Camila POV.
- A aluna Dinah Jane Hansen, favor comparecer à diretoria. – uma voz estridente e metálica cruzou toda a extensão do jardim pelos auto-falantes e todos ao nosso redor viraram em nossa direção para nos olhar.
Virei o rosto para Dinah, que olhou em meus olhos com uma expressão de pânico. Engoli o nó que se formou em minha garganta e a vi fazer o mesmo. Dei um último olhar tenso para ela antes de ela se levantar do lugar em que estávamos sentadas e seguir em direção a onde havia sido chamada. Eu murmurei "boa sorte" e ela sorriu tristemente para mim antes de sumir de vista. Virei para Ally e a baixinha tinha o mesmo olhar medroso que o meu.
- Ele a viu colando, não foi?
- Provavelmente. – respondi em um só suspiro. Dinah levaria talvez a sua décima repreensão por ter colado em uma prova. Você pode achar que isso era muito, mas considerando o número de vezes em que essa garota de fato colava em provas e nunca era pega, você se surpreenderia com a sua habilidade para tanto. O problema era que essas repreensões ficavam gravadas em nosso histórico escolar e, junto com elas, uma espécie de castigo era aplicada. A cada vez, um diferente e, provavelmente, pior que o último.
Esperamos em silêncio até que o sinal para o fim do intervalo batesse novamente e, então, voltamos cada uma para nossas respectivas aulas. A tarde passou de forma rápida depois daquele saco de prova e do incidente com a Dinah. Ela não voltou pra sala de aula durante todo o resto do dia e eu imaginei que ela já devia estar cumprindo o seu castigo. Encontrei com Ally novamente no fim da última aula e segui com ela para nosso dormitório, me jogando pesadamente sobre a cama assim que entramos no cômodo.
- Deus do céu. Eu nem acredito que hoje ainda é segunda-feira. – exclamei, me espreguiçando preguiçosamente sobre o edredom.
- Imagina só como as coisas tão pra mim. Eu não voltei pra casa nesse fim de semana, lembra? – Ally disse, tirando o uniforme. Olhei pra ela com uma expressão de dó.
- É verdade. Em compensação, meu fim de semana em casa passou como se tivesse durado dez minutos, de tão rápido. Aliás, seus pais tão bem, Ally?
- Sim. Falei com eles hoje de manhã por telefone. – ela respondeu, encerrando o assunto. Não continuei porque sabia como era difícil pra Ally encarar a falta que ela sentia dos pais. Os dois eram médicos e mais viviam viajando o mundo oferecendo serviços voluntários do que dando atenção a ela em casa. Era uma atitude muito nobre, mas fazia com que Ally raramente os visse.
A baixinha terminou de retirar todo o uniforme e pegou uma das toalhas limpas dentro de seu armário.
- To indo tomar um banho, Mila. Você nem se atreva a dormir de uniforme, eu sei muito bem o que você tá pensando. – ela disse, de repente adotando um tom ameaçador. Olhei em sua direção, erguendo a cabeça alguns centímetros e fiz minha melhor expressão inocente.
- Ei, eu nem considerei isso!
- Sei. Você é preguiçosa demais, por Deus! – ela exclamou, entrando no banheiro e fechando a porta atrás de si. Deitei a cabeça novamente sobre a cama e sorri. Eu era mesmo preguiçosa demais. Por mim, não tomaria banho nunca. Na verdade, se pudesse, inventaria alguma saída tecnológica ou algo do gênero que nos permitisse ficarmos limpos sem termos que passar por todo o esforço de levantar, tirar as roupas, entrar embaixo de um chuveiro e nos lavar inteirinhos. Só de pensar em fazer tudo isso depois de um dia chato e cansativo como o de hoje, já me dava vontade de virar pro outro lado e simplesmente dormir. No mesmo instante me lembrei de Dinah e esbugalhei os olhos. Rapidamente me sentei na cama, enfiando a mão em um dos bolsos da saia do uniforme e sacando meu celular. Pressionei seu nome na tela e mandei-lhe uma mensagem, perguntando onde ela estava. A menina já tinha ficado por muito tempo no tal do castigo, não é possível que a detenção ainda não tivesse acabado. Alguns segundos se passaram e logo recebi uma resposta sua, dizendo para eu ir até a biblioteca.
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O Internato
RomanceNão havia no país um colégio interno melhor conceituado do que o Internato Jauregui. As famílias, evidentemente poderosas, que, por uma velha tradição, faziam questão de matricularem seus herdeiros lá, dispunham de uma parcela bastante considerável...