Dia 6.045

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Acordei completamente dolorido, provavelmente porque dormi de mal jeito, minha escola não ia ter aula normal porque era a semana da gincana. Basicamente crianças cantando os menos hinos de guerra sobre um avião com uma mensagem e torta na cara.

Não fui, na verdade nós do segundo ano nem éramos convidados. Ia ficar deboas em casa, quando o porteiro me ligou dizendo que havia uma encomenda pra mim. Desci. Uma caixa azul, que já foi muito bem "explorada" por mim.

-Obrigadão aí, seu Zé.

Fui pra casa, coloquei a caixa na escrivaninha e vi o bilhete em cima;

Aif

-Plutão.

Repeti em voz alta, sorrindo pra mim mesmo no quarto.

Vamos dividir, é a sua vez de usá-lo, mas não se esqueça de devolver, ou levará um super ataque novamente.

P.

Guardei o bilhete em uma gaveta vazia da escrivaninha, junto dele, uma fita e um caderno preto com letras desgastadas. O tirei e deixei ao lado do meu caderno, as palavras, quando olhadas por mim, vibravam;

De: Aif

Para: Meu irmão.

Mas eu iria deixar lá, fechado.

Nicolas me mandou uma mensagem dizendo que ia passar na casa do Lucas e vir direto pra minha casa, pra descontraírmos e jogarmos um pouco de Diablo.
Ficamos jogando a tarde inteira enquanto víamos piadas velhas de gente escrevendo errado na internet, até que paramos e ficamos conversando;

-Que vida maluca....

Lucas falou, rodando a bola de basquete com a mão.

-Não mais que a do Aif.

Eles riram e começaram com dois assuntos velhos, apenas um me interessava um pouco;

-A Natália já desistiu de você Sr.Aif solitário que apenas pensa em ser um planeta anão?

-Chegou uma nave pra tirar fotos de Plutão bem de perto e descobriram que Plutão tem quase que um sistema de luas em volta dele.

-Quem liga? Queremos saber da Nat..

Matheus riu, se apoiando na escrivaninha, quando sua mão escorregou,derrubando algo importante.

-Olha só, um diário.

-Deixa aí Matheus.

Disse.

-Vamos ver...

-Deixa.

Repeti.

-Hm... as confissões que o Sr. Solitário guarda, hm....Natália....

Ele ria. Me levantei e o empurrei fortemente contra a parede, dando um soco em seu queixo.

-Eu disse pra deixar ali, caralho!

-Calma cara, era só uma brincadeira.

Disse Lucas, se levantando e indo ajudar Matheus que começou a sangrar. Nicolas foi mais compreensivo, depois que o Matheus e o Lucas se foram ele apenas me olhou e disse:

-Você não tá bem mano, mas eu entendo você.

-Obrigado Nicolas.

-Sério, esse seu diário deve ser importante, são suas coisas lá dentro e ele não deveria ter mexido.

Concordei em silêncio, olhando pra baixo arrependido do que fiz.

-Você saiu do controle aquela hora, Aif.

-Eu sei, desculpa cara, eu entendi que errei em bater nele.

Olhei pra ele com uma feição séria que me devolveu, preocupado.

-Eu não disse isso. Não foi errado. É só que, eu não te vejo chorar desde os nove anos.

Nicolas disse que voltava outro dia, até tudo se acalmar. Eu não tinha percebido, mas chorei na frente deles enquanto bati no Matheus, isso tudo porque as lágrimas fluem como as gotas de uma chuva passageira, que passam despercebidas se não há alguém pra se molhar.

Eu não tenho muitos problemas, tem gente numa situação muito pior que eu e tentar ser otimista foi uma opção pra me livrar desse vazio.

Nicolas estava certo, eu nunca chorei no ombro deles, nunca pedi ajuda e acho que ainda não era hora. É só que, Matheus não deveria ter mexido nas minhas coisas, mesmo que elas não sejam exatamente minhas.

Se fosse o meu caderno, não haveriam problemas.

Aif.



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