síndrome de down. Me sentei pra falar com ela e Natália logo me abordou:
-Aif, como foi o final de semana?
-Cansativo. Tive que cuidar do meu tio.
-Fiquei sabendo o que aconteceu. Qualquer coisa, pode pedir, sabe que te considero muito.
No mesmo momento, concordei calado e sem expressão. Mas minha mente ria e repetia; considerar é pouco, persegue.
Fui até o muro discretamente e vi calada, admirando muro, recebendo a luz do Sol enquantos seus cabelos voavam com o vento; Plutão.
Me aproximei, sentando ao lado dela e recebendo um sorriso de boas-vindas.Ela falava comigo sobre a escola, me cativando. Seu modo de falar e seu sorriso. Era completamente Plutão.
Conversamos sobre as aulas até que ela simplesmente comentou:
-Meus pés não tocam o chão.A encarei. Depois, lentamente, olhei os pés dela balançando a procura do chão.
Uma imagem antiga e irreal me surgiu como um clarão e uma dor de cabeça.-Os meus...Tocam.
Disse engasgado, quase mudo, apontando pro chão. Ela olhou, econstando o pé ao lado da minha perna.
-Antes aposto que não tocava.
Ela encostou a mão no banco e eu ainda mudo e hesitante, coloquei a minha por cima, entrelaçando.
-Foi real?
-Pra mim, foi. Mesmo que seja algo muito antigo...
Ela respondeu, ainda olhando o muro.
-Quem você é?
-Quem eu era, você quis dizer. Isso não tem importância.
Ela me encarou.
-Coincidência?
Devolvi o olhar, incrédulo como estou até agora.
-Foi, todas as pessoas tem coincidências na vida assim como nós, ou acha que porque você é Aif, Deus vai te dar uma trégua?
Ela dizia com um tom de piada, mas pra mim, aquilo significava muita coisa;
O dia do parque de diversões foi o dia que uma garotinha pegou na minha mão e viramos namorados.
Nesse dia, o dia do parque de diversões, eu e minha "namorada", nos perdemos.Eu lembro de luzes vermelhas. Eu não lembro de tê-la visto outra vez se não essa.
-Vocês estão bem?
Policial.
-Onde está meu pai?
Ela olhava assustada, sem largar minha mão.
-Vai ficar tudo bem. Eu te protejo.
Nos protegemos.
Um abraço. Dois abraços. Calor. Um amor que eu não sentia antes, nesse dia, meu pai desesperado me abraçou, eu segurava a mão da pequena garota, ele a abraçou junto.-Aif?
-Hm...Quê?
-Quem é ela?
Plutão me cutucou, largando minha mão. Na minha frente, Natália, com os punhos cerrados e os olhos cheios de lágrimas.
Ela teria ido pra cima de Plutão, mas eu intervi.-Quem é ela, Aif?
Plutão perguntou, assustada.
-Quem é você, sua rídicula mal vestida?
-Eu sou amiga dele!
-Então amiga dele, que fique claro!
Natália me empurrou forte contra o muro e me beijou. Fiquei de olhos abertos e tentei a empurrar, antes que ela me largasse, Plutão pulou o muro.
-Eu tenho nojo de você. Não mexa com ela e não me procure mais!
Falei, limpando a boca e cuspindo no chão. Agora, acho que foi horrível o que ela fez, o que eu fiz, mas não fiquei lá pra ver a reação dela.
Fui pra casa mais cedo, todo dia teria que ir pra dar o remédio do meu tio. Olhava pro relógio inquieto, dei o remédio. Eram sete remédios diferentes.
Bem mais tarde, o porteiro ligou dizendo que havia uma garota querendo que eu descesse algo.
Plutão.
Projetor?Desci com a caixa, incerto. Ela pegou a caixa sem olhar no meu rosto. Peguei no braço dela;
-Me desculpa, foi ela, eu realmente não queria.
-Não quero falar sobre isso, tive um dia ruim, minha mãe deve estar preocupada, já está escuro.
-O Sol brilhará amanhã.
Era o que Aif me dizia quando eu chorava de medo do escuro. Era o que eu deveria dizer pra ela.
-Depende, se as nuvens cobrirem o céu, não será tão brilhante assim.
-Mais ainda sim, vai estar lá.
Ela levantou o rosto, me olhando nos olhos, num passo rápido, levantou os pés, me beijando, doce, leve, triste.
-Vai estar sim.
Eu amo Plutão. Mesmo que seja por pouco tempo, que tudo seja rápido. Garotos são assim, mas isso que eu sinto não é só ser garoto, é amar?
Eu apenas quero que ela me perdoe, assim eu me sentiria menos culpado e poderia aliviar outras dores.
Plutão, mesmo que seja frio agora, aí onde está, o Sol brilhará amanhã,
Aif.
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Aif
Teen FictionEM HIATUS Eu sou Antônio Ícaro Fernandes, mas me chamam de Aif. Na verdade só me chamam assim porque meu irmão também era Aif. Bem isso que leu, ele era. Você sabia que Plutão voltou a ser um planeta recentemente?